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A música conecta

O Big Room morreu no Brasil?

Por Ágatha Prado em Editorial 26.01.2023

Faixas com drops explosivos, melodias com arranjos contagiantes e uma energia capaz de levantar uma multidão do chão, sem muito esforço para convencer o público. Um gênero que revolucionou o conceito de Dance Music no Brasil, abriu as portas para a popularização da música eletrônica de A a Z, catapultou a carreira das grandes estrelas da E-music nacional e chancelou os palcos principais de grandes festivais mundo afora. Esse é o Big Room, gênero que explodiu em 2010, teve seu auge em 2016, e hoje no Brasil, parece estar caminhando para uma transformação, ou mesmo, para o declínio.

Quando o conceito de Big Room começou a popularizar nos quatro cantos do mundo, a semelhança com o EDM e o Electro House ficou nítida. Seria uma derivação desses dois estilos? Bom, eu diria que uma descendência mais acessível ao público, somada a elementos de grande energia que o torna o “tiro certeiro” para os grandes festivais. E é justamente esse o ponto que tornou o Big Room tão popular, coincidindo no justo momento em que a Dance Music estava em ascensão em todo o mundo. De 2011 a 2015, festivais como Tomorrowland, Ultra Music Festival e Electric Daisy Carnival tiveram demandas astronômicas, e consequentemente, DJs e produtores musicais tornaram-se mais comercializáveis ​​do que nunca, apresentando um som novo e inédito, pelo menos para a geração mais jovem.

No Brasil, a estreia da primeira edição do Tomorrowland, em 2015, foi um grande gatilho para que o Big Room ganhasse proporções gigantescas em território nacional. Não que isso já não viesse acontecendo – com nomes como Alok, Vintage Culture no topo da pirâmide, e com festivais nacionais como XXXperience – porém a chancela de um festival de proporção mundial foi um dos fatores responsáveis pelo auge do Big Room no Brasil. E o mais interessante é que por aqui, o gênero passou a ganhar algumas características particulares que de certa forma evoluíram para alguns subgêneros, mas que de forma geral, pertenciam ao guarda-chuva do Big Room.

De um lado, passamos a ter o Brazilian Bass, vertente que ganhou propulsão através dos trabalhos de Alok com elementos do Bass House, e um toque brasileiro que ganhou a abrangência popular. Do outro, o Slap House, com arranjo Pop, punch no bass, e subgraves que testam a máxima potencialidade dos grandes sistemas de som. Ambos com uma personalidade mais extravagante, que se tornam facilmente aceitáveis principalmente pelos ouvidos que não são tão acostumados com a e-music clássica e tradicional.

Com o sucesso inicial daquele novo e ainda não tão explorado sub-gênero, apelidado de Brazilian Bass, que unia elementos de outras diferentes vertentes, vários aspirantes a DJs e até artistas já consolidados viram nele uma oportunidade de crescimento em conjunto e começaram a estudá-lo para o incorporar em seus sets e produções. Dessa maneira, no ano seguinte, quase 20 artistas que integravam o top 50 da House Mag detinham alguma relação com aquele tipo de som, tendo Alok e Vintage Culture como primeiros colocados” descreve Matheus Carneiro, em sua reflexão para Play BPM.

Quando um estilo está em sua fase bombástica comercialmente falando, e reverberando através de grandes multidões, podemos dizer que ele pertence ao Mainstream. E ao pensar sobre Mainstream, o conceito de tendências caminha lado a lado. E como tudo que sofre impacto por meio de tendências – seja na música, na moda ou na arte em geral -, naturalmente faz parte de uma dinâmica cíclica. O que hoje está no Mainstream, amanhã pode não estar mais. 

Da mesma forma tem acontecido com o fenômeno do Big Room. Vimos acima que um dos principais fatores para sua explosão foi a chancela dos grandes festivais mundiais, porém  apesar do avanço rápido, agora estamos enfrentando o que alguns chamam  “crise” dentro da comunidade EDM. Em outras palavras, parece que quase todas as músicas “big room” lançadas por um grande produtor soam extremamente semelhantes à anterior. Talvez a receita pronta, derivada da música pop, hoje em dia já saturou tanto a magia dos ouvintes, como também o interesse dos grandes festivais. 

Então, será que o Big Room está morrendo no Brasil, e no mundo? Bom, a teoria das tendências cíclicas pode ajudar a responder essa questão, já que assim como acontece com todos os gêneros, é apenas uma questão de tempo até que um novo estilo comece a atrair o gosto das massa. Um exemplo disso, é vermos a direção musical que um dos maiores representantes do Big Room nacional está caminhando.

As tracks explosivas, com drops chocantes que produzem um efeito absurdamente contagiante nos palcos ao vivo, estão sendo substituídas por uma sonoridade que hoje, ainda é considerada mais underground, quando falamos de Vintage Culture por exemplo. Esse movimento musical também é algo que está acontecendo não somente com ele, mas com grandes estrelas que já foram os hit makers do Mainstream.

Ao acompanharmos essa evolução, temos visto que as apostas da vez estão girando em torno do Tech House e do Techno Melódico, e ao que tudo indica, parece que o Big Room vem cedendo espaço à essas estéticas no mainstage dos grandes festivais, enquanto que caminha para um espaço coadjuvante. O que quero dizer é que estamos diante do começo de outra grande transformação no universo da E-music, e que em breve já estará chancelada pelos mesmos festivais, estrelas e grandes marcas, que tornaram o Big Room o fenômeno que foi. 

A música conecta. 

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