Você já acompanhou um artista mais de perto e se pegou pensando “eu gostaria muito de conhecer melhor essa pessoa”? Para nós, Spencer Parker é essa figura. Não apenas pelo trabalho relevante e consistente no cenário da música eletrônica mundialmente, mas por ele se mostrar muito carismático em suas aparições, transmitindo uma energia leve, divertida e que, provavelmente, tem uma linda história por trás do seu sucesso e muito conhecimento a acrescentar por toda sua experiência.
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Se você não se familiariza com esse nome, essa é a hora e te garantimos que é bem necessário. Spencer Parker é um londrino, hoje estabelecido em Berlim, que vive o mundo da House Music e muitos estilos que a norteiam. Escutar sua música, seja através das produções ou DJ sets, é um belíssimo passeio que combinam Disco, Techno e House em suas mais diversas frentes e de forma magistral. Ele também label boss da gravadora Work Them, que realiza um trabalho importante, com lançamentos de alto nível desde a sua fundação.
Neste período de isolamento, para nosso deleite, Spencer Parker tem disponibilizado muitas faixas antigas e novas criações de forma independente através do Bandcamp, além de continuar suas aparições em outras grandes gravadoras. O último lançamento, por exemplo, é pela gravadora de Patrick Topping, Trick, com duas faixas de House bem intensas, característica do artista.
Nós tivemos o prazer de bater um papo com ele sobre sua história, projetos, lançamentos e outros assuntos que nos fizeram ter aquela certeza de que, sim, ele é alguém que vale muito conhecer melhor.
PS: as perguntas foram elaboradas ao som do seu set para a rádio berlinense HÖR acima. Recomendamos o play para a leitura!
Alataj: Olá Spencer, tudo bem? Muito obrigada por nos receber! São muitos anos atuando no cenário da música eletrônica de forma consistente e gostaríamos de saber como se deu o início de sua trajetória e quando você percebeu que poderia fazer da música sua profissão?
Spencer Parker: Olá! Muito obrigado pelo convite!! Comecei trabalhando para uma gravadora como estagiário, pois sempre quis fazer A&R (pesquisa de talentos e desenvolvimento artístico dos músicos dentro de uma gravadora). Depois de trabalhar como estagiário e fazer Club Promotions, eventualmente tive alguns empregos como Gerente de A&R ou Consultor e também trabalhei em uma loja de discos por alguns anos. Sempre fui DJ, mas nunca pensei ou sonhei ou planejei que isso fosse uma carreira. Eventualmente, chegou um momento em que eu estava tão ocupado como DJ que estava ganhando mais dinheiro com isso do que trabalhando em um emprego normal, então, neste ponto, decidi colocar todos os meus esforços nisso.
Acompanhando suas produções podemos perceber o tamanho de sua versatilidade para criar faixas, que vão de um Techno robusto até um House altamente dançante, o que evidencia uma base musical e criativa muito rica. Ao que você atribui essa amplitude dentro do seu espectro musical? Alguma inspiração em especial que gostaria de citar?
Acho que se trata apenas de ser um fã, mais do que tudo. Em primeiro lugar me considero um fã de House, Techno, Disco, de certas gravadoras, de certos DJs. Adoro ouvir novos DJs empolgantes ou um ótimo disco novo ou conhecer uma nova festa legal que nunca estive. Para mim, eu me considero um DJ de House, e, para mim, isso significa que você pode fazer tudo. House é o centro, mas eu posso ir para a esquerda e tocar disco ou Hi-NRG (gênero de música eletrônica que surgiu no Reino Unido diretamente influenciado pela música Disco e Pop no final da década de 1970) ou New Wave neste lado, ou vá para a direita e toque Techno ou um disco Eletrônico ímpar do outro lado. É muito importante para mim ser capaz de fazer todas essas coisas. Meu objetivo é sempre juntar House/Techno/Disco no mesmo set, mas fazer com que soe coerente. Eu acho que é muito mais difícil fazer isso do que apenas tocar 2 horas de Techno realmente pesado ou apenas House, mas eu amo todos esses estilos de música, então me esforço para fazer isso, mesmo que seja mais difícil.
O momento em que estamos passando não o impediu de continuar trabalhando enquanto produtor, aliás, estamos acompanhando uma grande movimentação sua com o lançamento de diversas faixas. Como tem passado por este período tão inusitado no mundo do entretenimento? O que você acha que o mercado levará de mais importante quando retornarmos às atividades?
