Romper as barreiras do regionalismo e se destacar em um mercado que está cada vez mais competitivo é algo difícil e que não acontece para todos. No momento atual da cena eletrônica, onde grandes eventos e festivais parecem monopolizar a indústria, ainda é possível encontrar alguns exemplos de artistas que saíram de pequenas regiões e estão conseguindo alcançar um espaço de maior relevância, como é o caso de Alex Dittrich. Baseado na região oeste de Santa Catarina, Alex tem construído um perfil que vai além da produção e do diggin tradicional, se destacando também pela discotecagem com vinil e como A&R da sua gravadora Sintoniza Records.
No último dia 28 de novembro, o selo atingiu uma marca significativa: chegou aos 50 lançamentos, celebrados justamente com um novo EP de Alex, Chaos Theory. O trabalho traduz a evolução técnica e sonora do artista, misturando o minimalismo contemporâneo com texturas ácidas, traços de electro e muito groove. A longevidade da Sintoniza, que já soma mais de sete anos na cena, reflete a curadoria cuidadosa de Dittrich com cada lançamento e mostra que é possível fazer um trabalho consistente e de qualidade mesmo sem grandes investimentos por trás.
É sobre isso que falamos com ele nesta entrevista exclusiva, além de também tocarmos em outros pontos mais sensíveis como a relação entre DJ e produtor, a importância de b2bs para a cena, onde novos artistas devem focar sua atenção, entre outros temas:
Alataj: Olá, Alex. Obrigado por nos atender. Gostaríamos de começar a entrevista falando do seu novo lançamento, Chaos Theory, já que o EP marca o 50º release da Sintoniza Records, label que você atua como A&R. Como tem sido esse trabalho após mais de 7 anos? Tem feito sentido para você em termos de identidade alcançada e projeção na cena? É o que você esperava?
Atualmente vejo que eu e a Sintoniza somos uma coisa só. Devido ao alto número de demos que recebo, estou sempre com a case recheada de novidades sonoras, além do contato com inúmeros artistas mundo afora, trazendo prestígio e conexão. Assumir esse posto de A&R da Sintoniza foi muito bom, pois estou sempre antenado a tudo que está acontecendo lá fora, além de trazer uma projeção nacional muito grande devido a qualidade dos nossos eventos e EPs.
Alataj: 50 lançamentos! A Sintoniza construiu um catálogo de bastante qualidade. Quais são os principais pilares que você leva em consideração ao avaliar um release para a gravadora? Além da parte técnica, o que as músicas precisam ter para ganhar espaço e chamar sua atenção?
Os pilares principais são: ousadia, exclusividade e como essas faixas se comportam na pista. Costumo tocar todas as músicas antes de lançar, assim consigo escolher as melhores faixas de cada artista e montar um EP com mais qualidade. O que me surpreende sempre é a quantidade de música boa que artistas pequenos ou desconhecidos são capazes de produzir. Atualmente não temos um gênero específico e sim uma estética sonora. Tudo que se entrelace com a House Music e for dançante tem grandes chances de ser assinado por nós. Importante salientar que não lançamos somente bombas para peaktime, mas músicas com sentimentos e que farão a diferença em um warm up também tem nosso coração.
Alataj: E falando sobre seu novo EP: as três faixas se encaixam dentro do que chamamos hoje de Minimal House, mas carregam algumas características específicas, como linhas mais ácidas e timbres retrôs. O que tem influenciado você ultimamente para chegar nessa estética? Algum artista ou movimento específico tem te atraído mais?
Costumo dizer que estou misturando tudo que eu curti tocar nesses 11 anos de carreira. Produzi muito tempo Minimal House e Tech house, porém ultimamente estou ouvindo muito som mais dark e com a síntese sonora mais ácida, isso se deve principalmente pela minha pesquisa focada no vinil e na estética dos anos 2000. Não tem um movimento específico que causou essa vontade de fazer sons fora da caixa, mas algumas festas que frequentei nos últimos dois anos com DJs da velha guarda, mudaram minha mente.
Alataj: Com 11 anos de carreira, você acumula experiência tanto como produtor musical quanto como DJ, além de ter uma relação próxima com o vinil, formato no qual tem se apresentado recentemente. Na sua visão, o produtor musical é mais valorizado atualmente do que o DJ na atualidade? Você tem dado mais foco a alguma dessas áreas ou busca equilibrar as duas de forma igualitária?
Atualmente creio que o DJ seja mais valorizado que o produtor na cena underground. A onda de DJs que não produzem está em alta há alguns anos e vejo ótimos produtores que quase não tocam. Devemos levar em consideração também que nem todo produtor é bom DJ. O fato de eu acreditar que DJs sejam mais reconhecidos que produtores se deve ao nicho que participo também, pois no lado mais comercial da música eletrônica há produtores que atingem o sucesso do dia para a noite com seus hits.
Eu como artista sempre tento equilibrar as duas artes, doando meu melhor nas pesquisas e diggin, além de sempre estar atrás de conhecimento na parte de produção musical, buscando entregar o melhor para meus ouvintes e contratantes.
Alataj: No Alataj, sempre destacamos a importância das cenas regionais e das iniciativas que acontecem fora dos grandes centros. Com base na sua experiência, quais foram as principais dificuldades que você enfrentou nesse contexto? E, considerando tudo o que sabe hoje, o que você faria de diferente ao longo da sua trajetória?
A música eletrônica tem ciclos e quando um gênero específico fica em alta (comercialmente falando), as pessoas como um todo nem sempre estão dispostas a ouvir o novo, isso dificulta e muito fazer eventos ou criar uma cena regional que tenha força autossustentável.
Se eu fosse fazer algo diferente, seria na parte de execução de criar um núcleo/festa. Difícil falar o que eu faria de diferente, pois nesse tempo nossa cabeça amadurece e tudo vira aprendizado. Eu vejo muitas cidades pequenas com uma cena forte na música underground e sempre que posso frequento esses lugares para conversar e entender como foi feita a disseminação, em sua maioria descubro que é um trabalho de anos.
Alataj: Temos observado uma crescente frequência de apresentações em formato de b2b pelo país. Inclusive, há algumas semanas, você se apresentou no Surreal ao lado da Edu Mohr. Na sua visão, este formato traz benefícios para artistas, festas, clubs e o público? Você concorda com essa perspectiva?
O b2b pode ser uma experiência e troca incrível (como foi o meu com a Edu), mas também pode ser uma péssima experiência devido a falta de conexão, som muito diferente ou má organização por parte do staff da festa/Club. Sobre os benefícios, creio que o maior beneficiado seja o produtor do evento, pois ele leva mais artistas para os mesmos slots, conseguindo assim mais público e melhor aproveitamento dos horários dos sets. Eu gosto de tocar em formato b2b, acho um baita aprendizado, porém devemos sempre analisar se todos os envolvidos, principalmente os DJs, acham que vale a pena tocar com aquele determinado parceiro.
Alataj: Para finalizar, a nossa pergunta clássica: o que a música representa na sua vida?
A música é meu carro chefe e é a partir dela que eu tomo todas as outras decisões em minha vida.