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A música conecta

Alataj entrevista Emmanuel Schmidt [Loopstrings]

Por Caio Stanccione em Entrevistas 15.04.2021

Emmanuel Schmidt é um músico multi-instrumentista, professor de produção e teoria musical pela AIMEC e já vive de música há pelo menos 20 anos. Em 2011, ele decidiu sair da zona de conforto e iniciou um projeto de música e tecnologia chamado Loopstrings, onde a arte do Live Act é o foco principal.

Ao longo da última década, Emmanuel apresentou conquistas significativas, além de conteúdos que também não são comuns de se observar, como uma apresentação ao vivo com guitarras e sintetizadores, no meio da rua, criado especificamente para um concurso mundial da Toyota, chamado Feeling the Street. Agora, praticamente cinco anos depois, ele resolveu revisitar esse modelo e graças ao apoio da Lei Aldir Blanc (14.017), pôde realizar uma apresentação live act na Praça da Figueiras, em Camboriú/SC, que foi lançado recentemente:

Para entendermos melhor a evolução de Loopstrings, convidamos Emmanuel para um bate-papo onde ele nos conta de fato do que se trata o projeto, além de outras particularidades que o fizeram chegar onde está.

Alataj: Olá! Conte-nos um pouco sobre sua trajetória? Como sua caminhada como músico começou e qual foi o momento que você percebeu que seria uma carreira a ser seguida? 

Emmanuel Schmidt [Loopstrings]: Olá! Foi por volta dos nove anos de idade que eu tive contato com meus primeiros instrumentos musicais e, como eu ainda era uma criança, era algo completamente sem compromisso. Quando entrei na faculdade, a necessidade de pagar as contas me fez pensar em usar todos os anos que tinha em cima do violão e flauta doce como uma forma de renda e passei a tocar em barzinhos além de dar aulas de violão. Foi nessa mesma época que eu descobri que existiam cursos superiores de música, o que de fato me fez começar a ver a coisa toda com mais seriedade e como uma opção de carreira. Com o tempo acabei abandonando o Turismo e me dedicando à faculdade de Música.

Você possui bacharelado em música. É correto afirmar que uma formação acadêmica muda a vida de um aspirante a músico/instrumentista ou o dom ainda tem peso maior na carreira de um artista?

Apesar de algumas pessoas terem mais facilidade para desenvolver sua musicalidade, o que eu acredito ser o que as pessoas chamam de dom, eu acredito que o estudo junto com a prática ainda é o mais importante. No entanto, não acho que o estudo acadêmico formal seja necessariamente o melhor caminho. Eu sou muito grato pelos tempos de faculdade, quando tive a oportunidade de me dedicar de forma intensa ao meu desenvolvimento musical, assim como conhecer contextos musicais e linhas de pensamento muito diferentes da minha realidade sócio-cultural, e isso foi uma experiência incrível que somente a academia poderia me entregar. Porém, profissionalmente falando, existem muitas formas alternativas e informais de estudo musical que podem contribuir com a mesma importância.

Seu contato com a música eletrônica é algo que te acompanha desde os primeiros dias como músico ou foi algo que você acabou descobrindo depois? Qual foi a vertente musical dentro da Música Eletrônica que te despertou curiosidade num primeiro momento?

Eu acredito que, para mim, o grande despertar para a música eletrônica foi em 2001 quando passei um tempo morando em Londres e através de um primo, DJ Raphael Pelizzaro, que tocava no The End Club, tive a oportunidade de conhecer parte da cena musical local e assistir de perto artistas como Layo e Bushwacka. Foi também nesse cenário que conheci o Jazz House, vertente que explodiu minha mente e mudou toda a minha visão sobre a música eletrônica. Outra coisa muito importante desse período foi ter contato com os primeiros softwares de produção musical, se eu não me engano versões mais antigas do Fruity Loops e Reason.

Além de bacharel em música e multi-instrumentista, você também é professor de produção musical. Como foi se descobrir apto para ensinar outras pessoas a perseguirem o sonho de ser produtor musical?

