Entrevistas
Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann
Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann
Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann
Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann Marcel Dettmann

Alataj entrevista Marcel Dettmann

Como falar sobre música eletrônica em Berlim sem citar o nome de Marcel Dettmann? O DJ e produtor alemão, dono da MDR, residente do Berghain e artista da Ostgut Ton, é um dos principais expoentes do techno made in Berlin e dono de um perfil sonoro capaz de entregar uma proposta musical surpreendente até mesmo para os mais pesquisadores.

Criado em uma pequena cidade próxima a Berlim, Marcel desenvolveu sua paixão pela música eletrônica ainda na juventude, quando foi influenciado por bandas como Depeche Mode, The Cure e Front 242. Seu primeiro contato com os discos aconteceu ainda em sua cidade natal, quando começou a vender discos em sua casa afim de incentivar o cenário local. Foi por esse caminho que ele desenvolveu seus primeiros contatos com a Hard Wax, loja que viria a se tornar uma espécie de casa algum tempo depois.

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, árvore, atividades ao ar livre e close-up

Após o boom da cena eletrônica em meado dos anos 90, Marcel passou a frequentar ainda mais Berlim, principalmente os clubs E-Werk e Tresor. O contato direto com as referências musicais de Chicago e Detroit, somado ao toque especial de tudo o que estava acontecendo em Berlim foi o estopim para que ele entrasse de vez nesse mundo e o resto, como dizem, é história. Dettmann passou a ser residente do núcleo Ostgut Ton, começou a trabalhar na Hard Wax e desenvolveu um extenso e profundo conhecimento musical aliado ao seu típico bom gosto.

Com uma consistência necessária para os artistas que buscam se estabelecer a nível global, ele rompeu as fronteiras da Alemanha para ganhar as pistas do mundo todo. Londres, Ibiza, Barcelona, Nova York, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro… a lista de cidades é grande e certamente uma sequência tão forte de tours tem oferecido a Marcel a oportunidade evoluir ainda mais sua cultura como um todo. Em meio a mais uma passagem pelo Brasil (Dettmann esteve em São Paulo e no Rio recentemente), falamos com ele, que finalmente deu sua primeira entrevista em português. Confira a seguir:

1 – Olá, Marcel! É uma grande honra falar com você. Seu trabalho é muito associado a cena de Berlim, sua cidade base. Fazendo um paralelo com o cenário da capital alemã há 10 anos, como você avalia todas as mudanças e evoluções que aconteceram? É possível dizer que hoje clubs como Berghain são “pontos turísticos” da cidade?

Claro, a mudança nessas cidades é um desenvolvimento natural – principalmente devido à história de Berlim. Embora as mudanças nem sempre sejam positivas, é sempre uma chance para coisas novas acontecerem. Nos dias de hoje, você definitivamente pode chamar Berghain e outros clubes pontos turísticos da cidade. Berlim se desenvolveu nos últimos 10 anos como a capital da música eletrônica na Europa.

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, óculos de sol e atividades ao ar livre

2 – Ainda sobre o Berghain. Eu percebo que atualmente a figura do DJ residente perdeu um pouco de força ao redor do globo e o seu club é um dos poucos a manter essa forte conexão entre artistas, público e staff. Na sua opinião, qual o real papel do residente nos tempos atuais?

Um residente não só toca regularmente em seu clube, como também o representa quando toca fora. Mas o importante para um residente é definir tendências e tentar introduzir coisas novas para o público quando está em casa.

3 – Depeche Mode, The Cure e Front 242, assim como o movimento pós-punk, são citados em sua bio como influências. Ser um jovem na Alemanha em um ambiente cultural tão efervescente pós queda do muro de Berlim pode ter ajudado você a desenvolver uma estética musical mais elaborada após se envolver com a música eletrônica e a discotecagem?

O ambiente em Berlim, principalmente após a queda do muro, teve uma grande influência sobre mim, tanto pessoal quanto como artista.

4 – Entre 95 e 98, você chegou a comprar alguns discos para revender em sua casa, certo? Quais são as melhores lembranças e aprendizados que restaram desse período?

Na época, em meados dos anos 90, eu estava obcecado em construir a minha coleção de discos, assim como para o comércio. Além disso, minha casa era um ponto de encontro de amigos para trocar ideias sobre novas músicas. Foi um momento e lugar de formação para mim, e foi onde eu construí a base do meu conhecimento sobre como produzir e distribuir discos.

A imagem pode conter: 1 pessoa, sentado e área interna

5 – Você é um cara que carrega a essência real de um DJ, acostumado a tocar durante horas sets dinâmicos e envolventes. Na sua opinião, o que separa um bom DJ dos demais? Atualmente, como você busca evoluir sua discotecagem?

Na minha opinião, um bom DJ é alguém que é flexível e pode reagir ao momento. Isso significa ser capaz de tocar ritmos, estilos, gêneros diferentes e conseguir surpreender o público. Isso significa fazer coisas antigas – trabalhando o mixer, mexendo com a multidão.

6 – Hard Wax e Berghain: como cada uma dessas marcas ,conhecidas internalmente, contribuíram para sua formação enquanto artista?

Aprendi muito com ambos. Para mim, são instituições que representam Berlim e continuam tendo uma enorme influência sobre mim. Hard Wax foi fundamental na construção do meu conhecimento em techno e house. É também onde aprendi tudo sobre a comandar um label – então, basicamente, sem Hardwax, sem MDR.

Antes de tocar no Ostgut, eu me considerava um bom DJ, mas lá, realmente aprendi a reagir em público, tocar sets longos e diversos. Isso também moldou meu personagem.

7 – Certamente você já criou muitos contatos e viveu experiências maravilhosas no comando do MDR. Poderia compartilha algumas delas conosco?

Foi uma experiência maravilhosa quando lancei meu primeiro disco e ainda esgotou muito rápido. De lá, entrei em contato com Radio Slave, Ellen Allien e Ryan Elliott. Estou feliz por meu label ter uma mistura de amigos novos e velhos – isso mantém as coisas equilibradas.

8 – Você esteve no Brasil recentemente (eu tive a sorte de assistí-lo no Warung) e agora retorna para mais duas gigs bem especiais. Quais são suas atuais impressões sobre a cena brasileira? O que você enxerga de melhor em nossas pistas?

Toda vez que viajo para o Brasil, passo por bons momentos. Acho que as pessoas aqui têm um certo sentimento pelo ritmo – sempre houve grande tensão na pista. Além disso, eu gosto muito que os brasileiros sejam tão abertos quanto eu acredito ser.

9 – Quando você é um artista que alcança certo grau de reconhecimento, é natural que você passe parte do ano viajando, esperando horas em aeroportos, dormindo mal e comendo o que é mais prático. Como você faz para conciliar sua saúde mental e física em meio as viagens?

Viajar não tem um impacto tão grande na minha saúde mental e física, isso é bom. Ter um equilíbrio quando você não está em turnês e relaxar quando você está em casa, esse é o principal problema. Mas é claro que minha esposa e meus filhos me dão o máximo de força.

10 – Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre almas. E você, como a enxerga? Obrigado por falar conosco!

Eu vejo exatamente assim. A música tem o poder de unir as pessoas. É uma verdade simples, mas bastante universal.

A imagem pode conter: 1 pessoa, em pé, óculos de sol e atividades ao ar livre

A música conecta as pessoas!