Quando vemos um(a) artista brasileiro conquistar um grande sucesso mundo afora nosso coração pulsa junto, pois isso reafirma a confiança no imenso potencial artístico e criativo existente na cena do nosso país. Fell Reis é um desses exemplos de sucesso.
O artista mineiro, após se mudar para Ibiza, viu sua carreira musical alçar grandes voos que certamente ele não imaginava que aconteceriam aqui no Brasil. Com apresentações ao lado de artistas do gabarito de Sasha, Michael Mayer e WhoMadeWho – que o convidou para um remix especial da faixa Goodbye To All I Know -, Reis se tornou um nome requisitado no cenário espanhol, com um trabalho que permanece em constante evolução e expansão criativa.
Agora, ele acabou de ter uma de suas faixas selecionadas para a campanha de um dos maiores eventos de Ibiza. Sua faixa ainda unreleased, 33 Years Later, foi escolhida para embalar os vídeos promocionais do festival Palmarama, novo evento de abertura de verão do clube-hotel Ushuaia Ibiza.
Fell Reis é o primeiro brasileiro a assinar a trilha sonora de um evento do Ushuaia e, em ritmo de comemoração, ele bateu um papo com a gente para contar mais detalhes dessa conquista. Acompanhe!
Alataj: Olá Luiz, tudo bem? Você está em um ótimo momento de sua carreira como artista, ganhando bastante destaque no cenário, sobretudo após dividir cabines com nomes como Sasha, Michael Mayer e WhoMadeWho. Como você analisa sua trajetória até aqui?
Fell Reis: Olá, pessoal da Alataj, e muito obrigado pelo que vocês vem me dando e para toda a indústria da música brasileira!
Sou muito grato sobre tudo que aconteceu na minha carreira desde quando comecei lá no interior de Minas Gerais. Acredito que todas as pedras que foram colocadas no meu caminho eu soube analisá-las como oportunidades mais do que obstáculos. Sacrificar toda a minha vida por algo que parecia muito abstrato e longe no começo me provou a cada dia que o que estava predestinado a fazer era realmente o correto. Sempre tive bastante paciência e pressa ao mesmo tempo [risos]. Paciência para esperar o momento certo e pressa para estar ali quando esse momento acontecesse. E acredito que tudo vem dando bastante certo e estou muito orgulhoso de poder compartilhar a minha música com artistas tão grandiosos e que batalham pelo menos ideal que o meu que é fazer música não apenas por charts e status, mas sim para mudar a vida das pessoas através da mesma.
Durante esses meses afastado das pistas de dança, como você se mantém inspirado para o seu trabalho? Houve novas referências sonoras que te surpreenderam durante esse período e que você decidiu incorporar na sua identidade?
Não posso reclamar desse momento que estamos vivendo de maneira nenhuma. Tive momentos bastante depressivos e complicados, mas foram nesses momentos que as melhores inspirações vieram. Durante a composição do meu álbum fiquei por volta de uns três meses sem escutar música alguma porque queria saturar a minha própria mente no processo criativo. É óbvio que não se cria nada do zero e sempre haverá influências de tudo que absorvemos nessa vida. Mas confesso que fiquei muito feliz com o resultado e aprendi bastante com todo esse experimento, e se teve um estilo que com certeza se incorporou na minha identidade durante todo esses meses, posso dizer que foi o break, principalmente por estar morando em Londres e convivendo com grandes produtores do estilo me fez abrir a cabeça para um novo mundo.
A gente também ficou sabendo que você curte mexer com manipulação de imagem… de onde vem esse gosto? Você já trabalhou anteriormente com direção de arte ou algo similar?
A arte sempre esteve na minha vida em todos os sentidos. Eu sou designer gráfico há mais ou menos 18 anos, e posso dizer que foi uma peça fundamental para todo o meu crescimento na Europa. Me abriu inúmeras portas e sempre foi um backup financeiro para mim. Nunca quis misturar as duas vertentes pois não queria que as pessoas confundissem a minha pessoa, se sou músico ou sou designer. Mas agora vejo que faz parte fundamental da minha vida e como qualquer tipo de arte, o artista deve expressá-la. Estou tentando trazer mais esse lado para as minhas redes sociais agora e também trabalhando em grandes projetos envolvendo música e arte digital.
Quando você costuma abrir o Photoshop e criar algo? A partir de algum insight? E onde você aprendeu a fazer isso, foi tudo por conta?
Aprendi tudo de forma autodidata, eu sou skatista desde os 10 anos de idade e, na época do Fotolog, queria editar as minhas fotos em sequência para poder postar. Foi quando um amigo me apresentou o Photoshop. Desde então vem sendo meu melhor amigo [risos].
Saindo do mundo digital e indo para a realidade: sabemos que você possui um relacionamento especial com a Espanha, sobretudo com Ibiza. O que te levou a se mudar para lá? Foi a própria cena eletrônica que te atraiu?
