Essa é a primeira vez que escrevo aqui no Alataj e de cara, em um projeto tão bacana com a Beck’s. Se quando você terminar esse texto pensar que não ficou coisa de principiante, saiba que antes de ser publicado ele passou pelas mãos de uma pessoa que escreve maravilhosamente bem e com quem divido a responsabilidade de tocar essa empresa tão especial que é o Alataj – obrigada, Alan.
É extremamente difícil escolher apenas uma história das noites da minha vida para compartilhar. Quando vejo quem sou hoje, percebo que não é resultado de um momento marcante, mas sim inúmeros deles, que na grande maioria das vezes aconteceu em um mesmo lugar: Warung.
Nunca diga nunca, não é mesmo? Acredite, nos anos de 2011/12 cheguei a falar que não gostava das músicas que tocavam naquele icônico club. Imagine a cena de uma menina que acabou de descobrir a música eletrônica comercial e que derramava lágrimas ao ouvir “Up on a hill across the blue lake, that ‘s where I had my first heartbreak” – Prazer, Larissa. Acredito que eu represente uma grande parte dos jovens daquela época, que encontraram o fogo da diversão na Green Valley e se desenvolveram dentro do Warung.
Esse é um dos motivos pelo qual admiro os grandes DJs da música comercial. Eles aumentam o público da música eletrônica, eles inspiram e ensinam. Mas houve uma transição muito natural para mim. A primeira vez que pisei no templo balinês da praia Brava foi por leve pressão dos meus amigos. Estava desacreditada, mas aberta à experiência. Sabe quem estava tocando? Sasha. “Mas quem diabos é Sasha?”, disse a Larissa em 2011. O resultado dessa noite foi essa moça que vos fala sentada dentro do carro no estacionamento às 4h da manhã, fazendo birra com ela mesma por ter ido nesse lugar escuro com música estranha.
Ao que tudo indicava, eu era a única que não tinha achado meu espaço lá dentro. Meus amigos não desistiram e lá estava eu de novo, mas dessa vez, quem estava tocando era um DJ que se comunicou melhor comigo e eu diria que foi um dos responsáveis por eu nunca mais sair de lá. Kolombo no Inside, tocando What Could Make Me Think, um pessoal com a bandeira do Brasil pulando na minha frente e aquele chão de madeira que parecia ir abaixo. Essa noite, somada com aquela explosão de Deep House que estava acontecendo, fez eu sentir que aquele era o meu lugar. Quando digo isso, pode soar estranho pra quem não é daquela região. Mas lá era realmente uma casa pra nós – ainda é.
Dentro desse mesmo club, passei por momentos inesquecíveis. Fui pedida em casamento – só o pedido mesmo, porque o casamento aconteceu mais ou menos cinco anos depois porque não tínhamos dinheiro nem para pagar o documento do carro [risos]. As noites de inverno eram aquecidas naquela pista, mas quando amanhecia, enfrentávamos aquele obstáculo de atravessar o rio num frio de matar para poder ir embora. Sim, o carro ficava do outro lado – lembra que não tinha documento? A última coisa que eu queria era uma blitz, pois naquela situação era entregar o carro e ainda dizer obrigada ao policial.
Desse ponto em diante, minha vida se fez ali. Não só a minha, mas a do meu filho também. Literalmente. Uma noite de inverno com Mano Le Tough – uma das melhores da minha vida, mas com algo a mais, um bebê na minha barriga. Só fui descobrir a gravidez quatro meses depois dessa noite. Tive sorte de ter um filho saudável mesmo vivendo uma vida clubber. Essas coisas não combinam, né? Nessa fase a vida pede por uma pausa e eu respeitei. Foram dois anos e meio sem pisar no Warung. Sinceramente pensei que não teria mais fôlego para isso, mas foi questão de tempo para aquele eu surgir e saber dividir prioridades com a Larissa que precisava ser mãe. É possível, é saudável. Apenas faça o que tem vontade.
Hoje, com 29 anos, vejo aquela minha relutância para conhecer algo novo em outras pessoas. Não significa que você está errado – mas não custa tentar, não é mesmo? Trabalhando no Alataj, aprendi que não existe um tipo de música ideal. Existe uma música ideal para cada momento e com o tempo você cria a habilidade de olhar para si mesmo e entender o que precisa ouvir. Tudo acontece naturalmente quando você está disposto a se conectar. Essa foi uma breve parte da minha história com a música eletrônica, que me permitiu conhecer pessoas maravilhosas em situações nem sempre ideais. Que fez a minha mente se tornar cada vez mais curiosa em relação ao que escuto e sem nenhum tipo de preconceito. E me permitiu estar aqui hoje escrevendo para o portal que eu vi nascer e hoje é motivo de orgulho, não só para nós, mas para todos que nos acompanham.
A música conecta.