Eu estou bem. Estou tentando ser positivo e usar o que tenho para me sustentar. Eu passei muitos anos produzindo faixas das quais tenho muito orgulho e lançando-as de várias maneiras e em uma variedade de formatos, então, neste momento difícil, estou escolhendo dar a algumas delas um lançamento mais amplo através do Bandcamp. Muitas faixas que eram apenas vinil ou apenas CD estão lá agora e estou muito feliz em ver algumas pessoas descobrindo algumas delas. Seja o projeto ITSNOTOVER, meus remixes de faixas de artistas como Radio Slave ou a discografia de minha gravadora, Work Them Records. Eu também continuei lançando novos projetos como o EP New Works Volume One na Work Them Records, bem como os próximos remixes para o projeto Harry Monroe de Yousef e Louisaah. Quanto a quando voltarmos…. eu realmente não tenho certeza!
Falando sobre releases, você faz o seu debut pela gravadora Trick em julho com o EP Youreoneofakind que traz duas tracks que combinam um bassline poderoso com um House bem enérgico, perfeito para o peak time da pista. Como aconteceu o processo criativo dessas faixas?
Foi muito simples e orgânico. Costumo não me estressar muito com a produção, às vezes faço muita música e às vezes nada. Eu estava apenas mexendo no meu computador e cortei os samples e as duas faixas vieram juntas muito rápido. Algumas faixas demoram uma eternidade e, às vezes, tudo acontece muito rápido – essas faixas aconteceram muito rápido – pela primeira vez! 🙂
Você também administra sua própria gravadora, a Work Them, que também tem realizado um ótimo trabalho enquanto propulsora de boa música no mercado. Como funciona a curadoria das faixas? Trabalhar como boss label de alguma forma influenciou na forma de você enxergar suas produções?
A curadoria das faixas é realmente simples, pois eu puramente lanço músicas que quero tocar em meus sets. A ideia da gravadora é lançar discos para os DJs TRABALHAREM na cabine – é por isso que lançamos tantos dubs/acapellas/versões diferentes – e o público para DANÇAR na pista. O selo é puramente dedicado a discos que funcionam na pista de dança, nada mais. O selo não influencia muito minhas produções, mas sou influenciado por vários artistas do selo. Tenho muito orgulho de ter lançado músicas de pessoas como FIT, Rödhåd, Radio Slave, DJ Fett Burger, Anetha, Setaoc Mass, P Leone etc. Eu realmente respeito todos os artistas da gravadora e sou um grande fã de todos deles, então tenho certeza que todos eles me influenciam de sua própria maneira.
Sua última passagem pelo Brasil foi realmente marcante e mostrou total sintonia com nossa pista de dança. Como um digger real que você é, tem alguma influência sonora do nosso país? Algum artista da música eletrônica que você acompanha?
Sou um grande fã do país e de alguns artistas daí. Sempre sonhei em visitar o Brasil, então fiquei super feliz de ter a oportunidade quando o fiz. Na verdade, eu tinha uma turnê planejada um pouco antes do lockdown, então cancelar essa viagem realmente partiu meu coração. Sou um grande fã de DJs como Amanda Mussi, que conheci/ouvi na minha última viagem e até remixei a faixa dela “Keyboard Cats” pelo selo e Renato Cohen, então estou muito orgulhoso de começar a trabalhar com essas pessoas.
Ainda que estejamos vivendo essa pausa obrigatória no nosso cenário você mantém uma rotina de tours, gigs e demais trabalhos enquanto produtor e curador do seu label de maneira intensa, ao mesmo tempo temos acompanhado alguns casos de artistas que acabam por adoecer mentalmente por conta do stress e estilo de vida levado. Como você mantém seu equilíbrio mental e físico para viver sua rotina? Algo em especial que você recomenda a outros profissionais do ramo?
Bem, acho que cada pessoa tem que seguir seu próprio caminho, mas, para mim, tento manter a rotina bem simples. Eu malho na maioria dos dias, medito, tento dormir bem, me alimentar bem. Eu tenho sorte de ser DJ e viajar para outros países para tocar desde muito, muito tempo, então aprendi uma maneira de criar uma rotina que funcione para mim. O que eu mais recomendaria é ser gentil consigo mesmo. A indústria é um lugar louco na melhor das hipóteses, no momento ainda mais, então tente navegar por esses momentos da melhor forma que puder, com gentileza e compreensão para com os outros, mas também para você mesmo. Além disso, minha namorada mora em Praga e tem um restaurante lá chamado Che Hub, então sempre que eu quero ficar MUITO feliz eu vou lá para uma guioza preta e cerveja! 🙂
Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?
Música é minha vida.
A música conecta.
