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A música conecta

Conversation | Fernando Moreno [SmartBiz] + Vitalic

Entre centenas de shows, dezenas de turnês e alguns bons afters, o francês Pascal Arbez aka Vitalic rodou pelos quatro cantos do mundo apresentando sua identidade sonora enérgica e inovadora dentro do que conhecemos como Electroclash. Por aqui pelo Brasil, suas passagens aconteceram graças ao trabalho da SmartBiz, agência de bookings com mais de 20 anos de trajetória capitaneada por Fernando Moreno. Há vários outros ícones da música eletrônica no casting de artistas da Sbiz, como Laurent Garnier, Miss  Kittin, Christian Smith, mas foi com Vitalic que Fernando acabou criando uma amizade que vai muito além dos palcos.

Na conversa abaixo, eles compartilharam um pouco de suas últimas memórias quando estiveram juntos — tanto na França como no Brasil — falaram sobre estilos musicais favoritos, uma possível turnê de Miss Kittin e The Hacker aqui no país e muito mais. Escuta plantada, é hora de ouvir o papo dessas duas figuras tão importantes pra cena da música eletrônica.

Fernando Moreno: Pascal! Já faz alguns meses que não nos falamos… nosso último encontro foi em Paris dia 09 de março e, quem diria, o mundo parou e mudou completamente na semana seguinte, inclusive com o cancelamento da sua turnê no Brasil marcada para o fim daquele mês. Você ficou em Paris ou passou a quarentena em algum outro lugar? Como isso tudo te afetou e como você vê o futuro?

Vitalic: Sim, fiquei tão desapontado por cancelar essa última viagem ao Brasil… Tenho uma casa no sul da França, em uma região vinícola e remota. Passei o verão lá e voltei para Paris apenas há algumas semanas. Tendo em vista que tenho viajado toda semana durante os últimos 20 anos, foi uma grande mudança na minha vida. Acho que poderemos tocar novamente por volta de março, até lá estarei trabalhando no estúdio e me preparando para o retorno dos clubes e festas.

E você, o que fez durante o lockdown? Você ficou em São Paulo? 

Fernando: Passei a maior parte do tempo em São Paulo, mas também fui algumas vezes a um lugar especial no litoral norte de São Paulo. Também foi uma grande mudança na minha vida e eu aproveitei o tempo livre para me reconectar com meus familiares, com a natureza e fazer novas descobertas.

Voltando no tempo, eu me lembro da primeira vez que você veio, foi uma festa no Lov.e, logo após o lançamento de Poney EP, e o sucesso foi tão grande que fizemos mais um evento surpresa com o pessoal da Circuito. Você se lembra dessas festas?

Vitalic: Claro que lembro! Imagine um garoto do interior de um vilarejo pequeno na França chegando em São Paulo pela primeira vez? Foi como um sonho. As festas foram incríveis, todas as pessoas muito legais e enlouquecendo com a música. Eu diria que está entre as melhores lembranças da minha carreira. 

Você foi uma das figuras importantes na introdução da música francesa no Brasil no começo dos anos 2000. Como era a cena no Brasil antes disso? Como é agora? 

Fernando: Bom saber que você guarda em um lugar especial no seu “livro das melhores lembranças da carreira” [risos]. Da minha parte, eu diria que começamos a ter uma cena real em meados dos anos 90, embora ainda pequena. Naquela época, éramos um bando de pessoas tentando desenvolver e conectar a cena com o resto do mundo e acho que fizemos – e ainda estamos fazendo – nosso trabalho, nesse sentido. A cena aqui está bem grande agora, fico contente em dizer que há nosso DNA nela, de alguma forma. 

Entre tantos momentos que passamos, lembro daquela tempestade tropical que nos apanhou na rua durante a Parada da Paz em São Paulo e tivemos que pular dentro do primeiro ônibus que passou, para nos abrigar. Você se recorda disso? Tem alguma memória marcante do Brasil fora dos palcos?

Vitalic: Nunca vi uma tempestade daquelas. Foi lendário [risos]. Estávamos todos dançando nos trios-elétricos e em dois minutos a cidade estava alagada. Além disso, talvez você se lembre, tivemos que nos proteger de todos os fios elétricos da rua. Tenho muitas lembranças divertidas no Brasil, pois muitas vezes sou convidado para festas onde conheço pessoas. Lembro de pessoas descontroladas nos camarins do Lov.e e também de inúmeras after-parties. Cuiabá também é muito especial para momentos fora dos palcos.

Fernando: Eu tinha me esquecido dos cabos elétricos. Parece algo perigoso agora! [risos].  Tenho muitas lembranças, mas a primeira que surge: o after na minha casa na sua primeira vez no Brasil com algumas pessoas do staff do Lov.e e da SmartBiz. Temos fotos! 

Vitalic: Agora, já que falamos de  São Paulo… o que você mais gosta de fazer em Paris quando você vem nos visitar? Qual foi o motivo da sua última viagem? O seu sonho se tornou realidade? 

Fernando: Como você disse, eu estou muito conectado com a música eletrônica francesa desde o início dos anos 2000, portanto, conheço muitas pessoas do mercado e tenho proximidade com algumas delas, especialmente em Paris, cidade que eu amo ! Minha última visita era pra ser romântica e um dos principais motivos era o show da Madonna no Le Grand Rex da turnê Madam X. Infelizmente o show foi cancelado por causa do corona vírus… mas tivemos sorte que pudemos fazer várias coisas na cidade antes de tudo ser fechado, tivemos que ir embora logo em seguida…

Uma surpresa que me marcou e eu não sabia até te conhecer, era que você também estava por trás do projeto Dima – e o remix que você fez para Fadin Away do The Hacker era um hit aqui – inclusive é a trilha sonora do curta metragem chamado Um Domingo Qualquer, que retratava as afters parties que rolavam nos final dos 90, início dos 2000, aos domingos, especialmente pelas pessoas que faziam e frequentavam o Hell’s club. Você sabia disso?