Na verdade foi mais que música. Hoje acredito absolutamente na força da energia e que tudo que vivemos é reflexo da energia que emanamos. Estava completamente perdido e estressado no Brasil, mas não sabia o porquê. Algo me mandava ir embora, foi quando decidi ir para Ibiza para passar um mês. Lá dizem que ou a ilha te atrapa ou a ilha te expulsa. Nunca mais voltei [risos]. Tudo simplesmente fez sentido, a partir de então comecei a deixar a vida me levar sem medo algum. Ibiza mudou minha vida completamente.
Qual a influência que o cenário de Ibiza exerce sobre sua identidade musical? Quais são os artistas de lá que te inspiram na hora de produzir?
Essa é uma pergunta muito boa, pois Ibiza, por incrível que pareça, não tem tanta influência sobre a minha musicalidade. O som verdadeiro de Ibiza, que é a música balear, é bastante distante do que eu gosto de produzir. Acredito que, como muitos brasileiros, sou bastante eclético. Nós desde pequenos fomos alvo de tudo que vinha de fora, sempre sofri influências de todos os tipos. Quando fui pra Ibiza a coisa ficou ainda pior [risos], porque eram tantos artistas de todos os lados que realmente me perdia digerindo tudo aquilo. Mas artistas que me inspiram bastante hoje em dia são Sven Vath, Axel Boman, Four Tet, International Anything, Pop Noname, Eva Geist e muitos outros.
Por falar em Ibiza, o verão de lá está com portas abertas e o emblemático Ushuaia Ibiza escolheu a sua faixa 33 Years Later para embalar a campanha das noites da nova festa Palmarama. Como que rolou esse approach do Ushuaia Ibiza com seu trabalho? Você já mantinha algum tipo de contato com eles antes?
Eu já tinha um contato não profissional com eles, conheço pessoas que trabalham na coordenação do club. Sempre foi uma relação de amizade, mas acredito que eles sempre acompanharam meu trabalho também. Nunca pedi nada para eles, e se isso serve de dica nunca peça nada para ninguém, faça o seu trabalho bem feito que tudo acontece, e foi exatamente isso que aconteceu. Eu mandei a 33 para o meu amigo que trabalha lá apenas para saber o que ele achava, sempre compartilhamos músicas. Ele disse que tinha adorado, e ficou nisso. Passou umas duas semanas ele me ligou falando que tinha mostrado a música no escritório, e até pediu desculpas por compartilhá-la sendo unreleased, mas que a track encaixava perfeitamente para a nova proposta do club.
E como você se sente sendo o primeiro brasileiro a assinar a trilha sonora de uma campanha do Ushuaia Ibiza?
A sensação é de dever cumprido, sinceramente. Nós brasileiros temos um cenário muito complexo, seja social ou cultural, entre a parte vitimista e a outra que se apoia em algo/alguém para crescer. Vivemos muita das vezes na escassez de talentos e não precisa ser assim! Não arquitetei nada que está acontecendo na minha carreira, mas também não deixei a peteca cair e não me vendi para qualquer coisa que ia contra os meus princípios. Sai do país não para fugir dele, mas para mostrar para todos nós que podemos fazer a diferença!
Sobre a faixa em si, você produziu ela com o cantor D.Nada, certo? Conta pra gente como surgiu a ideia por trás dessa track e como foi o processo criativo dela?
Eu sempre quis trazer um lado mais “banda” para minhas músicas, confesso que estava um pouco frustrado com elas. Quando veio a pandemia e me tranquei no estúdio comecei a tentar todos os estilos possíveis. Mas não para fazê-los, mas sim para entender seus processos criativos, como é composto etc. Eu sou da geração dos 90, a MTV ditou grande parte da minha infância e sempre fui do Rock – tive banda quando era pequeno, minhas melodias quase sempre acabam em power 3 [risos]. Então queria dar esse toque. E a 33 Years em especial foi a reunião de novos experimentos. Escrevi a minha primeira letra, trouxe um cantor, compomos as guitarras… foi um processo muito interessante e que me abriu um novo mundo de ideias.
E dando continuidade a esse ótimo momento de sua carreira, como estão os planos para os próximos meses? Novos lançamentos ou gigs já confirmadas?
Não posso estar mais emocionado com tudo o que está por vir. Temos grandes projetos para os próximos meses, um deles que será bem focado na América do Sul é em qualificar os novos talentos para a indústria mundial. Devido aos recursos limitados que temos muitos artistas se frustram por não conseguirem entregar um material de qualidade para o alto padrão internacional. Queremos quebrar essa barreira e otimizar as ideias de novos talentos para que possamos ter um som original e de qualidade.
Na parte artística estou trabalhando em colaboração com alguns artistas para o lançamento da minha gravadora, que será muito mais de uma lançadora de música, mas sim uma comunidade onde os artistas irão evoluir em muitos outros aspectos além da música.
A 33 Years tem lançamento previsto para fevereiro e será o primeiro single de uma série que antecede o álbum.
Enfim, tem muita coisa por vir, isso é o que posso revelar por agora.
Agora para finalizar uma clássica do Alataj: o que a música significa para você?
A música muda o mundo!
A música conecta.