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A música conecta

10 marcos do cenário musical alternativo nos últimos 10 anos

Por Ágatha Prado em Editorial 27.05.2022

Em colaboração com Isabela Junqueira*

Você já parou para pensar, como era sua vida há 10 anos? Ou melhor, há 10 anos, você imaginava como e onde estaria hoje? No ritmo frenético que encontra-se a humanidade, 10 anos é tempo suficiente para abranger enormes transformações, tendo em vista o avanço da tecnologia, a rapidez em que as informações circulam e o processo de construção ativa que rodeia os quatro cantos do mundo. 

Nossa história começou no ano de 2012, e ao longo dessa última década até aqui, presenciamos e vivemos um volume gigante de acontecimentos que marcaram a (re)evolução do nosso cenário musical, em termos nacionais e mundiais. Poderíamos gastar horas e dias traçando uma linha temporal, datando cada fato especial que contribuíram para nosso crescimento e que, ao mesmo tempo, fomos convocados a desafiar de forma coletiva. Porém decidimos eleger 10 fatos históricos do cenário musical, que remontam de forma especial essa última década.

Estabelecimento de festivais internacionais no cenário nacional 

Não há como dizer que a cena brasileira não era efervescente nos anos anteriores à 2012. Festivais como Universo Paralello, XXXperience, Skol Beats, TribalTech e Kaballah, já rufavam seus tambores de norte a sul do país, conectando o público com a essência da música eletrônica e da cultura alternativa. Porém, o intercâmbio cultural que integrou o Brasil na rota dos grandes eventos mundiais, consagra-se exatamente há 10 anos, com a vinda do Lollapalooza em terras tupiniquins. O festival abriu portas para uma jornada promissora de eventos internacionais de grande porte, com o cenário eletrônico sendo coroado com o estabelecimento de festivais do calibre do belga Tomorrowland em 2015, Dekmantel e DGTL em 2017, Time Warp em 2018 e a mais recente chegada no Primavera Sound, neste 2022.

Fortalecimento dos coletivos independentes 

Entre alguns acontecimentos que serviram como verdadeiros divisores de águas para o estabelecimento de uma cena plural, potente e agregadora de diversas propostas, o fortalecimento de coletivos à nível nacional certamente foi um deles. Nos últimos 10 anos tivemos a chance de observar o desabrochar de núcleos independentes que se fortaleceram através da identificação promovida por meio de uma estética acurada. Assim surgiram coletivos como 101Ø (Belo Horizonte), 1992 (Fortaleza), Carlos Capslock (São Paulo), Discoteca ODARA (Curitiba), Phobia Project (Blumenau), entre incontáveis outros que agregam à cena o tom múltiplo.

Audiovisual e performances corporais como parte da experiência

Entre os aspectos que se desenvolveram latentemente no aprimoramento das pistas nacionais, uma estética óptica que acompanhasse a evolução da música certamente está disparada. A preocupação e cuidado com o visual de festas cresceu, fazendo com que a mixagem de vídeos também ganhasse força pelas pistas, tornando a experiência integral. Outra característica que ganhou força com o avanço da preocupação audiovisual e o estabelecimento de debates, foram as performances corporais. Propondo diálogos e questionamentos em plena pista, atualmente, alguns clubs e eventos abrem espaço para que esses artistas ocupem lugares de importância tal qual o seletor.

Ampliação da discussão sobre redução de danos 

Dos progressos sentidos, a ampliação da discussão sobre redução de danos também é notável. O uso recreativo de substâncias psicoativas (químicas e/ou orgânicas), embora inerente à música eletrônica, era um assunto comumente posto para “debaixo dos panos”. Com a ampliação do acesso à informações e não só a aceitação ao debate, mas a dilatação dele, a redução de danos também começou a ganhar espaço nas pistas, seja através de iniciativas de coletivos que surgiram com esse propósito ou até mesmo a preocupação de alguns eventos que passaram a fornecer água gratuita, entre outras iniciativas. O debate ainda é longo e espinhento, mas sua ampliação é irrefutável e cotidiana.

