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A música conecta

Alataj entrevista Nastia

Por Ágatha Prado em Entrevistas 08.06.2021

Direto da Ucrânia para o mundo, Nastia é uma das forças da música eletrônica underground, e que através de sua versatilidade e maestria nos decks, segue representando com muito orgulho o cenário ucraniano nas pistas mundiais, sobretudo nas pistas brasileiras onde se tornou um nome amplamente reverenciado. Do Techno industrial ao House, Nastia construiu durante seus mais de 15 anos de carreira uma trajetória impecável como DJ, radialista e agora como headlabel da NECHTO, gravadora que ela deu start em 2019 com foco nas atmosferas do Techno.

Através da NECHTO, em parceria com a Ballantine’s, Nastia estreou no início deste ano a série Scary Beautiful, projeto audiovisual onde Nastia seleciona faixas enviadas por produtores do mundo inteiro, reunindo-as em uma compilação homônima e posteriormente apresentadas em DJ sets gravados em lugares inusitados, assustadores e ao mesmo tempo deslumbrantes. A primeira temporada, que foi ao ar em março deste ano, contou com cinco episódios gravados em cenários como a estação Chernobyl-2 Duga Radar e a mineradora de carvão em Kirovohrad, embalados por sonoridades de diversos produtores de Techno, incluindo uma faixa do produtor brasileiro KaioBarssalos.

Pois bem, quem estava ansioso pela retomada de Scary Beautiful já pode aproveitar o deleite, porque a série acaba de estrear a nova temporada que vai contar com mais cinco episódios em lugares fascinantes e ainda mais misteriosos. O sexto episódio já está no ar, e Nastia visita a Primeira Fábrica de Construção de Máquinas de Kiev, anteriormente conhecida como Bolchevique

Conversamos com Nastia para conhecer mais detalhes sobre o projeto, novidades da segunda temporada e seu momento atual de carreira. Acompanhe.

Alataj: Olá, Nastia, tudo bem? É um grande prazer entrevistar você. No final de 2020 você deu start ao projeto Scary Beautiful, série audiovisual destinada aos lançamentos da NECHTO em parceria com a Ballantine’s. Como surgiu a ideia da criação dele? O que te motivou de fato? O projeto tem um importante fator de impulsionamento aos artistas, certo? 

Nastia: Olá, pessoal! Obrigada pela atenção. A ideia surgiu durante o verão de 2019 e eu quis fazer o projeto global, ao redor do mundo. Porém, veio a pandemia e eu decidi tentar na Ucrânia. A motivação foi fácil – todos procuram mostrar apenas a beleza, os locais e paisagens mais perfeitos, mas para mim é um pouco monótono, por isso quis fazer diferente e mostrar lugares diferentes, perdidos, abandonados, destruídos… mostrar apenas beleza é artificial. E sim, depois tive a ideia de tocar apenas músicas inéditas e depois lançá-las na minha gravadora. As portas da minha gravadora estão abertas para quem quiser e puder.

Dentre os episódios da série até aqui, confesso que o que mais me deixou hipnotizada foi a edição na estação Duga Radar, em Chernobyl, que você construiu uma trilha sonora arrepiante. Como foi gravar nesse local com um passado tão denso? Você também chegou a ficar arrepiada com o cenário?

Só lembro que estávamos com pressa para gravar e estava frio. Quando me concentro no meu trabalho não penso em mais nada. Naquele dia, eu estava totalmente concentrada nas gravações. Para vivenciar o lugar de maneira adequada, preciso organizar outra viagem apenas para isso. Também não sabia como ficaria a versão final, então apenas toquei e foquei 100% na mixagem.

Imagino que o processo de gravação nesses lugares não tenha sido algo tão simples. Você e sua equipe encontraram dificuldades para realizá-las? O que foi o mais desafiador até aqui?

O episódio mais desafiador até agora foi o sétimo, que está programado para o dia 8 de junho na segunda temporada. Quando começamos a gravar começou uma chuva imensa e não parei de tocar até o mixer parar de emitir som. Tivemos que parar e secar a água, conectar novamente e continuar a gravar. Durante o episódio, o tempo mudou pelo menos umas quatro vezes. Pensei que meu equipamento estava completamente danificado, mas percebi que sou uma mulher de muita sorte.