Acho que pode ser uma soma de experiências com aptidão. Eu me divirto muito tocando, compondo, produzindo, mas talvez a minha maior paixão na música seja ensinar. Essa é a minha missão de vida, pois me sinto muito bem ao ajudar as pessoas a se expressarem musicalmente. A experiência dos primeiros anos dando aulas de violão contam muito porque não se tinha um perfil exato de aluno, na mesma tarde eu dava aula para uma criança de 10 anos e para uma senhora aposentada, fui aos poucos desenvolvendo uma metodologia que se adaptasse para diferentes situações. 

A transição das aulas de instrumento para as aulas de produção musical se deu pela coincidência da minha volta ao Brasil ser na mesma época em que a AIMEC (Academia Internacional de Música Eletrônica) estar abrindo sua sede em Balneário Camboriú. Me lembro que na mesma hora que eu vi a escola, eu entrei, conversei com o então proprietário Ilan Kriger e vimos que eu tinha o perfil exato para ser o professor de Teoria Musical do curso de produção musical. Eu encontrei ali total consonância com meus recentes interesses adquiridos na Inglaterra, a música eletrônica e os softwares de produção musical.

Como surgiu a ideia de montar um curso online para produtores musicais? Pode nos contar um pouco mais sobre o Dominando As Notas Musicais

Após alguns anos dando aulas de produção musical eu percebi que uma das grandes dificuldades dos produtores não estava na produção em si, mas em uma etapa anterior, na própria criação da música, em saber criar melodias, fazer progressões de acordes, criar o arranjo dos diferentes instrumentos da track e saber quais notas, escalas ou tipos de acordes vão representar as sensações e emoções que o produtor quer passar na música. Essa é uma situação muito comum, já que muitos produtores de música eletrônica são DJs que começam a compor as próprias músicas, e sendo assim, esses DJs possuem grande experiência com timbres, equalização e mixagem, porém em sua maioria, não possuem experiência com instrumentos musicais ou conhecem teoria musical, o que reflete em grandes dificuldades na hora de compor as ideias principais da música que posteriormente será produzida. Essa realidade foi a principal motivação para criar um curso que ajudasse a resolver os problemas nessa importante etapa da produção.

O Dominado as Notas Musicais é um curso que mistura Teoria Musical, Arranjo e Composição, com didática voltada para produtores musicais, mostrando de forma simples e lógica como a linguagem musical funciona e consequentemente fazendo com que o produtor consiga criar músicas mais harmônicas, com melodias marcantes e que reflitam as emoções que o produtor quer passar através da música. O fato do curso ser online é também uma ideia antiga, e que acabou se tornando a melhor opção de estudo para o momento em que nos encontramos.

Você é um artista que entende como incentivos governamentais funcionam, tendo em vista que foi aprovado pela Lei Aldir Blanc através do Loopstrings. Essa é sua primeira experiência com isso? 

Foi minha primeira vez aprovado como proponente, porém, com o Loopstrings eu já havia participado como artista e oficineiro em outros projetos viabilizados por leis de incentivo a cultura, como o METE O SOM (Festival de Música Eletrônica, Tecnologia e Eletroacústica) e  com a banda Tarrafa Elétrica, já viabilizamos diversos outros projetos como a gravação do CD Linhada de Cultura, circulação de shows pelo estado e gravação do DVD 15 anos Tarrafeando. Estes projetos foram contemplados em diferentes editais de lei de incentivo à cultura, alguns com âmbito municipal e outros com âmbito estadual.

O projeto Loopstrings existe desde quando exatamente? Ele foi pensado para ser algo voltado às pistas de dança ou isso foi algo que aconteceu naturalmente?   

O projeto teve início em 2011, sem um nome definido, de forma muito experimental e despretensiosa. O objetivo era testar alguns recursos de novos softwares e equipamentos que eu recém havia conhecido, testando a possibilidade de criar ao vivo uma música que se aproximasse da qualidade de uma música tocada por um DJ, ou seja, de uma música que já tivesse passado por todas as etapas de mixagem e masterização.

Após as etapas iniciais do projeto que foram realmente experimentais, a qual eu toquei principalmente em eventos acadêmicos ou focados em arte e tecnologia, eu criei algumas versões de músicas de artistas como Moby, Kraftwerk e Hendrix, em um formato de vídeos curtos para Youtube. Já com o nome Loopstrings, em 2016 eu adaptei o formato para um vídeo de música autoral, criado especificamente para um concurso mundial da Toyota chamado Feeling the Street (Mesmo nome da Música), com o qual eu fui finalista. O concurso era focado em apresentações de músicos de rua, coisa que eu já havia me aventurado com um formato mais acústico. Acabei vendo nesse concurso uma oportunidade de juntar as apresentações de rua com uma vitrine global para o Loopstrings. 

