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A música conecta

Alataj entrevista Bárbara Boeing

Por Alan Medeiros em Entrevistas 11.02.2025

Quando Bárbara Boeing decidiu sair de Curitiba para viver em Milão, era certo que sua carreira passaria por transformações significativas. No entanto, dentro de um circuito tão dinâmico, competitivo e volátil quanto o da House Music underground, nunca é possível prever o real impacto dessas mudanças. O mais importante é estar preparada para os processos que surgem e abraçar as oportunidades no momento certo. Nos últimos cinco anos, foi exatamente isso que ela fez. Sua trajetória evoluiu de maneira consistente, levando-a a novos patamares dentro da cena internacional. 

Tecnicamente e em termos de pesquisa, Bárbara já havia construído uma base sólida antes de sua mudança para a Europa, mas é evidente que a intensa jornada no velho continente aprimorou ainda mais sua abordagem como DJ, tornando-a uma artista completa dentro da sua proposta. Paralelamente, Boeing também se revelou uma produtora talentosa, iniciando sua trajetória nesse campo de maneira madura e em estágio avançado. A Toy Tonics, uma das principais gravadoras dedicadas a House, Italo e Disco, a acolheu desde o primeiro lançamento, tornando-a também uma representante ativa em seus showcases ao redor do mundo.

Os próximos três meses reservam uma intensa agenda de compromissos, levando Bárbara a diferentes países e a algumas das pistas mais icônicas da cena global, como Panorama Bar, Gop Tun, Shelter e Robert Johnson. Em meio a esse momento crucial de sua carreira, conversamos com Bárbara no fim do ano passado para uma entrevista exclusiva. Confira agora o bate-papo na íntegra:

Olá, Bárbara! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Lembro a última vez que nos encontramos pessoalmente, um pouco antes de você se mudar para a Europa. É possível dizer que sua carreira tomou rumos inesperados a partir dessa mudança ou tudo que aconteceu era parte de um plano?

Inicialmente, obrigada pelo convite, é sempre um prazer voltar aqui para conversarmos sobre os últimos acontecimentos. 

Eu sou uma pessoa que sempre tento planejar os meus próximos passos, então de uma certa forma sim! Quando eu saí do Brasil eu já tinha várias datas confirmadas, então pelo menos pelos meus próximos 6 meses eu já tinha algumas certezas. 

Porém, dentro da música, por mais que estejamos prontos para o que está por vir, existe uma parcela que vem um pouco do acaso e de certas portas que vão se abrindo ou mesmo se fechando no nosso destino. Então, eu fico feliz que, nesse momento, a vida me mostrou que eu poderia sim focar somente nisso e que eu seria reconhecida um pouco mais do que anteriormente. 

Sua jornada profissional esteve dividida entre a música e a engenharia civil. Atualmente, como tem sido? Ainda é um 50-50 ou as coisas se moveram mais para um lado?

Eu trabalhei e também estudei quase a minha vida inteira para focar na engenharia. Ser DJ foi sempre um hobby, mas às vezes temos que ouvir um pouco o que a vida está querendo nos mostrar. Por isso comecei a trabalhar somente com música pela primeira vez desde o ano passado e só consegui tomar essa decisão depois que consegui estabelecer uma base sólida para poder fazer isso. Foi uma ótima escolha até então… 

Um dos pontos de maior destaque recente na sua carreira foi a parceria com a Toy Tonics. O que essa conexão com a gravadora te trouxe de mais valioso? Quais foram os grandes aprendizados?

Foram eles que me trouxeram mais para esse mundo da produção onde eu co-produzi algumas das minhas músicas especificamente com o Sam Ruffillo, que é um artista muito completo e que me ensinou muitas coisas. 

Acho que dentro dos bookings também, a parte interessante aqui é eu poder tocar para públicos que gostam de música mais pra cima, mais feliz mesmo. Então a colaboração funciona!

Recentemente você lançou uma nova label party que tem percorrido algumas pistas importantes pela Europa. Como surgiu a ideia da Convida e qual o papel que ela possui na sua jornada enquanto DJ atualmente?

“Bárbara Boeing convida” é a festa que eu criei para conseguir trazer meus artistas favoritos, bem como DJs com quem eu adoraria fazer um B2B. Neste último semestre tivemos 5 festas em cidades diferentes (Paris, Londres, São Paulo, Milão e Lisboa) e todas foram um sucesso. Devemos repetir algumas cidades nos próximos meses e também explorar outras novas. 