As faixas das compilações tocadas em suas apresentações parecem terem sido feitas sob medida para cada local que você gravou. Como tem sido esse processo de curadoria das faixas de cada compilação? Você tem gostado do que tem recebido? Acredita que a NECHTO já tenha uma identidade sonora bem forte?

A primeira temporada foi complicada. A gravadora era bem nova e eu estava extraindo ideias com o que as pessoas me enviaram. No fim, estou feliz com o resultado – as músicas ficaram bastante diversas. A questão é que os lançamentos da NECHTO são movidos principalmente pelo Techno, mas para SB VA LPs não têm limites – pode ser qualquer coisa e estou feliz por poder fazer ambos separadamente dentro de uma única gravadora. A segunda temporada será diferente porque selecionei três vezes mais músicas do que na primeira, então agora posso escolher o que é melhor para mim e para a gravadora.

Vimos que muitos dos nomes que assinam as compilação são novos artistas que estão ascendendo através da cena Techno mundial. O que mais tem chamado sua atenção neles? Se puder, também comente sua percepção sobre KaioBarssalos, produtor brasileiro que entregou a faixa Granular Obsection.

Não conheço as pessoas pessoalmente, então apenas ouço as músicas. Nem leio a introdução que elas escrevem, vou direto nos links do SoundCloud e se eu ficar interessada na música, aí checo quem é aquela pessoa, começo a conversar e discutir a possibilidade de participação no projeto. Se eu escolher a faixa, quero fazer mais pelo artista. Meu plano é conhecê-los quando puder viajar novamente e convidá-los para tocar nas festas em seus países quando eu estiver lá. KaioBarssalos é um cara muito talentoso, tenho acompanho as músicas dele agora e vejo um grande potencial! Na segunda temporada tem Dostroic (um projeto de Thomas Damy Maynard Haybittle e Samuel Nascimento Viegas), gosto deles também!

Estamos ansiosos para a próxima temporada da Scary Beautiful, você pode adiantar alguns locais que você vai estrelar dos próximos episódios? Quais outras inovações serão integradas na segunda temporada?

A segunda temporada será mais industrial no que diz respeito às locações e terá mais Techno no que diz respeito à música. Estou muito animada para ver a versão final dos episódios 7 e 8, lugares muito especiais! Ainda precisamos gravar mais dois episódios.

Agora falando um pouco sobre sua carreira e vida em geral… como anda sua rotina de estúdio nesses últimos meses em que a Europa ensaia a volta às festas presenciais?

Não estou trabalhando no estúdio, pois não produzo. Estou muito ocupada com meus projetos True Talk e Scary Beautiful + NECHTO enquanto gravadora e evento – tornou-se gigante em apenas um ano. Há muito a se fazer e estou gerenciando essas coisas sozinha, sem uma equipe. Estou feliz com os meus resultados e posso dizer que o último ano foi o melhor dos últimos 10. A Ucrânia é um dos melhores países da pandemia – não temos restrições rígidas e estamos mais ou menos livres para continuar construindo coisas. Consegui fazer dois grandes eventos da NECHTO durante a pandemia e os clubs estavam funcionando.

Estamos com saudades de vê-la nas pistas brasileiras. Será que podemos reencontrá-la por aqui no futuro breve pós-pandemia? Quais as melhores memórias que você tem de nosso país? 

O Brasil é um dos melhores e mais importantes países para mim e para minha carreira. É estranho, mas recebo mais apoio da comunidade brasileira do que da ucraniana, agradeço a vocês pelo entusiasmo e interesse pelo que estou fazendo. A melhor lembrança que tenho do país é aquela em que milhares de pessoas gritam o meu nome após eu terminar meu set. Uma das melhores festas da minha vida foi no Brasil e espero que em breve eu possa voltar com um showcase da NECHTO gigante com nossos visuais impressionantes de СЕТАП!

Agora para finalizar, uma pergunta clássica do Alataj: o que a música representa na sua vida? 

Música é um estilo de vida, uma fonte inesgotável de ideias e inspiração.

A música conecta.

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