Feeling The Street acabou se tornando a música tema da etapa final do concurso, e o vídeo da música acabou se tornando a referência principal para a criação do vídeo desse novo projeto, o Loopstrings na Rua, que também buscou registrar uma performance ao ar livre em um ponto turístico, agora na praça central (Praça das Figueiras) na cidade de Camboriú. A diferença principal no formato desse novo projeto é que o registro audiovisual busca um formato mais próximo de um DJ Set ou o que chamamos de Live Act, registrando mais do que uma única música, mas um set mais longo e com formato mais adaptado para performances em eventos de música eletrônica. É um objetivo relativamente recente, mas que além de se mostrar muito prazeroso, acaba aproximando o Loopstrings de uma outra atividade que faço em paralelo, que é acompanhar como Guitarrista, Djs/Produtores, como com a Cantora Dinamarquesa Ashibah, com quem tive a oportunidade de me apresentar em grandes clubs e eventos como a Green Valley e no aniversário de 10 anos da House Mag, no Terraza Music Park. Essas experiências certamente influenciaram parte da nova direção do projeto Loopstrings, sendo a outra parte dessa nova idealização trabalhar as performances na rua com projetos de lei de incentivo à cultura.

Pode nos contar um pouco qual setup você usa durante as apresentações e por que esse setup foi escolhido? 

Eu já testei diferentes setups, com mais instrumentos e possibilidades, mas no momento eu estou buscando o equilíbrio entre opções de instrumentos e a praticidade tanto ao montar e desmontar tudo quanto para o transporte do mesmo. Hoje eu utilizo um Macbook Pro, que é o cérebro responsável por rodar o software Ableton Live; uma interface de áudio da Focusrite Saffire Pro, responsável pela captação de áudio das Guitarras e Vocais; uma controladora de Teclas Alesis VI49, que a qual eu manipulo todos os sintetizadores virtuais e utilizo alguns botões remapeados especificamente para o projeto; e uma controladora APC40, onde eu controlo todos os disparos de samples, gravações e os efeitos utilizados no live act.

Além do Loopstrings você tem outros projetos musicais?

Eu faço parte a mais de 10 anos da banda/grupo cultural Tarrafa Elétrica, que é praticamente uma Big Band que mistura diversos estilos musicais com músicas folclóricas e com temáticas catarinenses, como por exemplo O Boi de Mamão e a Maricota. 

Eventualmente eu também acompanho como guitarrista, DJs/Produtores, como a cantora Dinamarquesa Ashibah, com quem tive a oportunidade de me apresentar em grandes Clubs e eventos como a Green Valley e no Aniversário de 10 anos da House Mag no Terraza Music Park. 

Muitos artistas usaram a paralisação no setor causada pelo COVID-19 para colocar ideias em prática, enquanto tantos outros preferiram reduzir o volume de trabalho e preferiram cuidar de questões pessoais. Para você, esse momento foi oportuno para colocar projetos em prática ou preferiu reduzir a carga e se conectar com outras questões que não fossem profissionais?

Eu acabei me dedicando ainda mais para as questões profissionais pois, coincidentemente, algumas semanas antes da quarentena começar eu havia colocado meu curso online no ar, então eu já estava focado em fazer uma certa transição das minhas atividades presenciais para atividades online. De qualquer forma, tem sido uma fase de muito estudo e aprendizagem, tanto profissional como pessoal.

O que podemos esperar do Loopstrings num futuro próximo? Quais são os próximos passos para o projeto?

Eu provavelmente irei reeditar algumas partes das gravações do Loosptrings na Rua, para lançar as músicas separadamente como versões de estúdio. Também quero dar continuidade ao projeto, ampliando as performances para outras cidades, buscando atrelar as mesmas com o turismo local, dando visibilidade a pontos turísticos, e ou com a Educação, disponibilizando além das performances, workshops relacionados a música e tecnologia.

A música conecta.

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