Por falar em festas, é impossível não mencionarmos a Alter Disco. É possível dizer que a festa te formou essencialmente como DJ? Quais são as principais memórias que você tem do começo deste trabalho e como foi voltar a realizar uma edição em Curitiba ano passado?

A Alter Disco foi onde tudo começou e foi onde realmente eu comecei a tocar para pessoas que realmente amavam minha música. Posso afirmar que foi a festa que me formou essencialmente como DJ!

Iniciamos de uma forma extremamente amadora onde amigos se juntavam para escutar música boa. A nossa proposta era montar um local com música e diversão mesmo… Tinha cama elástica, jacuzzi e era conhecido como um local livre, onde mesmo os mais certinhos iam lá para extravasar de uma certa forma. Em geral, Curitiba é uma cidade muito conservadora e, dentro da nossa festa, as regras mudam!

Atualmente, estamos fazendo as novas edições da festa em uma florestinha linda dentro de um parque de wakeboard. Ficamos muito felizes que mesmo depois de 3 anos parados ainda temos um público fiel que nos acompanha desde sempre. Fora isso, voltar para a minha cidade e poder trazer o que eu ando tocando mundo afora é sempre uma experiência única! 

Embora a produção musical tenha feito cada vez mais parte da sua rotina, você é uma artista que desenvolveu sua carreira a partir da discotecagem. Na sua opinião, o que separa um bom DJ dos demais? 

Com certeza o que difere um DJ do outro é a pesquisa! Existem níveis e níveis de pesquisa… Existem DJs que escutam somente o que os outros DJs tocam e dentro disso criam o seu próprio set. No final, isso é relativamente fácil, porque são músicas que você já sabe que funcionam. 

Um andar acima disso vem em uma pesquisa mais livre, tanto no mundo digital como dentro das lojas de discos. Ao meu ver, especialmente dentro das lojas podemos ter um digging muito mais puro, onde não existem algoritmos nos avisando o que deveríamos escutar como a nossa próxima música. Pesquisar dentro de lojas é algo que toma tempo e nem sempre é muito efetivo, por isso exige muito esforço… mas pelo menos pra mim, é de lá que vem os grandes achados. Creio que poder comprar discos em diferentes cidades nos traz um alcance ainda maior e isso se demonstra dentro das pistas! 

Depois disso, uma boa leitura de pista e a possibilidade de mixar músicas fora do tempo ajudam no processo como um todo. 

Quando você é um artista que alcança certo grau de reconhecimento, é natural que você passe parte do ano viajando, esperando horas em aeroportos, dormindo mal e com outros desafios de rotina. Como você faz para conciliar sua saúde mental e física em meio às viagens?

Essa é com certeza a parte mais desafiadora dessa carreira! Eu viajo sozinha sempre e isso deixa tudo ainda mais difícil. Ter uma equipe que me entrega uma logística extremamente organizada é essencial, mas o dia a dia ali é algo que a gente vive sozinho e isso exigiu de mim um conhecimento interno mesmo. Hoje em dia eu sei os meus limites e entendo que preciso ouvir o meu corpo sempre! 

Eu sempre falo que sou uma pessoa sóbria demais para esse trabalho, mas sinceramente, é isso que me deixa viver tudo isso sem ultrapassar meus limites e com isso mantenho também a minha saúde mental. 

2025 já começou com tudo e a gente gostaria de saber quais são seus grandes planos e projetos para este ano. Conta pra gente? 

Em 2025 teremos um lançamento da Alter Disco por uma gravadora gigante de UK (que eu ainda não posso divulgar o nome). Será um álbum de remixes em cima de um disco dos anos 80 do percussionista brasileiro Marco Bosco que já foi ganhador de dois Grammys. Estamos muito empolgados com esse projeto e ele vai sair antes da metade do ano! 

Fora isso, eu estarei trazendo a minha festa para novas cidades do mundo e com certeza voltarei para o Brasil ainda no primeiro semestre para mais uma edição. 

Para finalizar, nossa clássica pergunta de encerramento. O que a música representa em sua vida? 

A música é o meu refúgio… é onde eu me encontro comigo mesma nos meus melhores e piores momentos.

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