A busca por sons cada vez mais realistas e imersivos levou ao surgimento do Dolby Atmos, uma tecnologia de som “3D” que, durante certo tempo, ficou restrita apenas ao cinema. Mas o que talvez você ainda não tenha percebido é como ela está ganhando espaço (literalmente) no universo da música eletrônica e começando a transformar a forma como ouvimos e sentimos o som — até já produzimos este editorial falando sobre o assunto.
A tecnologia foi introduzida ao público pela primeira vez em 2012 com o filme Valente, da Pixar, mas aos poucos saiu do universo do cinema para chegar às pistas e, também, aos nossos fones de ouvido. Ao contrário do estéreo tradicional (dois canais), o Atmos permite uma configuração imersiva de até 128 caixas de som, tratando cada elemento como um objeto independente que pode ser posicionado num espaço tridimensional. Em outras palavras, em vez de simplesmente ouvir “esquerda” e “direita”, somos envolvidos por completo — inclusive com efeitos vindo de cima e de baixo.

É como se, em vez de apenas escutar uma faixa, você entrasse nela. O baixo parece vibrar no peito, o vocal sussurra mais perto do ouvido, e detalhes que antes passavam despercebidos agora passeiam por todo o ambiente. O resultado é uma imersão completa: a velha sensação de um mundo sonoro plano evolui para um ambiente esférico, onde o ouvinte se sente rodeado pela música. Até mesmo detalhes sutis ganham vida, dando a impressão de que estamos realmente dentro dela.
Clubs e estúdios em todo o mundo estão experimentando o formato, a exemplo do Ministry of Sound (Londres) que foi pioneiro e instalou 60 alto-falantes Atmos por todo o seu espaço, abordagem já testada também por Sander van Doorn, que em 2019 fez um evento chamado Purple Haze in Dolby Atmos durante o Amsterdam Dance Event (ADE). No Brasil, estúdios de ponta como o ANZ Immersive (liderado pelos engenheiros André Zabeu e Clement Zular) passaram a operar com sistemas Atmos 7.1, convidando artistas consagrados como Gui Boratto para gravações imersivas.
A gravadora Zero Gravity Music Group também aparece como uma das pioneiras neste contexto. Seu estúdio de pós-produção, Vortex Immersive, é oficialmente recomendado pela Dolby Atmos, o que significa que cada mix ali produzida já nasce em áudio espacial. O fundador Zeo Guinle, veterano com 25 anos de carreira eletrônica, dirigiu a Vortex e agora comanda a Zero Gravity, transformando-a em um núcleo de inovação em áudio. O selo mescla arte com tecnologia de ponta para criar “produtos fonográficos imersivos”, com o Atmos no centro do processo.
E foi a partir disso que nasceu o novo EP de Majoness, I Got It, que chegou oficialmente nas principais plataformas no último dia 21 de novembro. O trabalho, pensado especialmente para as pistas, traz groove do house com texturas densas, basslines potentes, atmosferas imersivas e, claro, a profundidade única do Dolby Atmos. “O público vai perceber uma diferença muito clara ao ouvir o EP em Dolby Atmos. Dá pra sentir o groove, as texturas e os detalhes de uma forma muito mais viva”, afirma o produtor.
Majoness diz ainda que esse formato permitiu a ele explorar novas dimensões dentro da sua estética, levando sua identidade para um território mais moderno e sofisticado, sem perder a essência do som que lhe representa. “É um passo importante na evolução do meu som e na forma como quero que as pessoas experimentem minha música. Quando a inovação tecnológica é usada com propósito, ela não substitui a criatividade — ela amplia as possibilidades de expressão”, adiciona.
A boa notícia para DJs e fãs é que o Atmos não ficou restrito ao estúdio. Serviços de streaming já incorporaram a tecnologia: plataformas como Apple Music e Tidal disponibilizam faixas em Dolby Atmos, ampliando o acesso à experiência imersiva. A própria Apple lançou o Spatial Audio (que usa Atmos) sem custo adicional para assinantes, facilitando que qualquer um “sinta o som ao seu redor” utilizando fones de ouvido.
Para os produtores, isso significa que parte do público pode vivenciar em casa a mesma espacialidade criada na mixagem ou na pista. Como resume poeticamente a Zero Gravity Music, “o estéreo nos deu a paisagem, o áudio espacial nos convida a entrar nela”, sinalizando que agora somos convidados a imergir completamente no som que os artistas criam.