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A música conecta

É tempo de sintonizar Deekapz FM

Por Alan Medeiros em Xpress 12.08.2025

No último dia 6 de agosto, o duo paulistano Deekapz apresentou ao público seu novo álbum, Deekapz FM. Com 14 faixas que transitam entre o eletrônico, o Funk, o R&B e o Pop urbano, o trabalho se revela como um mosaico da música brasileira contemporânea, um verdadeiro ponto de encontro entre gêneros, gerações e linguagens que deveriam ocupar mais vezes o mesmo espaço. Como álbum, Deekapz FM representa uma expansão estética e conceitual na trajetória de Paulo DK e Matheus Henrique, mantendo a força de suas raízes enquanto amplia o alcance sonoro para públicos diversos.

O disco chega em um momento de maturidade artística para a dupla, que nos últimos anos consolidou uma reputação sólida no Brasil. Preservando elementos que se tornaram assinatura — batidas que flertam com a pista, linhas melódicas marcantes e atenção à cultura de rua — o trabalho também incorpora texturas e arranjos mais amplos, fruto de um processo criativo que reflete a multiplicidade de influências que atravessam o projeto. 

A diversidade de colaborações é um dos pilares do álbum. De Criolo a DJ Marky e Makoto, passando por Luccas Carlos, Urias, Bibi Caetano e Fat Family, as participações funcionam como peças narrativas centrais, moldando a identidade de cada faixa. Em Onde Anda o Meu Amor, por exemplo, o encontro entre Criolo e os lendários DJ Marky e Makoto, cria uma ponte entre a lírica urbana e a sofisticação da DnB global. Já Dance, parceria com Fat Family, resgata o groove e uma memória nostálgica dos anos 2000, inserindo-os em uma viagem do tempo que tem como meio de transporte a música. 

O diálogo entre local e global, já presente na obra do Deekapz, assume contornos mais claros em Deekapz FM. As referências da música eletrônica internacional, através da House Music, por exemplo, se entrelaçam com elementos rítmicos brasileiros, resultando em um som simultaneamente contemporâneo e enraizado. Para muito além de se moldar a tendências externas, a ideia aqui é projetar uma identidade própria como linguagem que pode ser compreendida pelo maior número de pessoas possíveis. 

A estética visual reforça essa narrativa. A capa e os materiais promocionais trazem a atmosfera de uma rádio imaginária, um espaço onde diferentes sons e vozes se encontram. Essa abordagem não é mero adorno gráfico, mas uma extensão conceitual do trabalho, projetando a ideia de um dial cultural capaz de sintonizar universos distintos. Esse arranjo entre o som e a imagem é um ponto que deve ser levado em consideração em álbuns e o Deekapz não deixou de executar com extremo cuidado e eficiência.  

No contexto atual da música brasileira, Deekapz FM surge como um trabalho que compreende a complexidade do seu tempo. Ele não se constrói com foco no alcance internacional, embora tenha potencial para isso; antes, fala prioritariamente a um público que compartilha das mesmas referências e códigos culturais, que está semanalmente nas pistas que Paul e Mathems comandam, só depois disso então, se apresenta pronto para abrir caminho ao diálogo com outras cenas.

Ao final, o novo álbum reafirma a vocação do Deekapz para traduzir vivências e referências brasileiras em obras consistentes, capazes de habitar múltiplos territórios, das pistas aos fones de ouvido, do streaming aos shows. Em meio a um cenário fragmentado, Deekapz FM é prova de que ainda é possível criar algo simultaneamente diverso, coeso e profundamente verdadeiro.

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