O tamanho de uma cena pode ser medido com precisão a partir de quão inserida a música eletrônica está na vida normal de uma cidade ou região. Uma das coisas que mais me impactaram positivamente quando eu, uma criança do interior, vim morar no litoral de Santa Catarina, foi exatamente isso: como a cena eletrônica era algo extremamente difundido na sociedade. Meus amigos da época no ensino fundamental, escutavam Skazi quando se encontravam. Mas claro, não para por aí.
Você pode ouvir House Music tocando naturalmente em academias, restaurantes, praias. Este impacto é observado até no Mega Funk, variação catarinense do Funk carioca, que é uma mistura de músicas do estilo turbinada com batidas eletrônicas. Tudo isso convergiu para que há mais de duas décadas, uma cena club consistente e sólida se consolidasse por aqui, com marcas que são referências a nível global. Warung, Greenvalley, El Fortin e outras iniciativas desenvolveram um papel fundamental na cena da região, que há muito tempo figura entre as mais profissionais e fortes do país e tem seu alicerce principal justamente nesta proposta de superclub.
No fim de 2021 surgiu uma novidade, o Surreal Park, que já falamos por aqui algumas vezes. Liderado por Renato Ratier, o club tem conseguido explorar na região uma proposta de evento, temáticas e formatação de pistas que abrem novas possibilidades em relação às já existentes. A atmosfera de festival somada a possibilidade de dentro de um só espaço o público ter acesso a 5 diferentes palcos, sem dúvidas exerce um papel muito positivo para que esta cena já consolidada continue a se desenvolver. Isso porque o impacto não se dá somente no público, mas também na classe artística, visto que o Surreal tem o potencial de oferecer narrativas musicais que vão do Minimal ao Psy.
Na última sexta (11), o club inaugurou o que pode ser considerado o seu mainstage, a nova versão da pista Ritual, inspirada no álbum de Ratier que recebeu o mesmo nome. Com capacidade para cerca de 12 mil pessoas, o projeto impressiona pela imponência e grandiosidade no contraste de materiais orgânicos e tecnologia de ponta. O espaço foi construído para receber atrações que são tidas como headliners nos principais festivais e clubs do mundo, o que, por si só, deve gerar um histórico de pista muito relevante para toda a região.
Enquanto projeto, a inauguração do Ritual oferece uma continuidade coerente da proposta do club de seguir ampliando as possibilidades que a cena de Santa Catarina pode alcançar. Em um mercado consolidado como este, você pode fazer análises sobre o melhor e o maior, mas, muito além disso, a inovação (incluindo aqui a artística) é um dos catalisadores principais para que club e comunidade se desenvolvam de maneira sustentável, possibilitando, inclusive, o surgimento e evolução de novos artistas e iniciativas profissionais voltadas à música eletrônica.