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A música conecta

Alataj entrevista Beltran

Por Alan Medeiros em Entrevistas 29.11.2022

Alguns campos da sociedade possuem um poder muito especial de transformação de vida em uma escala de tempo e intensidade difícil de ser observada em outros lugares. É assim no esporte, no universo das redes sociais e também na música. Se você conversasse com o Beltran de 2020 e contasse tudo que aconteceu de lá pra cá, muito provavelmente ele não acreditaria. Mas não precisamos ir tão longe, uma conversa com o jovem brasileiro no começo deste ano, revelaria um campo de expectativas bastante diferente da realidade que ele vive hoje. 

Não é exagero dizer: a música, mais especificamente Smack Yo’, mudou a vida de Beltran para sempre. É bem verdade que o DJ e produtor gaúcho já demonstrava um nível de produção e originalidade bem condizente com o patamar de sucesso que ele se encontra atualmente. Nos dois primeiros trabalhos de sua discografia, Basement e FK (este último uma collab com Cla$$ & JCult), já é possível observar uma estética moderna e precisa dentro do Tech House, sem falar que ambos os releases foram assinados pela CUFF. 

Mas definitivamente foi a sua estreia no time da Solid Grooves e todo suporte e apadrinhamento de Michael Bibi que ascenderam Beltran a possibilidade de alcançar o patamar atual. Smack Yo’ se tornou uma faixa desejada pelos DJs muito antes do seu lançamento e este desejo criado no pré-release não desapontou no pós. Hit nas pistas e nas redes sociais, ela alavancou Beltran a posição de #1 no ranking geral do Beatport e verdadeiramente dominou pistas diversas do mundo todo. 

O trabalho segue e para não ser um artista de um hit só, Beltran tem um plano sólido que se inicia com a sua estreia pela também consolidada Revival New York. Warning, faixa recém lançada por lá é uma produção madura, com referências old school e o mais importante: traços de uma assinatura sonora própria. É neste ótimo momento que Beltran nos recebe para uma entrevista exclusiva, que recomendamos fortemente que seja lida ao som de seu recente Alaplay gravado e publicado em Novembro:  

Alataj: Oi, Juliano! Tudo bem? Dá pra dizer que sua vida mudou nas últimas semanas/meses, não é mesmo? Certamente você está trabalhando duro no estúdio há bastante tempo, mas por ser tão jovem, é possível dizer que esses resultados e o sucesso pegaram você de surpresa? 

Beltran: Olá, tudo bem sim e com você? Com toda certeza, minha vida mudou tanto que as vezes parece que estou assistindo tudo em terceira pessoa, de uma maneira boa. Realmente os resultados e a repercussão foram inesperadas, sempre produzi algo que eu acredito e amo, nunca pensei que tomaria a proporção que tomou, de maneira tão “rápida”.

Smack Yo’ certamente já é uma das faixas do ano na cena eletrônica. Conta pra gente um pouco mais a respeito do seu processo criativo em torno dela? Quais foram as suas inspirações para costurar tão bem esse sample de vocal? Qual tipo de pista você estava mirando ao produzi-la? 

Primeiramente obrigado, fico muito feliz em reconhecer a track desta forma. O processo criativo da musica teve início em uma parada de ônibus, enquanto aguardava para ir ao trabalho. Tive a ideia do beat e instantaneamente gravei nas notas do celular, assim que cheguei em casa do trabalho fui direto para a DAW e fiz a track.

O samble do vocal encaixou como uma luva no som, um vocal agressivo que casa com o groove da bateria e dos timbres.

É muito claro que vivemos um momento dentro do Tech House onde há uma geração nova de produtores brasileiros, ao qual você faz parte, que está fazendo a diferença e deve dominar as pistas nos próximos anos. Como você enxerga esse movimento sendo parte dele? 

Fico extremamente feliz e realizado ao ver o quanto a cena do Brasil está poderosa, é incrível ouvir demos de produtores daqui com tanto talento e vontade de aprender e fazer algo diferente, algo novo. Além disso, saber que faço parte desse momento da história da nossa música é algo que me faz acreditar que estou no caminho certo.

Essa geração, inclusive, tem mirado muito uma estratégia de trabalho que funcionou bastante nos últimos anos, mas que de certa forma estava um pouco de lado: o combo suporte de big names + foco específico em algumas gravadoras. O que você pode nos contar sobre o impacto que o Bibi e o time da Solid Grooves tiveram nesse momento da sua carreira? Os suportes e o lançamento eram como um objetivo inicial?

De fato essa estratégia funciona, e muito. Porém, sempre sonhei em ver minhas maiores referências tocando uma música minha, feita em meu quarto, cheia das minhas ideias loucas e carregada da minha mais autêntica pessoa. Com toda certeza assinar com a Solid Grooves sempre foi um sonho para mim, visto que era a gravadora que eu mais ouvia.

Poder fazer parte deste time gerou um destaque para mim e me apresentou para muitas pessoas, abrindo muitas portas e principalmente me dando ainda mais vontade de seguir produzindo…

Neste mês, você teve sua estreia pela conceituada Revival New York. Warning segue uma proposta que firma sua identidade enquanto produtor, mas também traz um certo ar old school do Tech House do começo do século na minha visão. O que te inspirou e motivou na criação desse release? 

Realmente, gosto muito desse Tech House old school. A Warning possui um synth agressivo que acompanha a track do início ao fim, ela possui algo único que costuma se diferenciar no meio de um dj set, uma coisa que sempre busco fazer, diferente.

Como DJ, sua pesquisa acompanha exatamente a linha da produção musical ou você também busca habitar outros campos? Você se sente pronto para encarar as principais pistas do Brasil?

Como DJ, busco explorar diversos campos, gosto muito de contar uma história com traços de Minimal e Tech House. Estou podendo apresentar um som diferente, algo que possa marcar a pista de alguma forma e com isso, me sinto pronto para explorar as pistas do Brasil.

Vejo sua carreira com um enorme potencial global. Como você tem preparado esse terreno entre os objetivos nacionais e internacionais neste momento? 

Mal posso esperar para viajar o Brasil e o mundo, meu maior sonho/objetivo atualmente é poder conhecer o maior número de clubs e pistas ao redor do globo. Tenho como objetivo poder apresentar minhas tracks e minhas referências para o maior número de pessoais possível.

Para finalizar, uma pergunta clássica do Alataj. O que a música representa em sua vida? 

A música é a principal maneira que tenho de me expressar, poder tirar aquele beat da cabeça, transferir para a DAW e alguns dias depois ver pessoas dançando e aproveitando minha arte, é algo indescritível…

A música conecta.

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