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A música conecta

Quem são os designers por trás de algumas das principais capas de música eletrônica do Brasil?

Por Laura Marcon em Editorial 15.09.2020

Há alguns meses apresentamos para vocês 50 capas de releases que, aos nossos olhos, são diferentes, impactantes, de uma beleza especial. O resultado desse material foi realmente positivo e sendo assim resolvemos fazer um segundo ato dessa obra, mas de uma forma um pouco diferente.

Já há alguns anos temos acompanhado o belíssimo trabalho, cada vez mais consistente, das gravadoras de música eletrônica brasileiras, não apenas em relação à qualidade dos lançamentos, mas também das capas que os acompanham. Criadas por ilustradores e designers, o trabalho apresentado transborda qualidade e comprova a relevância da arte visual dentro desse espectro e tem revelado cada vez mais artistas nacionais e internacionais de alto nível.

É sobre esses artistas que viemos falar dessa vez. Selecionamos nove designers que tem realizado um trabalho relevante junto à gravadoras brasileiras para você conhecer mais de pertinho. 

Alexandre Lindenberg | MambaRec

Sobre o artista | Alexandre atua como designer desde muito cedo, começando no terceiro ano do ensino médio, como estagiário. Após realizar diversos tipos de trabalho dentro desse universo ele se encontrou em plataformas culturais e independentes. Hoje Alexandre trabalha no estúdio Margem, que cruza com diferentes disciplinas do Design e que, além de trabalhar com a identidade visual da festa da Mamba Negra, da gravadora MambaRec e Radio Virusss, também desenvolve projetos com a Casa do Povo, Centro Cultural Bom Retiro, em eventos em espaço como o Masp e Teatro Municipal de São Paulo. Destaque para a atuação com artistas independentes, em especial o projeto realizado com o fotógrafo Felipe Ávila, sobre a diversidade dos corpos em luta nos movimentos políticos dos últimos anos.

Sobre o trabalho com o label | “Havia uma identidade mais amarrada no começo do label, mas há algum tempo, desde que fizemos o lançamento do Teto Preto, decidimos expandir o leque de possibilidades visuais da festa e da label flexibilizando o projeto de identidade e isso abriu um horizonte para novas pesquisas. Cada lançamento pede algo diferente. Creio estamos encontrando nosso novo norte visual e procurando uma forma de manter o mesmo clima da identidade em um novo ambiente, mais relacionado aos meios digitais e ao tom de voz irônico e ácido da festa.

Os produtores,às vezes, demandam a participação de algum artista específico, e então a label se adapta ao que o produtor quer para o seu lançamento. Outras vezes temos espaço para dar conta do projeto todo, e então sentamos com o artista e com as donas da label, a Laura Diaz e a Cashu, e fazemos uma audição do disco e conversamos sobre as ideias que o artista tinha ao produzir a faixa. Como é música eletrônica, passamos por um processo muito sensível de extrair imagens e conceitos objetivos de elementos tão abstratos. Também temos uma discussão interessante sobre as mídias nas quais o projeto gráfico vai se desdobrar; no último que trabalhamos, do EP do Tantão e os Fita, pensamos muito em como fazer o lançamento render por vários dias nas redes sociais produzindo desdobramentos gráficos da capa que se tornaram vários ensaios gráficos estáticos e animados. A relação com o videoclipe foi central para esses desdobramentos e para chegarmos a solução que criamos com a fotógrafa, a Ivi Maiga Bugrimenko; sempre é uma conversa que envolve muita gente, design sempre é sobre colaboração.”

Pedräda | Transensations

Sobre o artista | Pedro Caio é designer há 17 anos e seu trabalho hoje está 100% direcionado à música eletrônica como artista, A&R e diretor de arte da Transensations Records. Ele também trabalha a identidade do selo nacional Hotstage Records e produziu artes juntamente com artistas como ANNA, Wehbba, Victor Ruiz, Alex Stein, Raw Ideology, além de seus próprios materiais como Pedräda. Hoje, Pedro comanda uma agência autônoma de design, vídeo e projetos digitais que atende de marcas, startups, empresas e mercado cultural de design Talaguim.

