Gabi Lorensatto está há de 13 anos trabalhando nos bastidores do mercado da música eletrônica, incluindo sete anos de Plusnetwork (com direito a administração de um dos palcos do primeiro Tomorrowland Brasil) e dividindo-se, por cinco anos (até a pandemia começar), entre Porto Alegre, sua cidade natal, e Londres — onde graduou-se em Artist Management e Music Business Diploma pela Point Blank. Hoje, como manager de Kolombo há quase uma década, LouLou Players e Fran Bortolossi, além de co-criadora e label manager da Otherwise Records, gravadora do próprio DJ belga, ela tem muita história pra contar.
Numa iniciativa dela e de seus artistas para compartilhar conhecimento e integrar produção musical e music business em um só curso, surgiu o Teamwork 360º, que dividirá muito conhecimento a respeito dessas duas áreas em mais de cinco horas de conteúdo, além de diversos bônus para os primeiros alunos, como aulas ao vivo pelo Zoom e concursos de remixes e discotecagem.
As matrículas foram abertas na segunda-feira (24) e seguem apenas até esta sexta (28), por R$ 997. Para saber mais sobre sua trajetória e a iniciativa, conversamos com Lorensatto.
Alataj: Gabi, conta pra gente mais sobre sua trajetória no mercado da música. Como foi que você se tornou manager e quem foram os primeiros clientes?
Gabi Lorensatto: Minha jornada profissional começou em 2008, quando fui convidada pelo Rodrigo Moita (hoje um dos sócios da Entourage), que na época recém tinha comprado a Sold Out, agência de bookings de talentos do Rio Grande do Sul, para trabalhar com ele.
Trabalhei por um ano com a Sold Out, que foi onde tive a oportunidade de aprender muita coisa e conhecer muita gente importante na minha carreira, como o Fran Bortolossi. Nos conhecemos através de um contato para contratar o Juan Rodrigues para uma Colours, e desde então somos amigos e trabalhamos juntos.
Meus primeiros clientes foram os DJs Juan Rodrigues, Mozart Riggi e o próprio Moita, além de atender os promotores de eventos com os bookings. Já em 2009, fui chamada para representar os bookings do Rio Grande do Sul na Plus Talent (antiga Plusnetwork), onde tive a oportunidade de expandir minhas habilidades e aprender muito, além de conhecer muita gente fundamental na minha caminhada nessa carreira.
Me tornei manager com o tempo. Vi que gostava mais do gerenciamento artístico do que de negociar com os promoters. Além disso, estudei Artist Management e Music Industry em Londres, o que me deu uma boa base.
O Kolombo acabou surgindo a partir do Fran Bortolossi? Como vocês dois acabaram estabelecendo laços tão sólidos, a ponto de você se tornar manager dele?
Sim, eles se conheceram em uma viagem do Fran a Europa. Eu já trabalhava como booker do Fran na Plus, e assim conheci o Kolombo e acabamos trabalhando juntos. A gente se deu bem de cara, e o Kolombo já tinha vontade que a gente assumisse o gerenciamento de carreira dele no mundo todo. Depois de pensar bastante e me preparar, abracei essa responsabilidade.
Ele possui outros managers fora do Brasil também, ou você é a única responsável por administrar a sua carreira?
O gerenciamento da carreira dele se concentra em mim, mas conto com parceiros essenciais para que meu trabalho seja possível, como o Fran, a Alliance Artists, Ban Talent na Argentina e outros agentes no mundo que gerenciam bookings, marketing e relações públicas da carreira dele.
Como foi que vocês decidiram tornar-se sócios na Otherwise? Qual o seu papel à frente da gravadora?
A Otherwise foi pensada e idealizada inicialmente por mim e pelo Fran. Sentimos que musicalmente o Kolombo e o LouLou Players estavam se distanciando. Coincidiu com uma fase em que os dois tiveram uma divergência musical — o Kolombo flertando mais com o Techno e o LouLou com o House com mais vocal.
Sentimos a necessidade de explorar mais esse momento do Kolombo, já que a LouLou Records estava ficando mais com a cara do LouLou Players. Conversamos com ele sobre a ideia e começamos a pesquisar referências e nomes para a gravadora.
No ADE de 2019, fechamos a distribuição e gestão da Get Music Group, distribuidora de Berlim. Meu papel é como label manager: sou responsável pela parte burocrática da gravadora e também da tomada de decisões, que sempre é feita em conjunto.
É curioso, porque o Kolombo é belga, mas parece brasileiro. Um dos seus melhores amigos e parceiro de turnê e estúdio é brasileiro, a manager é brasileira, ele vive em turnê no país. Sabe nos explicar como ele formou vínculos tão estreitos por aqui?
