O fervor artístico de São Paulo está para todos, mas nem todos estão para o fervor artístico de São Paulo. Talvez a mágica da ODD seja exatamente essa: o olhar atento à criatividade fora do óbvio que nos cerca — uma característica que pautou o desenvolvimento da marca ao longo desses sete anos. E falando em desenvolvimento, se desenvolveu tão bem que é tranquilo afirmarmos que o olhar atento da ODD passou a se estender também ao restante do país e porque não mundo? A edição anterior com Carista é o suficiente para defender essa “tese”.
A verdade é que Davis, Márcio Vermelho e Zopelar criaram um cosmos que se transformou em um berço onde a arte, criatividade e liberdade se fundem de forma fértil — seja para os artistas que encontram na marca uma força propulsora para seu trabalho ou os que simplesmente passam por essa pista e se abrem ao que ela tem a oferecer, em uma dinâmica que todos ganham, mas principalmente o público.
Em mais um final de semana, ganharemos a oportunidade de desfrutar desse momento em pista, dessa vez, embalados por algo inédito no país: um back to back entre Âme (representados por Kristian Beyer) e Dixon, os cabeças da grandiosa Innervisions. Acompanhados de um lineup que reflete a ODD em sua mais pura natureza, no galpão da Fábrica de BrinqueDDOS, mais um capítulo dessa história que parte para o oitavo ano será escrito. Às vésperas da última do ano, conversamos com Davis e Vermelho, que vão se juntar também em back to back nessa emblemática edição.
Confira a conversa que percorre das demais atuações da marca, ao VA Escape From São Paulo, pela In Their Feelings, braço da ODDiscos — disponível nas plataformas digitais em 2 de dezembro —, até as expectativas para a noite de amanhã, 26. Para esquentar e deixar rolar no momento de leitura, deixo abaixo um dos meus mixes preferidos de Dixon em b2b com Âme. Segue o fio!
Alataj: Olá Davis e Márcio, muito obrigada por nos atenderem às vésperas da última edição da ODD deste ano, e acredito que também uma das mais importantes na jornada da marca. O anúncio do back to back entre Âme e Dixon veio logo após uma edição emocionante com a Carista… e que ano, hein? Do início de 2015 até a recepção de um dos b2b mais aguardados por aqui, o que vocês entendem como um ponto crucial na jornada da ODD?
Davis: Acredito que a regularidade e a integridade com as nossas ideias ao longo desses anos construiu uma identidade muito única para a ODD, e eu enxergo isso como um ponto crucial. De lá para cá, nos permitimos experimentar diferentes aspectos da música e artes visuais e apresentar isso sobre uma ótica própria, que reverbera na cena eletrônica mundial.
Márcio Vermelho: Um dos aspectos mais fascinantes da ODD é que ela se desenvolveu até aqui de uma forma muito consistente e contínua. Não vejo com muita clareza um ponto crucial, uma virada, e sim muitos capítulos importantes que foram se condensando e nos levando até a próxima experiência.
Eu destacaria o retorno da festa pós período de isolamento da pandemia como um momento marcante. Todas as edições de 2022 tiveram um sabor muito especial.
E como estão as expectativas por aí para sábado? Dixon já passou por uma, mas era um desejo específico reunir os cabeças da Innervisions em uma pista da ODD?
MV: Expectativas nas alturas, estamos trabalhando para fazer uma festa inesquecível. Dixon já é de casa, é a terceira vez que se apresenta na pista da ODD, só que agora com esse aguardado b2b inédito com Âme. Além deles, uma série de artistas incríveis estreando ou retornando na cabine da festa.
Davis: Toda edição da ODD traz uma expectativa alta de ter uma conexão com o público e uma entrega de excelência da festa, essa edição de encerramento do ano tem um sentimento ainda mais especial. Sobre o b2b não foi um desejo específico, foi algo que aconteceu muito naturalmente.
Direcionando a pergunta ao Davis agora, você lançou Blind (uma faixa icônica, inclusive) pela Innervisions, no icônico Secret Weapons, VA anual da label. Qual característica do selo você julga ter sido pontual na conquista do público brasileiro?
Davis: Acredito que essa conquista se deu também pela integridade e consistência do selo com a proposta deles.
O lineup de sábado traz uma síntese muito concisa do que é a essência musical da ODD: multidisciplinar, instigadora, aberta a possibilidades… como foi o processo de escolha dos seletores que vão compor essa noite especial e de alguma forma, nota-se que são artistas que se encaixam com absoluta coesão na história da festa, não é mesmo?
MV: A curadoria da ODD é feita meticulosamente, com muita sensibilidade. Davis, Zopelar e eu sempre nos debruçamos em nossas listas de nomes e ideias pelo tempo que for preciso até chegarmos em um line up que canalize o que gostamos, apostamos e o que faça sentido para a festa.
