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A música conecta

Alataj Entrevista Slam

Por Ágatha Prado em Entrevistas 19.11.2021

Um dos maiores projetos de Techno, que vigora na ativa até hoje, o trabalho do Slam é do tipo que não perde sua relevância ao decorrer de mais de três décadas. Stuart McMillan e Orde Meikle são donos de peças clássicas que definiram o contexto eletrônico noventista, incluindo faixas como a imortal Positive Education e Life Times.

Além de performances fenomenais, produção de clássicos que se tornaram verdadeiros hinos de uma geração, a dupla também é o nome por trás da poderosa Soma Quality Recordings, gravadora que já ostenta quase 700 releases e possui uma história pra lá de relevante na trajetória do Techno até aqui. 

Batemos um papo especial com a dupla para saber mais novidades sobre os 30 anos de Soma Recordings, conhecer mais detalhes do seu novo projeto Louder Than Caos, além de nos aprofundarmos e resgatarmos boas memórias de tantos anos de carreira até aqui. 

Alataj: Com mais de três décadas de estrada, vocês marcaram o mundo do Techno quando entraram para o cenário na virada da década de 80 para 90, ainda mais com o legado que a Soma exerceu, e ainda exerce sobre a cultura da música eletrônica. O que vocês acham que pesaram mais sobre o sucesso um do outro, o Slam para a Soma ou a Soma para o Slam?

Slam: Ambos são simbióticos – ambos se alimentam um do outro. Nosso envolvimento, como as entradas do Slam DJ, para Soma, uma consciência da cena de dança eletrônica em um nível de base, e a Soma nos permite usar esse conhecimento para lançar e desenvolver artistas que sentimos que estão indo além na eletrônica globalmente.

Positive Education talvez seja um dos maiores hinos da história do Techno old school, e permanece como uma obra perfeitamente contemporânea até os dias de hoje . Vocês acham que hoje em dia, com toda velocidade de informações e tracks surgindo a todo momento, é possível realizar um hino atemporal e que avance por tantas gerações como foi com Positive Education? 

Infelizmente, não parece, recentemente, na mesma escala underground. Muitos dos filtros que costumavam existir para uma faixa chegar a uma loja de discos desapareceram, além do grande volume e velocidade de rotação das faixas de Dance Music que parecem tornar muito difícil alcançar um status de hino.

Falando ainda sobre evolução, durante os anos 90 era bem comum encontrarmos faixas com BPM mais acelerados, e posteriormente, em meados dos anos 2000 houve uma redução em geral destes BPM dando mais focos às melodias do que velocidade em si. Hoje já estamos vendo um retorno dessa pegada mais velozes nas faixas. Como vocês analisam esses ciclos de tendências da música eletrônica underground, em especial dentro do Techno,  e para onde vocês acreditam que caminharemos nos próximos anos?

Essa parece ser a natureza da música eletrônica – ela está acelerando ou diminuindo. Para nós, isso não faz diferença – o BPM de uma faixa não é um precursor da seleção para Slam ou Soma. Como um time, estamos sempre tentando olhar para o horizonte da música eletrônica, mas nunca tentamos prever para onde a cena está indo.

Embora a pandemia tenha afetado o curso das pistas presenciais, e acredito que tenha sido um momento desafiador para suas festas Pressure e Return to Mono, com relação à rotina de estúdio, os trabalhos continuaram a todo vapor. Como foi encarar esse período sem precedentes longe dos palcos, e ao mesmo tempo manter firme uma agenda produtiva que trouxe cinco novos EPs?

O Slam tem estado na estrada como DJ quase continuamente durante a maior parte de nossas carreiras, até que a pandemia nos atingiu – e como indivíduos, tendemos a encontrar positividade em qualquer situação que se apresente – então foi com esse tempo de inatividade do desempenho que tivemos a chance de passar mais tempo em nossos estúdios e usar esse tempo de forma produtiva – contatando alguns de nossos amigos para iniciar o projeto “Louder Than Chaos” – que agora está se concretizando.

Neste ano a Soma Records completou 30 anos, com uma história brilhante por trás de seus mais de 600 releases que de certa forma, ajudaram a contar um pouco da história da cultura eletrônica global. Na opinião de vocês, a que se deve o sucesso e a solidez da Soma durante toda essa jornada?

Uma das principais razões para a longevidade do Soma tem sido a falta de um grande plano, objetivo ou jogo final, além do lançamento de eletrônicos com visão de futuro. Além disso, uma forte crença dentro da gravadora em um processo democrático em todas as facetas da tomada de decisão.

O novo projeto Louder Than A Caos, que em setembro lançou o primeiro dos 5 volumes, busca conectar colaborações inéditas com grandes nomes do Techno mundial, incluindo veteranos como Optic Nerve (aka Keith Tucker), e os players contemporâneos do estilo como 9999999 e Amelie Lens. Como surgiu a ideia dessa série? 

Semanas após o primeiro lockdown, formulamos um conceito para usar esse tempo de isolamento forçado sem precedentes de forma produtiva, e começamos a entrar em contato com os artistas escolhidos para a  participação. Trabalhar remotamente pode ser um processo um pouco mais demorado do que trabalhar em um único estúdio juntos, mas também tem suas vantagens.

E quanto ao processo de escolha dos artistas para realizar as colaborações? Vocês já tinham tido prévias relações de estúdio com algum deles, ou foram processos totalmente novos? As faixas foram produzidas a distância?

Nunca tínhamos trabalhado musicalmente com nenhum dos artistas incluídos em “Louder Than Chaos” antes. Alguns já tínhamos conexões através de lançamentos no Soma, alguns são amigos e alguns conhecemos muitas vezes na estrada em gigs. Todas as faixas seriam iniciadas por qualquer uma das partes, enviando um conjunto de ideias ou arquivos de áudio – que seriam então reinterpretados e enviados de um lado para outro – até que ambas as partes ficassem felizes com a faixa finalizada.

As artes de capas dos volumes foram produzidas pelo artista alemão PPP Panic, formando uma conexão entre as cinco peças do projeto. Como vocês chegaram até aos trabalhos do PPP Panic, e em qual conceito foi inspirado nas artes para o Louder Than Chaos?

Que artista fantástico é o PPP Panic. Identificamos sua arte em um estágio bem inicial do processo como alguém com quem queríamos trabalhar e alguém cujos conceitos visuais estão harmoniosamente alinhados com nossos conceitos musicais.

E quanto aos eventos presenciais? A festa de vocês Return To Mono, que mensalmente estrelava as noites do SubClub87, retornou às pistas presenciais no último dia 10 de setembro. Imagino que essa volta deva ter sido emocionante! Quanto à agenda do Slam e as próximas novidades do projeto? O que está por vir nesses próximos meses?

Tocar novamente tem sido fantástico. É estranho porque depois de um hiato de 18 meses, parecia que nunca tínhamos ido embora. Musicalmente o Slam normalmente nunca tenta não planejar muito à frente em relação a projetos de estúdio, temos algumas ideias flutuando no ar no momento, mas nada de concreto. “Watch this space..!”

Sempre finalizamos as entrevistas aqui do Alataj, com uma pergunta clássica: O que a música significa para vocês?

Música significa tudo. Nossas vidas inteiras foram consumidas em ouvir, comprar, tocar, dançar, falar, gravar, lançar e facilitar o avanço da música eletrônica, é simplesmente tudo.

A música conecta.

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