Influenciado pelo profundo magnetismo que ecoava do Tech House e Techno no final dos anos 90, Sinisa Tamamovic foi abarcado pelas sonoridades, o que o conduziu a traçar os caminhos pela música eletrônica alternativa. Não precisou de muito tempo para que além de seletor, ele se transformasse em produtor musical e fomentador dos gêneros pela sua região, a cidade de Banja Luka, na Bósnia e Herzegovina. Desde 1999, ao lado do também DJ e produtor Mladen Tomic, satisfaz um público faminto através da Urban Beat, label party que evoluiu como principal promotor de eventos e festas do país, incluindo-o na rota de nomes internacionais que estão na linha de frente da cena.
Em dezembro de 2005 uma grande virada de chave acontece para Tamamovic, quando estabeleceu-se como produtor musical com o lançamento do EP de três faixas Sign 1, através da Adult Records. Com o amplo desenvolvimento musical, o debute em selos como 1605, Elevate, Plus 8, SCI+TEC, Yoshitoshi Recordings naturalmente veio, assim como colaborações com Eddie Amador e Paco Osuna. O bósnio foi remixado por Andhim, Joseph Capriati, Piero Pirupa e Wehbba e suas composições se infiltraram por sets de Adam Beyer, Carl Cox, Dubfire, Pan-Pot e Richie Hawtin.
Entre grandes suportes e colaborações, Sinisa ainda encontrou oportunidades para fundar seu próprio label, Night Light Records, recebendo lançamentos do excelentíssimo Anderson Noise, Adoo, Irregular Synth, além de outros talentos locais e internacionais. A amplitude de sua atuação, rendeu um passaporte recheado de carimbos e boas apresentações não só pelos principais spots europeus, mas também pelos Estados Unidos e México.
Trocamos figurinhas com Sinisa Tamamovic sobre o atual momento da carreira, além da condução de seus projetos e as primeiras interpretações sobre o Brasil. O melhor é que você pode conferir tudo isso acompanhado de um set que acabou de ir ao ar, gravado especialmente para o canal brasileiro Noor Techno.
Alataj: Olá Sinisa, seja bem-vindo ao Alataj! Você dispõe, sem dúvida alguma, de todas as características inerentes à seletores de nível global, mas o que você acredita que gera essa aura singular ao entorno de seu trabalho?
Sinisa: Obrigado por me receber! Eu sempre me atraí por criar meu próprio som, único, e isso acontece com meus sets e minha própria produção. Para mim, a beleza da música eletrônica é poder me expressar, apresentar minha visão e compartilhar algo único à cena. Acho que levou algum tempo, mas eventualmente as pessoas se identificaram com meu som e acho que essa assinatura que criei é a aura principal do meu trabalho.
Acho interessante também contextualizarmos o seu background e a partir de qual momento você realmente se debruça profissionalmente sob a música eletrônica.
Comecei a tocar em clubes locais da minha cidade natal, Banjaluka, na Bósnia e Herzegovina, há mais de 20 anos. A partir desse momento, eu estava apenas focando em tocar música. Fiz residência nos mais importantes clubes de música eletrônica da minha cidade natal e também organizei alguns eventos, trazendo muitos DJs internacionais para nossas festas e apresentando música eletrônica para os fãs locais. Alguns anos depois comecei a produzir minha própria música e depois de lançar alguns vinis de sucesso para gravadoras internacionais, minha carreira começou a mudar. Definitivamente, a produção musical abriu as portas e me deu a oportunidade de tocar internacionalmente, podendo assim apresentar minha visão musical em todo o mundo.
É interessante que, passeando pelo seu catálogo de faixas, desde 2005 você flutua entre o Techno Peak Time e Tech House. Como você cria harmonia para flutuar entre esses gêneros sem criar algum tipo de estranhamento?