Davis: Sim, você resumiu muito bem a essência musical da ODD e como o Marcio disse, temos muito cuidado com nosso trabalho de curadoria.
Inclusive, vai rolar back to back entre vocês, né? Como é essa sinergia sonora de vocês?
MV: Sim, vai rolar! Recentemente fizemos um b2b bem especial, fechando uma edição recente da ODD. Acho que intimidade e afinidade musical ajuda muito na construção de um b2b, e isso temos de longa data, vem de muito antes da ODD. Tô animado!
Davis: Vai rolar, e tenho certeza que vai ser super especial! Já são praticamente duas décadas de amizade… mas agora me lembro de quando o Dekmantel nos pediu um b2b, acredito que foi o primeiro anunciado “oficialmente” …. foi especial, foi revigorante para mim. E depois tivemos duas outras ocasiões que me marcaram muito, uma na primeira ODD x Bassiani 2019 numa pistinha intimista pra lá de especial. E, agora em 2022 novamente numa ODD x Bassiani tivemos esse encontro, que todas as vezes rolou de uma forma muito fluída e construtiva, acredito que como resultado desses anos de troca, de amizade, respeito e admiração.
Desde o começo, a ODD tem uma premissa muito clara de promover experiências não só auditivas e visuais, mas também afetivas. Essa ideia gerou não só uma identidade muito bem acurada, mas uma comunidade de clubbers engajada e aberta. A ODD tem uma dinâmica muito importante, reunindo corpos padrões e dissidentes em um diálogo que une e modifica através da arte. O que vocês interpretam que os habilitou para juntar um público tão diverso de forma tão harmônica?
MV: Sem dúvida, a liberdade e o espaço seguro que procuramos criar para as pessoas e para todo tipo de manifestações, no ambiente da festa. Ouvindo sempre todas as sugestões e propostas, exaltando o respeito mútuo, reforçando que não há tolerância alguma com qualquer comportamento preconceituoso ou abusivo.
A mágica do encontro, da celebração dos sentidos, da troca, da expressão livre na pista e no palco, é intocável.
Davis: O ponto mais importante sempre foi nossos esforços em construir um espaço seguro para as pessoas que quisessem se conectar com a gente, se expressar de forma livre e colaborar para a construção dessa comunidade clubber. Sempre fico muito feliz em sentir esse cuidado mútuo que existe dentro da comunidade. Aprendemos muito com nosso público, tem sido um aprendizado cada vez mais enriquecedor do ponto de vista do desenvolvimento humano.
Mudando um pouco de assunto, recentemente vocês anunciaram a chegada do terceiro volume da já consagrada compilação Escape From São Paulo, pela In Their Feelings, braço da ODDiscos. Direcionando a pergunta ao Vermelho, responsável pela curadoria desse ano, como foi o processo de formulação do VA?
MV: A série Escape From São Paulo sempre buscou apresentar trabalhos de artistas brasileiros, que orbitam o universo da ODD de alguma forma.
O terceiro volume vem cheio de sons ácidos, cósmicos e viajantes. Convidei artistas que admiro e o conjunto final da compilação tem uma diversidade de produções muito interessante, músicas para vários momentos e pistas.
É muito curioso a forma que a ODD (em todas as suas atuações) fornece um espaço de incubação para a criatividade. Vocês caminham para os 10 anos e acredito que essa já seja uma marca registrada de vocês. Impulsionar a engenhosidade artística sempre foi uma prioridade?
Davis: Nossa força está nessa proposta! E posso dizer que tem muita coisa legal por vir para os próximos meses…
MV: Sempre. É o nosso dínamo, o impulso que gira a engrenagem ODD.
Chegando ao fim do nosso papo, como estão as projeções para o oitavo ano da marca? Rolam spoilers? (heheheh)
MV: Já estamos trabalhando na primeira edição de 2023. Muitos planos e novidades para o ano que vem. Assim que tudo estiver mais desenhado contamos pra vocês.
Davis: Nosso olhar para o futuro é animador, como o Márcio disse, estamos preparando muitas novidades para a alegria das clubbers.
Para finalizarmos, nossa pergunta rito: o que a música representa na vida de vocês? Muito obrigada pela disponibilidade e brilhem muito no sábado.
Davis: A música está presente na minha vida desde que me entendo como um ser, ela foi suporte em momentos de dificuldade e celebração. Enfim, posso dizer que ela me dá força para me mover todos os dias e criar uma vida repleta de realizações. Sou muito grato por tudo o que a música me proporciona.
MV: Música é o meu oxigênio, é o que me move. É a forma de arte mais sublime e universal, que calhou de ser a expressão do meu trabalho e prazer maior.
A música conecta.