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A música conecta

Alataj entrevista Nørus/Abysmal

Por Laura Marcon em Entrevistas 31.05.2021

Já há algum tempo Felipe Bortoloti está entre os proeminentes talentos da produção brasileira na música eletrônica, entregando obras de alta qualidade técnica e criatividade expansiva. House, Breakbeats e Eletrônica são apenas algumas das sonoridades exploradas pelo paulista através de seu pseudônimo Nørus, ganhando também cada vez mais força internacionalmente, realizando tours em países como Argentina, Portugal e Alemanha.

A pandemia forçou uma pausa dentro das cabines, mas dentro do estúdio Felipe seguiu voando longe e deixando seus sentimentos em relação ao período em que estamos vivendo se transformarem em música. Nasceu então Abysmal, seu projeto com um caráter sonoro mais sombrio e experimental. A relação com essa nova “persona” musical foi tão forte que logo de cara nasceu o álbum Resurrection. A obra foi lançada pela gravadora Matter Of Time, mais um novo projeto de Felipe. Conversamos com o artista sobre essas duas novidades em sua carreira.

https://www.youtube.com/watch?v=uJn3FQBoYgE

Alataj: Olá Felipe, tudo bem? Obrigada por conversar com a gente! Você apresenta um estilo de som em suas produções que fogem das linhas tradicionais da maioria dos produtores brasileiros. Como você chegou a elas e quais as inspirações para criá-las?

Abysmal: Olá! Eu que agradeço pela conversa. Soa um pouco clichê, mas ambos os projetos, Nørus e Abysmal, saem de forma muito natural. Boa parte disso graças às minhas influências, dentro e fora da música; mas também à minha vontade de alcançar meu estilo de produção. Creio que cada pessoa tem seu próprio universo interior, mutável e conectado às suas vivências, suas experiências diárias, ao ambiente onde vive…Cada ser humano é um livro único. O papel do artista, independente da área de atuação, é jogar um pouco de seu universo para o mundo exterior, da forma que mais lhe agrade.

Vamos falar sobre este novo projeto, Abysmal. Como surgiu a ideia para criá-lo? Ele possui uma intenção sonora específica?

O Abysmal surgiu da vontade de fazer algo desconexo do meu projeto principal, buscando mostrar um lado mais sombrio e pesado se comparado ao Nørus. Esta pandemia mudou, pelo menos por algum tempo, o nosso modo de ver e viver a vida, me fazendo repensar sobre tudo. O projeto é o reflexo destes pensamentos, a minha válvula de escape, tendo um apelo mais voltado à escuta e ao sentido. Desde a escolha do primeiro sample até a masterização, tudo foi pensado para despertar as mais diversas sensações no ouvinte.

O projeto já começa com o lançamento do álbum Resurrection, um projeto com uma linha bem Ambience, experimental, Downtempo. Como aconteceu o processo criativo deste trabalho? 

A música sempre me amparou nos momentos em que as palavras faltaram, e acredito que o exemplo perfeito disso é o Resurrection. Foi um processo tão forte que a parte da composição foi finalizada em uma semana. Eu simplesmente deixei tudo o que estava sentindo sair, sem pensar sobre o estilo, bpm ou outras coisas do tipo. Foi algo realmente muito terapêutico.

Um dos destaques das faixas, para mim, é a utilização de samples, principalmente dos vocais. Como funciona esse processo de produção dentro do estúdio?

Eu gosto de experimentar muito quando estou no estúdio, seja compondo, mixando ou masterizando. Falando especificamente dos samples, busco atingir diferentes resultados usando as mesmas fontes sonoras, e é algo que me ajuda bastante nos dias em que a criatividade não está muito presente. Além de samplear de outras músicas, gosto também de criar minhas próprias fontes, saindo por aí para gravar com um Tascam DR- 40 que comprei de um amigo há alguns meses.  É muito legal ver o que o barulho de uma casca de árvore pode virar após ser processado por alguns efeitos.

Ao longo da pandemia vimos muitos artistas lançando projetos ou faixas menos destinadas à pista de dança. Esse projeto também surgiu em tempos de isolamento? De alguma forma essa ausência de pista influenciou na forma de criar e produzir sua música?

Surgiu! O Abysmal nada mais é do que o espelho de como a pandemia me afetou, de como o isolamento mexeu com meu processo criativo. E, com certeza, a ausência de pista tem me influenciado bastante na hora em que eu vou compor. Sinto a minha música seguindo por um caminho mais melancólico e experimental do que normalmente é.

Você também lança agora sua gravadora, Matter Of Time Records. A criação de um label já era um desejo antigo ou surgiu neste período? Ele possui um estilo musical central que será trabalhado?

Sempre gostei de ter um selo próprio e, por conta disso, acabei participando da fundação de dois ao longo da minha carreira. É algo que sempre me deu mais liberdade e independência na hora de lançar meus trabalhos, e com o Matter Of Time não será diferente: Quero ser o mais diversificado possível, sem me basear em nenhum estilo musical central.

Sabemos que ser produtor no Brasil não é um caminho fácil e temos acompanhado a criação de bons labels nos últimos tempos. Você acha que ter sua própria gravadora é um fator importante no mercado que vivemos hoje?

Creio que possa ser um fator bem interessante, pois não há barreiras ou limites se você não os impor. Um selo próprio te dá a chance de mostrar ao mundo músicas que, por um exemplo, não se “encaixam” em selos já existentes, onde o artista acaba dependendo da aprovação de terceiros. E, com as ferramentas atuais, é muito mais fácil de qualquer artista se conectar diretamente às principais plataformas do mercado.

Podemos esperar mais novidades para Abysmal e Matter Of Time nos próximos meses?

Com certeza! Muitas coisas boas estão por vir. 

Para finalizar, uma pergunta que a gente sempre encerra nossas entrevistas: o que a música significa para você?

Significa que, por mais ínfimos que sejamos dentro do pálido ponto azul, temos uma conexão com algo maior, algo divino. “Sem a música, a vida seria um erro”

A música conecta.

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