Sobre o trabalho com o label | “Me inspiro na escola alemã de Design, influenciado diretamente pela Bauhaus, com composições e tipografias geométricas. O buraco/planeta preto que se repete em todas as capas representa o vazio ou o cheio, um respiro ou presença em meio ao caos. Como a Transensations nasceu em 2003 nas raves de Psy Trance, procurei misturar essas referências com a origem mais psicodélica, colorida, distorcida, mas livre. As capas são criadas para serem consistentes, respeitando sempre a sonoridade de cada EP. Feitas para bater o olho num thumbnail e identificar o selo. Somos em quatro no selo, um time muito afiado e que debate sobre todos os principais pontos. Tenho total liberdade de criação, seja nos EPs ou nas compilações especiais, mas somos uma família e conto sempre com as sugestões deles e dos artistas envolvidos.”

Diego Bufato | Sketches

Sobre o artista | Bufato é formado em Publicidade Propaganda e Criação, pós-graduado em Design Gráfico Editorial, trabalhando como designer gráfico desde o início de sua carreira em locais como MIS (Museu da Imagem e do Som), Paço das Artes e também em algumas revistas. O artista foi responsável pela arte de flyers da noite Mothership no D-edge para algumas noites importantes no clube, entre elas: Cadenza Label Night e a primeira vez do artista Ricardo Villalobos na casa. Atualmente ele é criador das artes da festa Subdivisions e das gravadoras Coded Messages, Seiv, Groove & Flavour (Chile) e da Sketches desde a sua fundação.

Sobre o trabalho com o label | “O nome por si só já direcionou a identidade do label. Lembro que o Renee e o Ale chegaram até mim com o conceito da gravadora ‘Sketches’ como sendo a forma de representação primária da criação, o momento criativo, o ato de nascimento de uma ideia. Comecei pelo logo, em tipografia cursiva e que não tem um ponto fixo. Da mesma forma que nasce, flui, é contínuo. Em seguida parti para a criação das capas.

Cada lançamento da gravadora traz uma combinação de duas cores. No lado A o logo é maior e envolvido por uma letra ou parte dela em destaque. Essa letra é a representação do flow criativo que aquele artista e release trouxeram. Como uma footprint dele na label. Pode-se interpretar como: aquele artista, ou aquele lançamento ajudando a criar o que no futuro será imagem da gravadora. O lado B traz apenas o logo, e informações em tipografia simples, de toque levemente orgânico e direta ao ponto”.

Leandro Pitz Schroeder | In Their Feelings

Sobre o artista | O catarinense é diretor de arte e designer gráfico nascido e formado em Florianópolis e radicado na Bélgica. Seu trabalho é voltado à música, moda e cinema, tendo trabalhado ao longo de sua carreira com marcas como Sony Music, Colcci, Coca Cola Clothing, Chilli Beans, Oüs, Storvo, Iarocheski, Jehu-cal, entre outra, além de trabalhos de moda apresentados na London Fashion Week e Vienna Fashion Week. Leandro também atuou em projetos musicais como a Fundação J Dilla, Mamba Negra, Comando, The Lash Social (CA) entre outros trabalhos. Nas horas vagas, ele também se dedica à produção musical dentro do Techno e EBM.

Sobre o trabalho com o label | “Meu trabalho para In Their Feelings começou através do Dj e produtor Davis, que me convidou para fazer seus posters de turnê. A partir dali acabei entrando aos poucos no time da Havona, que controla a marca In Their Feelings e artistas como O Sal e L`Homme Statue, entre outros, na criativa cena eletrônica de São Paulo. Acredito que foi uma oportunidade interessante de combinar minhas pesquisas tipográficas com as pesquisas musicais da cena clubber. A cena underground, especialmente de EBM e industrial na Bélgica é bastante consistente e a porta de entrada para o time começou a partir disso. Design e música sempre permitiram um campo de criação bastante expansivo e experimental e isso faz parte do meu processo. O trabalho para eles também me permite o capricho e a pretensão de incorporar referências pessoais diversas, um pouco de decadência sincera, um mood sensualista italiano, a modo de Carlo Mollino e Joe D’Amato, setentismo e paixão por tipografia. A estética dominante para eles é bastante minimalista e uma tentativa de combinar a agressividade do underground com um design mais clássico e refinado.”