Houve um tempo em que o gênero Tech House era muito diferente do que é agora. Muitos discos underground reais, sombrios, com linhas de baixo pesadas, estavam presentes no gênero Tech house. Achei que meu som era algo entre eles e sempre duvidei de onde minha música pertence. Acho que estava criando um som que se encaixava tanto em mixagens de Techno quanto de Tech house. Eu nunca segui gêneros e estava apenas criando a música que refletia meus sentimentos. Às vezes eu criava uma track de Heavy Funky Tech House/Techno, uma ferramenta de pista de dança adequada para o peak time do set, e então a outra parte de mim criava um Techno mais dark e profundo. Eu acho que é tudo sobre o humor que você está enquanto produz música.
Você já esteve massivamente pela Europa, mas também por países da América do Norte como os EUA e México. Você já passou pela América Latina ou tem pretensões de passar?
Sim, eu comecei a tocar em países europeus e depois percebi que minha música estava sendo muito tocada na América do Norte. Foi assim que comecei a receber cada vez mais ofertas para tocar lá. Tive a sorte de tocar também na Costa Rica, Argentina, Chile, Paraguai, Colômbia e definitivamente voltarei para lá muito em breve.
A cena alternativa brasileira é muito interessante e rica. O que você sabe sobre ela e seus artistas? Costuma ouvir algum?
Eu costumava tocar com alguns DJs brasileiros e, naquela época, a música que eles tocavam era bem diferente da que tocávamos na Europa. Lembro que no México dividi o palco com Victor Ruiz e, para mim, era um som muito diferente do que estava acontecendo na Europa naquele momento. Eu toquei com Anna algumas vezes , Wehbba também, e a música deles sempre teve uma abordagem única. Cerca de 10 anos atrás, Wehbba fez um remix para uma das minhas faixas que foi lançada na minha label Night Light Records. Além disso, eu costumava tocar alguns discos do Anderson Noise, Renato Cohen e assim por diante. Definitivamente, existem alguns artistas Brasileiros incríveis, e suas músicas estão frequentemente nos meus sets. Às vezes, também adoro relaxar à noite com bossa nova brasileira, como Maria Rita. 🙂
E acredita que teremos a chance de o ver debutar pelas calorosas pistas brasileiras em breve?
Eu realmente espero conseguir incluir uma turnê no Brasil em breve. Adoraria visitar o país e compartilhar meu som com o povo festeiro brasileiro. Eu tive inúmeras ofertas para tocar lá, mas, de alguma forma, nunca foi finalizado. Consegui visitar as Cataratas do Iguaçu enquanto estreava uma gig no Paraguai e adoraria explorar mais o Brasil e finalmente sentir a pista brasileira.
Em 2008 você fundou a expressiva Night Light Records. O que sente que mudou nestes 14 anos para cá e o que sente que permaneceu intacto?
Desde o início, a Night Light Records era apenas uma gravadora de vinil e, sim, em 14 anos passamos por muitas mudanças – do vinil à distribuição digital e aos streams… O consumo de música está em constante mudança e cada gravadora precisa se adaptar a isso para poder sobreviver por mais tempo. Temos mais de 200 lançamentos em nosso catálogo e o estilo do selo está mudando, da mesma forma que meu gosto musical e meus sets. Eu lanço principalmente músicas que eu sei que tocaria em um set, então isso está realmente conectado a como eu me sinto sobre a música. Mais uma vez, acho que meu amor por faixas groovy e heavy bass lines ainda está muito presente nos lançamentos da Night Light Records, e permaneceu intacto ao longo dos anos.
Para finalizarmos, a nossa tradicional pergunta: o que a música representa para você?
Para mim, a música é minha vida, expressão e forma de comunicação. Eu nunca parei de trabalhar com música e todo o meu trabalho sempre foi relacionado à ela, mesmo quando a indústria da música estava passando por momentos muito difíceis. Eu nunca vou parar de fazer música. Tocar ao redor do mundo, conectar através da linguagem musical, conhecer pessoas e viajar são tudo o que eu sempre quis.
A música conecta.