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A música conecta

Alataj entrevista Caio T.

Por Alan Medeiros em Entrevistas 10.04.2023

No próximo dia 22 acontece a segunda edição do Gop Tun Festival. A festa paulistana retorna seu festival anual para o mesmo espaço do Canindé que recebeu a edição inaugural ano passado. Se em 2022 o clima ainda era de celebração social pós pandêmica, este ano os rumos do evento dizem muito sobre a identidade que os organizadores querem para tal. Afinal de contas, é assim que um festival é reconhecido, por sua proposta e identidade. 

O caso da Gop é interessante pois seus líderes, além de dividirem a cabine e a parte artística do projeto, também são os responsáveis por colocar a mão na massa e fazer a coisa acontecer em suas diferentes frentes. Caio, Nascii, Gui e Protti são velhos conhecidos aqui do Alataj. Já colaboramos com eles em situações diversas e é sempre um prazer testemunhar a evolução de projetos assinados pela marca. Também é justo e válido lembrar que algumas das transformações mais importantes da cena na última década passaram pelas mãos desses 4 artistas e empreendedores, o que torna um festival desse porte ainda mais interessante.

Neste novo bate-papo com Caio, exploramos alguns dos temas centrais do festival que se aproxima e da atuação da Gop frente a cena paulista e nacional nos últimos anos. Em nossas entrevistas buscamos sempre fugir do óbvio e nas respostas Caio colaborou bastante para que o papo se tornasse interessante e esclarecedor. Vamos à ele? 

Alataj: Fala, Caio! Tudo bem? Este está longe de ser um dos nossos primeiros papos, portanto te convido a pular a parte básica inicial rumo a uma camada mais densa e interessante. Esse é o segundo Gop Tun Festival e acredito que em termos de lineup tivemos uma evolução muito clara e significativa em relação a primeira versão que já estava muito interessante. Como curadoria, qual é exatamente a missão do festival?

Caio Taborda: Longe de ser nossa primeira conversa mas estava com saudades de bater-papo com vocês. Sim, a programação deste ano evoluiu em relação a do ano passado, são mais convidados internacionais, mais gêneros e estilos musicais, uma gama maior de artistas locais que nunca se apresentaram em um evento nosso. 

Acho que a missão da nossa curadoria tem algumas frentes, a primeira delas é o ineditismo. Cerca de 70% das atrações de fora nunca tocaram antes no Brasil, e ao mesmo tempo que gostamos de apresentar artistas pela primeira vez por aqui, eu também acho que isso sempre traz um desafio. 

Há muito tempo que os promoters daqui preferem repetir atrações já consagradas pelo público e não se arriscam em inovar. São lineups de festivais diferentes, muitas vezes quase iguais. Praticamente, um rodízio entre um pequeno grupo de artistas que fazem sucesso e são conhecidos do grande público. Para nós o ineditismo é muito importante, mesmo que para isso a gente assuma um risco.

Outras frentes da nossa curadoria são a valorização das cenas locais, seja daqui ou de fora, muitos artistas que vêm pro festival também são articuladores em suas cidades, além da diversidade de estilos, épocas, lugares e gêneros e uma proximidade com a cena Sul-Americana. Por meio de nossas viagens e gigs fora, conhecemos artistas, promoters e produtores e o Gop Tun Festival é ponto focal desse intercâmbio.

Ainda sobre a curadoria antes de explorarmos outros temas: vejo que alguns nomes do line up carregam o DNA da Gop e até mesmo de vocês 4 enquanto DJs, mas existem outros nomes que trazem uma proposta musical que particularmente não vejo muito associada ao DNA histórico da marca, caso do Partiboi69 e até mesmo do DJ Seinfield de certa forma. Como essa mistura é exatamente combinada? Dá pra dizer que esses e outros casos são também uma forma de captar um público mais diferente? 

Com certeza o nosso DNA está enraizado na nossa curadoria, o que tocamos como DJs é justamente esse DNA, mas em nossos eventos não nos prendemos apenas a isso. Acredito que uma curadoria não deve levar em consideração apenas os nomes e sim a construção deles e a ordem que tocam. Para nós, a construção e progressão musical do evento são tão ou mais importantes que os nomes no post, um set do Partiboi69 depois de um b2b da BADSISTA e do Evehive faz total sentido, não acham?

Quando pensamos em festival, locação é uma parte tão importante quanto o line up. Este espaço que vocês exploraram no Canindé ano passado foi uma grata surpresa e aparentemente ele é capaz de entregar muita versatilidade. O que está sendo pensado este ano que você já pode compartilhar conosco? 

Com certeza! Em meados de 2021 começamos a pesquisar locais para o nosso festival. Foram muitos os lugares que visitamos, inclusive chegamos muito perto de fechar outra opção uma vez que, nessa época, essa área do Canindé ainda não tinha sido desbravada. 

