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A música conecta

Estamos prontos para o impacto do Tiktok na indústria musical?

Por Manoel Cirilo em Editorial 13.11.2020

A presença das redes sociais em nossas vidas atualmente é indiscutível. Salvo alguns poucos seres humanos que preferem se abster da euforia de exposição dessas plataformas, elas penetraram definitivamente em nosso cotidiano e alteraram o modo como nos relacionamos com o mundo. Do modo como consumimos informações e entretenimento até o contato que mantemos com outras pessoas, praticamente tudo passa por elas.

Do Orkut ao Instagram, muitas redes surgiram, algumas sumiram, mas todas deixaram suas marcas em nosso modus operandi e  nas estruturas mercadológicas da nossa sociedade. O Tiktok é um dos nomes mais jovens no atual pool de plataformas de interação social, ainda novidade para muitos usuários, mas seu impacto tem crescido a passos largos principalmente na indústria musical, prolongando o caminho aberto por marcas como Spotify e Youtube.

Conhecido como uma releitura mais robusta do extinto Vine, o Tiktok ficou famoso principalmente pelos desafios de dança e de cenas coordenadas com as músicas que tocam ao fundo. As principais particularidades do app, que favoreceram sua projeção exponencial ao redor do globo, são a facilidade de edição dos vídeos com uma ferramenta acoplada ao próprio aplicativo e sua inteligência artificial alimentada por machine learning.

Essa última tecnologia, em especial, é a principal responsável por manter os usuários presos ao aplicativo por horas seguidas sem nem se dar conta. Isso porque, diferentemente de outras redes sociais, o feed do Tiktok não está limitado às pessoas que um determinado usuário segue, os vídeos são apresentados aleatoriamente de acordo com o entendimento que o app adquire do que essa pessoa gosta de consumir, baseado no tempo de reprodução e interações, para que os conteúdos possuam sempre a mesma temática.

Esse modo de construção do feed permite que os criadores de conteúdo do Tiktok furem a bolha de sua rede de seguidores e viralizem seus vídeos de maneira muito rápida, estimulando outros usuários a criarem suas próprias versões do vídeo com o mesmo áudio. A dinâmica acabou por catapultar o trabalho de muitos músicos e aumentar a visibilidade do grande público às suas produções.

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O caso mais famoso é o do cantor Lil Nas X, que tornou a faixa Old Town Road, uma de suas primeiras composições lançadas oficialmente, em um verdadeiro hit mundial após se tornar a música mais utilizada na criação de vídeos no Tiktok. O sucesso repentino do artista o catapultou do anonimato para a conquista de 2 Grammys e impressionantes 17 semanas semana na posição #1 da Billboard em menos de um ano.

Algo semelhante aconteceu também com a cantora Lizzo, que viu o seu hit Truth Hurts alcançar o topo das paradas da Billboard dois anos após o seu lançamento oficial, graças à força oferecida pelo Tiktok. Essa busca repentina por suas músicas despertou o interesse das gravadoras em assinarem novas faixas com a artista e a incluírem nas principais rotas de apresentação cena musical americana, apoio que não tinha conseguido antes da viralização de sua música na rede social.

Só por esse pequeno resumo você já deve ter percebido a potência que o Tiktok possui como uma plataforma de propulsão para artistas independentes que buscam atrair visibilidade para o seu trabalho. O ponto chave nessa engrenagem, no entanto, é a influência que o Tiktok tem exercido na indústria musical fora do que acontecem dentro de sua ferramenta.

De acordo com o crítico de música Pop Mikael Wood, em entrevista recente para a NPR Radio, dos Estados Unidos, o crescimento do Tiktok somado ao advento da pandemia fez com que gravadoras e produtores musicais direcionassem toda a sua atenção à plataforma como principal fonte na busca por novos talentos que serão lançados. Até as rádios, especialmente nos Estados Unidos, passaram a incluir músicas surgidas no Tiktok em sua programação, referenciando o aplicativo como a fonte de novos hits.

Essa transformação é sentida mais fortemente na música Pop e outros segmentos voltados ao mainstream, mas já é possível perceber a entrada de algumas camadas da música eletrônica nessa mecânica também. O DJ e produtor sulafricano Amapiano é um dos casos de maior destaque dentro da plataforma e suas faixas que apresentam uma fusão dançante entre elementos do Deep House e Jazz já ultrapassaram a marca de 73 milhões de visualizações no app, o que contribui bastante para a promoção de seu trabalho fora da plataforma.

Apesar de ter se tornado um aplicativo mundial apenas em 2018, o Tiktok apresentou um rápido crescimento especialmente a partir de meados de 2019 e hoje já conta com mais de 800 milhões de usuários ativos ao redor do globo. É um verdadeiro mercado paralelo de música que tem balançado cada vez mais as estruturas da indústria musical e não apresenta sinais de que irá recuar em breve.

Se você ainda não está preparado para as transformações que serão impulsionadas no modo como as músicas são produzidas e consumidas em um mundo pós Tiktok, é bom ficar mais atento à sua volta porque elas já estão em andamento. E certamente elas não influenciam apenas a música Pop.

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