Verdade! Só falta ele tomar vergonha na cara e aprender a falar português [risos]. Brincadeiras à parte, como comentei no início, a gente se deu bem de cara. Nos conhecemos na hora certa, no momento certo. Teve um bom punhado de sorte nesse encontro. A convivência constante fez a gente se entender e se conhecer mais. Ele ama o Brasil e esse amor é recíproco.
São mais de dez anos cuidando das carreiras de Kolombo, LouLou Players e Fran Bortolossi. Quais os principais aprendizados que você tirou nesse período?
Foram muitos! Acho que, dos principais, foi ter mais paciência e tolerância. Somos grandes amigos, mas pessoas com personalidades e temperamentos diferentes. Sem contar os aprendizados profissionais que tivemos juntos durante esse tempo — foi exatamente essa a intenção de fazer o curso Teamwork 360º, para passar estes aprendizados adiante.
Como será exatamente a sua participação no Teamwork 360º?
Vou trazer a minha experiência de trabalho e conhecimento de tudo que estudei para artistas dispostos a ter uma postura profissional dentro do mercado. Só talento não forma um grande artista, só dedicação também não. Precisamos saber unir esses dois pontos com a política desse business, que é a parte que ninguém fala, a gente só aprende com a experiência.
Terei uma apresentação de estudos de caso, que estará na plataforma, de como nosso time se formou, e mais duas aulas no Zoom sobre posicionamento de carreira, propósito, branding e marketing para artistas.
Como foi que vocês quatro perceberam essa oportunidade de mercado e resolveram lançar essa masterclass? E como exatamente ela será diferente das outras tantas que vemos por aí?
A ideia surgiu há quase um ano, mas devido a questões pessoais de todos nós, o projeto não conseguiu se desenvolver muito ano passado. Com a paralisação dos eventos, tivemos um ano inteiro de planejamento cancelado em praticamente um dia. Além disso, 2020 foi bem pesado na minha vida com o falecimento dos meus pais em um curto espaço de tempo.
Foi da vontade de passar o conhecimento adiante e de também descobrir gente nova que esteja disposta a trabalhar. Então por que não ensinar como a gente trabalha e ver no que dá? Foi mais ou menos isso. É diferente porque a maioria dos cursos ou é sobre produção musical, ou é sobre carreira, por exemplo. O nosso abrange mais os principais pontos da carreira de um artista de música eletrônica, por isso o 360 no nome.
Como o Teamwork 360º vai funcionar exatamente?
Vamos lá…
Serão 26 videoaulas na plataforma, somando mais de cinco horas de conteúdo, sendo:
- Kolombo em seu estúdio na Bélgica: desconstrução da track Remember + processo criativo na gravação de sons para a produção de duas tracks em collab com o Fran Bortolossi, em que eles fazem as tracks desde o início no estúdio do Fran em Caxias do Sul.
- LouLou Players no estúdio da Bélgica: desconstrução de uma track, mais como fazer uma collab com participação especial em aula bônus do engenheiro de som Pimpo Gama. LouLou contando e explicando como funciona a dinâmica e rotina de uma gravadora, falando sobre a LouLou Records.
- Gabi Lorensatto com estudo de caso do Teamwork 360º + aulas no Zoom sobre posicionamento de carreira, propósito, branding e marketing para artistas.
- Aulas no zoom com Fran Bortolossi, com toques finais das tracks feitas em estúdio.
- Canal exclusivo para envio de demos para as gravadoras LouLou Records e Otherwise Records.
- Remix Contest das tracks produzidas para o curso; os vencedores lançam em nossas gravadoras.
- DJ Set Warm-Up Contest: vencedor toca na Colours de Caxias do Sul quando tivermos a retomada dos eventos ao vivo e também tem o set transmitido no podcast da festa.
Todos esses benefícios serão somente para primeira turma. Não temos previsão de quando vamos abrir mais turmas, então a hora é essa! Tô bem ansiosa e acho que vai ser bem legal para quem tiver a fim de ter uma oportunidade de saber mais como trabalhamos, e também estamos sempre de olho — os alunos que se destacarem têm a chance, sim, de entrar pro time. Não é uma promessa, mas estaremos atentos!
Quais as principais dicas que você pode dar para quem pensa em seguir carreira no music business?
Além de fazer nosso curso [risos], acho que o principal é admirar o trabalho do artista com quem você vai trabalhar, sem isso fica praticamente impossível seguir. Entender o que te faz querer trabalhar com isso, o real propósito. Music business não é fácil, envolve bastante política e dedicação, mas para quem ama esse trabalho o perrengue se torna muito gratificante.
Eu mesma não imaginava que iria tão longe nessa carreira. Já pensei em jogar tudo pro alto e sair na rua cantando “Freedom”, do George Michael, muitas vezes (só o refrão)[risos]. Mas no fim, acabo inventando mais projetos e estou sobrevivendo a uma pandemia, então acho que vai demorar um pouco até o meu ”George Michael moment” chegar, [risos]!
A música conecta.