Vitalic: Não, eu não sabia disso. Tenho um certo carinho por esse remix porque foi a passagem do meu projeto Dima para Vitalic, um momento importante de certa forma.

Fernando: Além do Dima, você sempre está envolvido em projetos paralelos, como o Hustler Pornostar, The Silures, Vital Ferox e agora o Kompromat. Você gosta de estar envolvido em novas collabs? Alguma novidade a caminho? 

Vitalic: Crio um novo projeto quando sinto a necessidade de testar novas coisas. Kompromat faz sucesso aqui na França. É mais uma banda de Rock / Pós-Punk do que um projeto de Techno. No momento nenhum novo projeto à vista, pois estou me concentrando no próximo álbum do Vitalic.

Miss Kittin e The Hacker estão prestes a lançar um novo LP.  Que tal a ideia de agendar uma turnê com o time francês do seu casting. O que você acha disso?

Fernando: Sim, a Kittin me contou sobre o novo álbum e estou ansioso para ouvir! A turnê parece uma ótima ideia, temos tempo para planejar enquanto o mundo ainda volta aos trilhos. Fizemos algo parecido algumas vezes, a  ‘invasão francesa’, com The Hacker, David Carretta e Fixmer McCarthy. Também tivemos algumas ações com o pessoal da Fcom (selo de música eletrônica francesa comandado pelo Laurent Garnier).

Fernando: Uma vez você me disse que não gostava de House Music e eu levei muito a sério. Como você tem um humor bastante peculiar, até que ponto isso era verdade? 

Vitalic: Bom… Gosto de Disco, mas não sou louco por House Music. Não sei porque, já que são quase estilos irmãos. Isso é um problema pra você? Enfraquece nossa amizade? Gosto de música que me comove, que tenha algo de especial, que me incomode às vezes!  É mais uma questão de profundidade do que de gênero musical.

Fernando: Não, na verdade tornou nossa amizade mais forte, pois eu precisava me aproximar para entender por que [risos].

Vitalic: Qual o seu gênero preferido? House? Electroclash?

Fernando: Não tenho uma preferência por gêneros. Depende do humor. As vezes estou mais para o Techno, às vezes para House. Mas gosto de mixar tudo junto. Electroclash tem um espaço especial no meu coração, mas acho que está mais relacionado a tudo que vi e vivi do que à música.

Por aqui você já tocou em festivais como Terra, Rock in Rio e Kaballah, e também tivemos noites memoráveis em cidades como Cuiabá (onde você tem uma imensa base de fãs), Belo Horizonte ou mesmo Bogotá. Alguma apresentação te marcou?

Vitalic: Entre as boas lembranças, está a primeira vez em Cuiabá, as pessoas enlouqueceram durante a apresentação. A viagem Dijon – Cuiabá é bastante longa, senti que estava do outro lado do mundo – o que  é verdade. Lembro que no club no Rio as pessoas não entendiam que eu estava fazendo um live – e não DJ set – então ficaram chateadas porque foi um show curto. De qualquer forma é melhor assim do que reclamar de um show ruim. 

Fernando: Verdade! Esqueci completamente dessa situação no Rio! 

Vitalic: Você tem alguma explicação para o fato de que eu tenho uma grande base de fãs em Cuiabá? É engraçado e prazeroso, com certeza! 

Fernando: Acho que tudo começou com La Rock, que foi grandiosa – como em todo lugar – e as pessoas ficaram enlouquecidas que o “criador’’ de um mega hit  estava chegando na cidade. No fim das contas, foi uma combinação do momento certo com o bom trabalho dos promoters, um live act poderoso e um público incrível. Assim se tornou algo mágico!

Fernando: Uma vez em Paris, fomos a uma exposição e depois você me mostrou seu estúdio, na época estava finalizando a Hans Is Driving, com a Miss Kittin, que eu amei!

O que vem primeiro? Disco, Ítalo ou glitter,  como influências no seu trabalho?

Vitalic: Tinha acabado de terminar aquela música com a Miss Kittin e mostrei para você após nosso jantar. Meu gosto por glitter veio depois! [risos] Gostava muito de Techno puro no começo, e quando o Daft Punk explodiu e eu entendi que isso era muito mais interessante. Desde criança, adoro esse Disco-dark feito com sintetizadores, como Giorgio Moroder nos anos 70. Italo é especial porque mistura emoções, como dançar com melancolia, isso me toca. 

Após aquele jantar em Paris, fomos ao meu estúdio, toquei aquela demo… e fomos para aquela festa La Madame Claude. Você lembra? 

Fernando: Agora eu lembro!  E depois fomos para outra festa, era uma espécie de galpão com público mais jovem. Ou talvez isso tenha acontecido outro dia… não sei ao certo… Aliás, eu adoro o remix que você fez para Who is it?, da Bjork, e Visions, do Slam. Você já fez remixes para muitos artistas, de Moby a Royksopp e Paul Kalkbrenner. Há algum novo a caminho? 

Vitalic: Não há nada a caminho, pois só faço remixes quando termino o álbum e posso focar em algo diferente. Quando trabalho em um álbum, só faço isso por dois anos. 

Nos encontraremos novamente no Angélica Grill ou Rodeio para almoçar na próxima vez no Brasil? Devemos tentar um novo local ou você acha que é bom manter a tradição? 

Fernando: Acho que é divertido manter algumas tradições [risos]. Mas também é bom explorar novos locais. Esse é o tempero da vida e nunca é tarde! <3

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