Skip to content
A música conecta

Vivi Seixas: duas décadas construindo pontes entre tradição e vanguarda na música eletrônica brasileira

Por Marllon Eduardo Gauche em Trend 11.09.2025

San Francisco, meados dos anos 2000. Enquanto absorvia as raízes do Funky House e Chicago House nas pistas californianas, Vivi Seixas talvez nem imaginava que estava dando os primeiros passos para o que se tornaria uma das trajetórias mais consistentes da música eletrônica brasileira. Hoje, 22 anos depois de começar a tocar, ela carrega essa formação internacional como base de uma identidade artística que nunca precisou se explicar.

Sua jornada começou na verdade em 2003, mas o momento decisivo veio três anos depois, em 2006 quando se mudou para a Califórnia para estudar produção musical. Foi nesse período que conheceu Hector Moralez, produtor que já admirava e que marcou muito sua formação. Essa conexão estabeleceu laços que existem até hoje, tanto que ele vai assinar um remix no primeiro vinil oficial de Vivi, que está sendo preparado para ser lançado em um futuro breve — mas isso é assunto para um próximo conteúdo.

Essa formação internacional se traduziu em uma carreira que transita naturalmente entre continentes. Vivi já dividiu cabines com nomes como The Chemical Brothers, Seth Troxler, Hot Since 82 e Camelphat, além de levar sua sonoridade para palcos como Rock in Rio, Universo Paralello e clubes icônicos como The End Up na Califórnia e o próprio D-EDGE, onde construiu uma história de mais de 20 anos desde sua estreia em São Paulo, em 2006.

Mas é na relação com o vinil que sua identidade artística encontra a expressão mais pura. Após explorar diferentes ferramentas ao longo da carreira, Vivi fez uma escolha consciente de retornar às suas raízes analógicas. “Essa retomada não é uma escolha técnica ou nostálgica, mas uma decisão curatorial: a forma mais honesta de conectar meu passado com o presente”, explica. É uma decisão que valoriza o olhar e a escuta atenta da pesquisa musical.

Essa filosofia ganha forma concreta na Tulipa, label party que fundou no Rio de Janeiro e que estreou no D-EDGE Rio, em maio. Mais do que uma festa, a Tulipa representa a materialização de uma visão de mundo: um espaço onde mulheres ocupam naturalmente posições de destaque e onde a inclusão acontece sem forçar a barra. “A Tulipa nasceu de um incômodo pessoal”, revela Vivi, referindo-se aos anos tocando em lineups onde a presença feminina era exceção. 

“Essa experiência me trouxe a vontade de criar um espaço onde essa desigualdade não fosse a regra”. O projeto ganhou ainda mais significado pessoal quando, após o falecimento de seu amigo Fabio Flyer, ela herdou sua coleção de discos. O momento foi um catalisador para o retorno definitivo ao vinil e para a criação da Tulipa.

Paralelamente, Vivi desenvolve o Rock das Aranhas Live, projeto audiovisual em parceria com Paula Chalup e VJ Spetto que reinterpreta o legado de seu pai Raul Seixas para os palcos atuais. É uma iniciativa que mostra como sua criatividade se estende para além da música eletrônica, explorando novas formas de expressão artística.

Sonoramente, Vivi mantém-se fiel ao que a define desde o início: basslines que se sobressaem, groove cru e intenso, a energia que vem do underground do Funky House e Chicago House. Não busca melodias suaves ou vocais melódicos, mas sim “aquela energia crua, intensa e cheia de balanço” que conecta diretamente com a pista de dança. É uma abordagem que encontra inspiração em nomes como Cassy, tINI, Mell G e Honey Dijon — mulheres que transformam a cena com autenticidade e identidade bem próprias.

Com curadoria baseada em diversidade, relevância e consistência, a Tulipa conecta a tradição da cultura clubber mundial com uma leitura contemporânea do dance floor nacional. É a prova de que é possível criar espaços genuínos de transformação sem abrir mão da qualidade artística ou da conexão com as raízes da música eletrônica. 

A segunda edição já tem data marcada: acontece no próximo dia 20 de setembro, novamente no D-EDGE Rio, com um lineup que não é só feminino, mas onde elas assumem o protagonismo. Chris Rocha, Hollanda, DJ Mau Mau e NOBADTRIP estão escalados, além da própria Vivi, claro. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos através da Ingresse.

A MÚSICA CONECTA 2012 2025