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A música conecta

Alataj entrevista Ella De Vuono

Conteúdo powered by BURN Energy

A indústria musical exige cada vez mais criatividade dos artistas inseridos, é quase como um pré-requisito se você realmente quer se destacar dos demais. E não estamos falando apenas de ter uma sacada genial em uma música ou inovar em um certo momento do DJ set, mas sim possuir um “combo” de características que realmente fazem o artista se sobressair em meio a multidão de profissionais buscando seu espaço. Não temos dúvidas que essa combinação de fatores criativos foi um dos diferenciais para que Ella De Vuono fosse eleita a grande vencedora do BURN Residency 2019 – como já havíamos anunciado aqui

Além de talentosa nas cabines, sabendo dominar muito bem uma pista, Ella também tem personalidade forte, experiência nos estúdios e conhecimento histórico da música eletrônica. Nesta entrevista exclusiva, a primeira após seu título como campeã do programa, desvendamos os principais mistérios por trás de seu perfil artístico, um bate-papo descontraído que recomendamos até aos que não conheciam Ella. Ainda. Confira:

Alataj: Ella! Tudo bem? É um prazer falar com a vencedora do BURN Residency 2019! Primeiramente, como foi ao saber que você era realmente a grande campeã do programa? Tem como descrever pra gente?

Ella de Vuono: Oie! O prazer é todo meu. Muito obrigada! Olha, já era minha terceira tentativa no Burn Residency, então confesso que dessa vez eu não estava depositando tanta esperança assim, tanto é que estou de férias no Nordeste e tive que mudar o itinerário por causa dessa vitória.

Eu estava dirigindo e tive que parar o carro, fui ouvindo tudo que o Nonato [Gerente de marketing da BURN no Brasil] me falava e quando ele anunciou eu não consegui conter as lágrimas. Quando desliguei o telefone, eu e minha namorada ficamos gritando dentro do carro e nos abraçando.

E qual é a sua história com a música eletrônica? Você desde cedo sonhou em ser uma artista ou essa escolha acabou aparecendo de forma diferente? O que te fez chegar até aqui hoje?

Eu sempre fui rolêzeira. Começou com minha mãe me levando junto com ela para os bares. Eu adorava um agito. Mais adolescente eu frequentava as baladas da cidade, mas sem conhecimento nenhum. O interesse começou a despertar mesmo em 2005, quando eu comecei a ir em raves e clubs undergrounds. Levei a discotecagem em paralelo com emprego “normal” e faculdade, mais como um hobby. Viver como DJ era um sonho surreal pra mim à época. Até que decidi mergulhar de cabeça nisso em 2011, comecei a estudar muito discotecagem, história e produção musical e não parei mais.

Sempre sonhei em ser artista sim, acredito que quem é artista, nasce assim. Só que até entender em qual área da arte eu iria atuar, levou um tempo. É difícil te falar o que me fez chegar até aqui, porque são muitos fatores, mas acho que os principais foram: minha audácia em persistir em algo tão difícil e fora dos padrões, além da minha inconformidade extrema em me imaginar trabalhando em regime CLT, em horário comercial, dentro de um escritório: eu não nasci pra isso.

Rafa e Ella, duas personagens distintas que se completam em cima do palco. É isso? Qual sua característica mais forte quando você está atuando em um DJ set?

Rafa não é personagem, sou eu mesma. Mas a Ella é uma personagem, ou um outro lado meu. Essas duas forças se unem em cima do palco sim, é isso. Minha característica mais forte é: a ousadia. Eu sou abusada mesmo, toco umas tracks imprevisíveis, coloco acapellas e discursos feministas, faço scratchs, grito, danço, interajo com a pista, faço bem o que me dá vontade sem pensar em julgamentos.

De onde veio a ideia de body painting? Todas as apresentações contam com essa caracterização especial? Quais os detalhes mais especiais por trás da Ella De Vuono?