Acolhimento e representatividade dos corpos dissidentes 

O cenário musical alternativo é um lugar que nasce com o pressuposto da liberdade e do agregar da diversidade, mas com o tempo e sua ampliação, alguns valores básicos ficaram turvos. Com a evolução e amadurecimento de debates que vão desde questões raciais, aos direitos LGBTQIAP+ e a representatividades aos corpos que distinguem-se do padrão, vimos aflorar também o acolhimento e a representatividades de corpos dissidentes que voltaram a enxergar no contexto alternativo da música eletrônica um aliado.

A consolidação da era dos streamings. 

A última década foi marcada pela revolução na forma de consumir música. Em poucos anos, as pessoas pararam — parcial ou completamente — de se preocupar em fazer o download de músicas e discografias e mover esses arquivos para o smartphone ou aparelhos de reprodução, como iPods, para optar pela evolução. Apple Music, Spotify, Amazon Music, TIDAL e Deezer foram algumas das plataformas que transformaram drasticamente o modus operandi da escuta, trazendo ao público um vasto catálogo musical através do download de um único aplicativo e uma taxa mensal. Não há como negar que o streaming rapidamente se instaurou de vez, deixando o conteúdo quase que literalmente na palma da mão dos usuários. A porta já foi aberta e todo mundo entrou, difícil vai ser sair.

NFTs como um novo mecanismo de venda e exclusividade 

Em tempos onde milhões de músicas e conteúdos diversos são criados, distribuídos e replicados a todo momento, a busca pela exclusividade se tornou ponto crucial, tendo em vista a era dos streamings. O NFT entra para o mercado como um certificado de originalidade e autenticidade de um conteúdo, impossibilitando a substituição por outro da mesma espécie, permitindo uma maior valorização dos produtos musicais da indústria e de quebra, uma revolução nos meios de monetização da arte e cultura. O Brasil recebeu no ano passado, a primeira plataforma de música para vendas em NFT, Phonogram.me, com a proposta de criar uma espécie de bolsa de valores musical, abrindo espaço para o investimento em fonogramas, assim como o investimento no mercado de ações.

Pandemia e desdobramentos no cenário musical 

As pistas, festas e eventos foram os primeiros a parar e os últimos a voltarem às atividades, em um período de hiato muito mais extenso do que a maioria dos ofícios. A reclusão forçada fez uma indústria muito grande pisar no freio, recalcular a rota e, consequentemente, acelerar. Em consequência ao tempo para parar e criar, surgiram novidades para gerar renda, eventos digitais inovadores, incontáveis boas obras e claro, diversos novos artistas. A pandemia e seus desdobramentos no cenário musical foram incontáveis, mas de longe, algo que percebe-se com facilidade é o fluxo criativo que tomou conta da indústria em suas mais diversas camadas e agentes. 

O avanço da tecnologia transformando as experiências musicais  

Conforme avançamos em termos tecnológicos, a garantia de acessibilidade a meios que antes eram segmentado a poucos, hoje se torna mais abrangente, facilitando a entrada de entusiastas do universo da discotecagem e produção musical. Já parou para pensar o quão mais acessível se torna o aprendizado sobre esses temas, bem como, o quão mais fácil ficou o processo de pesquisa musical? Em termos de tecnologia, também vimos grandes evoluções na dinâmica dos equipamentos e setups nesses últimos 10 anos, além de revoluções dos padrões de escuta, com a tecnologia Dolby Atmos por exemplo.

A rede social como principal via de publicidade no meio artístico 

Com o andar da carruagem, as redes sociais se tornaram meios populares não somente para a conexão entre o público e artistas, mas também como ferramenta chave de promoção de conteúdos, e mecanismos de business profissional. Plataformas como o Instagram e o TikTok, hoje são considerados grandes propulsores de conteúdo do meio artístico, e se o mercado musical já havia se consolidado no streaming do Spotify, Deezer e YouTube, agora existe um novo caminho para artistas alcançarem o sucesso e viralizarem seus hits, transformando novamente, a forma como consumimos e pensamos em música.

A música conecta.

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