Beats n’ Lights | Totoyov

Sobre o artista | A identidade visual da Totoyov foi originalmente criada por Alan Medeiros, isso mesmo, este mesmo Alan que integra a equipe do Alataj. Não só o conceito visual e a logo, mas também a ideia de tratar a gravadora como um planeta musical foi desenvolvida pelo nosso diretor geral em sua frente de trabalho com a Beats n’ Lights. A agência de marketing voltada ao universo da música eletrônica possui um trabalho mais amplo na área de imprensa e social media, mas há outros cases como este no design gráfico. Entre os trabalhos realizados para Totoyov destaca-se o único vinil prensado pelo selo até aqui.

Sobre o trabalho com o label | “Desenvolver a identidade visual da Totoyov com a Beats n’ Lights foi algo bem especial para agência. Quando comecei a conversar com o Arthus sobre o selo logo me veio a ideia de traduzir a estética da Totoyov em algo espacial, extraterrestre, que ao meu ver acompanha bem o perfil musical que o selo possui. Importante falar que, apesar de toda identidade do selo ter sido desenvolvida pela BnL, outros excelentes profissionais estiveram conosco a bordo, inclusive aumentando o nível significativamente desde então. Vinicius Custódio, Natiele Nodari, Lucas Guilherme, Fred Livi e mais recente Gus Gardner são alguns deles. Esta nova fase mais fresh e colorida da ID me agrada bastante. É um trabalho que tenho bastante orgulho”.

Bruno Fonseca | Nin92wo

Sobre o Artista | Também conhecido como Hosben (DJ, produtor e parte da Nin92wo), Bruno Fonseca, 26 anos, natural de Anápolis (GO), é entusiasta do design em toda a sua amplitude e vive a busca incessante pelo aprofundamento nas mais importantes áreas dentro do Design Gráfico e Design de Produtos. Ele também atua com presença diária no mercado publicitário, dividindo seu tempo com negócios secundários e projetos pessoais.

Sobre o trabalho com o label | “O contexto explícito na identidade da Nin92wo é sempre um trabalho plural. O ponto de partida sempre é a mensagem que o artista quer passar, acompanhando a essência e personalidade de cada um, os estilos são baseados em abstrato e minimalismo. Os materiais criados para os álbuns e EPs transmitem elementos subliminares e levemente densos, as duas características marcantes do selo. O conceito de criação passa pelos lançamentos musicais e chega aos eventos produzidos pela gravadora, tendo assim uma conexão em toda identidade visual.”

Vini Barboza | Laguna

Sobre o artista | Vini é designer e tatuador e desde que se interessou pelo design na faculdade descobriu a direção de arte como uma paixão. O artista se relaciona com a música desde muito pequeno, principalmente como baterista, fator decisivo para sua inclinação a projetos direcionados à música, criando de forma sensitiva e profunda dentro de cada estilo musical. Além de se especializar ao longo de sua carreira dentro do design, Vini também é tatuador de Blackwork e as duas formas de expressão da arte se comunicam diariamente.

Sobre o trabalho com o label | “Entrei de cabeça no projeto da Laguna começando pelo case chamado Urukum. A proposta era criar uma série de colagens e montagens digitais com base na fauna e flora brasileira, tudo isso misturando técnicas surrealistas de composição. Meu método de criação era, basicamente, escutar o set do artista e traduzir para o formato de arte digital, incluindo cores, aspectos, formatos, objetos coadjuvantes e centrais. Um trabalho muito prazeroso devido à liberdade criativa que recebia nos briefings da label e que foi o pontapé inicial para um caminho de evolução e formação de identidade dentro do mundo artístico. Posteriormente, a linha de sets evoluiu para o record label, com capas de diversos lançamentos que foram aprofundando a identidade visual em torno da flora, fauna, oceanos, ilhas e praias.