Visitamos o local em um momento que ainda era um estacionamento com piso de terra. Na época, nos informaram que ninguém queria fazer nada ali por conta disso, mas quando entramos enxergamos toda essa versatilidade que hoje vocês conhecem. Tem verde e cantos de diferentes tamanhos que nos permitem criar atmosferas singulares para cada palco, ar livre, concreto, ruínas e muito espaço. 

Esse ano vamos manter o mesmo layout, já que deu tão certo e foi tão elogiado na primeira edição. Alguns pequenos ajustes e novidades estão por vir, mas ainda estão sendo discutidos. 

Nesse momento, percebo em São Paulo uma movimentação que não é somente da Gop no sentido de possuir seu próprio festival e realizar um número menor de festas anuais em relação ao que era feito no fim da década passada. Ao seu ver, isso é uma forma de valorizar mais o produto de cada edição ou uma mudança de necessidade pensando na questão de oferta e demanda do público? 

Há anos estamos aguardando o momento certo para poder lançar nosso primeiro festival. Com o fim da pandemia e toda evolução que tivemos nos 10 anos de estrada, nos pareceu ser o momento certo para isso. 

Em relação a diminuir o número de festas, isso acontece justamente para que possamos dar o enfoque necessário para o festival. São mais de 10 meses de preparação além de cerca de 8 meses entre o lançamento e o dia do evento, sendo assim fica inviável pensar em um calendário semelhante ao que fazíamos alguns anos atrás. 

Ano passado a apresentação dos Gop Tun DJs foi um dos pontos mais legais do festival musicalmente falando – sem falar que realmente havia um clima especial no ar depois de tudo o que tinha acontecido na pandemia e nos meses anteriores. E para este ano, como você e seus amigos estão projetando este momento? É o tipo de set que vocês combinam alguma coisa antes ou apenas deixam fluir? 

No ano passado, a gente se reuniu uma semana antes do festival para conversar sobre o que tocar. Selecionamos algumas coisas, mas super por cima. Dois dias antes eu lembro que meu computador quebrou, acabei ficando com o que tinha no pen drive mesmo. E no dia, o nosso set foi 100% diferente do que havíamos conversado [risos], não tocamos absolutamente nada do que escolhemos, isso porque a vibe e energia do momento eram outras. 

Para esse ano eu imagino que seja parecido, tocamos em outro palco dessa vez – vou deixar o suspense no ar – então creio que nosso set será bem diferente do que fizemos em 2022. 

Voltando a falar da parte artística novamente. Vejo que a Gop Tun desempenhou um papel muito importante nos últimos anos, trazendo artistas que muitas vezes não estavam no radar de outras curadorias. Eu gostaria que você apontasse quais foram essas apostas que mais deram certo ao seu ver (tanto na pista da Gop, quanto na sequência de tours no Brasil) e também quais nomes desse festival possuem este perfil e potencial. 

Falamos há pouco disso na primeira pergunta então vou pular o enredo e ir direto para os exemplos; na festa de 1 ano da Gop Tun por exemplo, em 2013, trouxemos pela primeira vez o Mano Le Tough, que anos depois começou a fazer bastante sucesso por aqui e pelo mundo. Helena Hauff também foi uma artista que trouxemos anos atrás e inclusive participou de um evento nosso em BH junto com a 1010, e creio que o impacto dessa vinda dela com público foi bem grande. 

Uma surpresa boa em termos de recepção do público aconteceu com DMX Krew e Mr. Saturday Night, mais recentemente com a Yu Su também. A lista é bem grande e o que mais nos motiva a continuar fazendo dessa forma é a aceitação do nosso público por novidades e ineditismos.

Antes de encerrarmos, gostaria que você nos contasse um pouco mais como a organização do festival busca trazer a experiência das festas para o festival e também como o festival pode somar na construção das festas ao longo do ano. Qual sua visão sobre isso? Obrigado pelo papo e nos vemos em Abril! 

Acredito que o festival seja uma evolução das nossas festas. A experiência dos nossos eventos tem uma base e isso é comum em tudo que fazemos; estrutura de qualidade, bem-estar do público em primeiro lugar, cuidado com os detalhes e experiência do artista, esses pontos sempre permearam todos os nossos eventos, e o Gop Tun Festival, a meu ver, traz uma evolução nesse sentido, com ainda mais cuidado com outros pontos como por exemplo a diversidade. 

O Festival gera também um residual de aprendizados e acontecimentos que impactam nossos eventos, naturalmente. Então, eu acho que uma coisa retroalimenta outra e a data do festival acaba sendo o momento de inaugurarmos uma série de ideias que se desdobram para os demais eventos do ano.

Acesse o site do evento para ter acesso a todas as informações oficiais.

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