Eu tenho uma grande amiga, Silvia Campi, que é uma baita artista, ela faz body painting e é tatuadora. Um belo de um dia fizemos um ensaio fotográfico com ela me maquiando e então ela sugeriu que fizéssemos em algumas apresentações e eu adorei a ideia, pois eu já estava pensando em alguma identidade visual mais marcante. E funcionou super! Todas as apresentações contam sim com alguma caracterização, nunca a mesma, e algumas vezes com outros profissionais além da Silvia.

Eu acho que os detalhes começam na pesquisa, nas minhas influências, tanto visuais quanto musicais. Talvez um detalhe que me chama muito a atenção é a postura e o movimento da Ella, que é uma mistura de: drag + diva + lutadora de MMA. É feminino, é sutil, mas também é agressivo.

Sua carreira já é marcada com conquistas importantes como o prêmio de 1º lugar no Desafio DJ Brasil, a residência na Carlos Capslock… Vencer o BURN Residency Brasil pode ser considerada a maior delas até hoje? Quais outros highlights você destacaria?

Com certeza! Olha, sei que você já citou, mas ser residente da Carlos Capslock sempre foi um sonho, então eu me orgulho muito disso. Jamais vou me esquecer dessa oportunidade que o Tessuto e o L_cio me deram. Algo que eu gostaria também de destacar é ter conseguido montar meu home studio, isso foi uma grande conquista!

Ao todo já são quase 15 anos de estrada. Como você buscou aprimorar sua técnica ao longo de todos estes anos? O que você acredita ter sido fundamental para ser a escolhida entre os mais de 300 participantes do programa?

Eu reparei que os DJs que eu me espelhava tinham uma técnica absurda, então aproveitei o espaço que eu tinha na AIMEC Campinas, por ser professora lá, e passei grande parte do meu tempo treinando nos equipamentos deles (afinal ter um Kit Nexus 2 em casa não é simples e nem barato) encontrando formas de utilizá-los que fossem mais personalizadas. Ou seja, encontrando a minha maneira de usar o set up.

Teve um tempo que eu treinava 12 horas por semana. Eu acredito que minha originalidade tenha sido fundamental para essa conquista, além da pesquisa aprofundada. É muito comum os DJs tocarem house hoje em dia, sem nem ter noção de quem foi (e sempre será) Frankie Knuckles, por exemplo. A história é muito importante e a maioria nem se dá conta disso.

Você luta francamente por uma cena mais equilibrada entre homens e mulheres, certo? Qual a sua visão em torno do panorama atual? O que é preciso ser feito para que a balança fique nivelada?

Certo. Eu acho que o panorama está cada vez melhor, mas também acho que há uma confusão entre: competência artística e cota. Vejo muitos nomes em line ups que ainda têm uma bagagem muito rasa, amadora, só pelo fato de ser uma “minoria”. Então estão confundindo as coisas. Eu quero muito ver mais mulheres ou qualquer “””minoria””” (com muitas aspas mesmo) nos line ups, mas pelo fato de terem competência artística e não para serem cotas. Talvez, essas labels que pagam cachês para uma galera ainda sem experiência, poderia tentar investir em profissionalizá-los. Desde ceder um espaço e equipamentos para treinos, até buscarem parcerias para darem cursos.

Outra coisa que eu acho é: não podemos repetir a mesma atitude que condenamos nos outros, não se trata de ser uma supremacia da mulher, mas sim termos os mesmos direitos, ou seja: cachês à altura e melhores horários nos line ups.

Ultimamente você tem se dedicado mais ao trabalho de estúdio… poderemos ver novas produções de Ella De Vuono em breve? Quais são as novidades que já podem ser adiantadas?

Sim! Estou enfurnada no estúdio sempre que posso. Em breve nada, já estão rolando minhas novas produções em meus sets. Estreei faz tem quase 1 mês e foi sucesso todas as vezes que toquei! Estou muito feliz com o resultado. Eu acabei de terminar as tracks Rockstar e Richman, que compõem, ou compunham, meu primeiro EP. Digo compunham, pois ainda não é certo se será um EP ou apenas singles, está ainda sem label e previsão de lançamento.

Para encerrar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida? Obrigado!

A música representa a intimidade mais profunda que já consegui experimentar nessa vida. Com a música eu nunca estou só. Obrigada vocês, adorei as perguntas.

A música conecta.

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