Ju Sting | Sonido Trópico

Sobre a artista | Ju Sting, 33, é artista visual, ilustradora e designer de Curitiba. Com formação em Design Gráfico e Desenho, tem agora como foco o seu trabalho com ilustração em técnicas digitais mistas, misturando colagem, fotomontagem, pintura e ilustração digital. Tenta em suas materializações visuais criar pontes entre o mundo concreto e o universo intangível dos símbolos e do onírico, sempre com uma preocupação formal de fazer o impossível parecer um pouco mais real através do trabalho com texturas, iluminação, cores e profundidade. Atualmente tem trabalhado próxima a cena musical independente latino americana, produzindo material gráfico para capas de disco, eventos e festivais.

Sobre o trabalho com o label | Trabalho há alguns anos no material gráfico da gravadora e eventos da Sonido Trópico. Entendo a criação da capa dos discos como um complemento à narrativa sonora trazida pelos produtores, então sempre tento alinhar as inspirações, histórias, imagens e sensações que guiaram esse primeiro processo criativo com o que então será materializado visualmente. Normalmente a interação visual do público com a capa é a porta de entrada sensorial para o universo do álbum, então acho legal que ela de alguma forma dê início, sintetize e/ou complemente a experiência em sinergia com a história a ser contada pelos sons. Quanto à forma, a identidade se amarra em torno de explorações em torno da estética da colagem digital. Também imagino as cenas de cada capa como um recorte de um mesmo espaço onírico em que todas essas narrativas musicais se misturam e desenrolam.

Pedro Muniz e David Leventhal | Not Another

Sobre os artistas |Pedro Muniz é um artista visual e designer gráfico de Recife, Pernambuco, que trabalha primariamente com o desenvolvimento de identidades para marcas, eventos e artistas. Possui interesse em produção musical e experimentações com animação.

Nascido no Rio de Janeiro e criado na cidade de Nova York, Davi Leventhal estudou arte em instituições importantes como Pratt Institute, Cooper Union e Art Students League e hoje é um artista e curador que já participou de exposições individuais e coletivas. Os trabalhos de Davi são diversos, variando desde a manipulação visual de formas positivas ou negativas para criar mundos diferentes e surreais com imagens e mensagens aparentes e ocultas. Ele também lidera um projeto de impacto social baseado em suas raízes brasileiras chamado Projeto Fuxico, que ajuda a criar pontes entre as pessoas, lembrando os participantes da comunidade.

Sobre o trabalho com o label | Pedro Muniz: “Para a Not Another, trabalhei desenvolvendo uma nova identidade visual que valorizasse uma linguagem visual mais direta, neutra, ‘coringa’. Utilizamos apenas o preto e branco em todos os seus desdobramentos, permitindo assim que a marca se adaptasse e recebesse facilmente outras linguagens visuais em suas capas, campanhas de divulgação e eventos sem grandes problemas.”

Davi Leventhal: “Eu criei os designs em colaboração com a Not Another Label fazendo o meu melhor para atender às necessidades e visões de todos. Eu divido o design em cinco seções, cada seção representando um DJ específico que fundou este selo. Eu fiz cada DJ resumir em uma palavra sobre como eles se veem musicalmente, na qual eu baseei esse design final. Esta campanha foi para capas de álbuns múltiplos, onde porções ampliadas foram usadas como os lançamentos de capas de álbum iniciais, terminando com a imagem completa como a capa do álbum final, que como o rótulo, mostra como todas as capas anteriores nesta campanha estão realmente interconectadas e parte de um todo e significado maior, como todos os DJs, estão interconectados formando um todo maior.”

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