Confesso que, quando me deparo com uma análise envolvendo uma das minhas faixas favoritas, me faz tremer nas bases. Vou procurar manter minha emoção sob controle e discorrer sobre essa grande obra-prima que ainda estremece os charts do mundo inteiro, mais de trinta anos após seu lançamento. Do encontro das matizes do Hip Hop com o Acid House, Beat Dis, do emblemático projeto Bomb the Bass, é a nossa icônica homenageada de hoje.
Tudo começa com a genialidade de Tim Simenon, um jovem nascido em Londres, filho de imigrantes malasianos, DJ residente de alguns clubes da capital inglesa e que, em 1987, resolveu iniciar seus estudos em engenharia de áudio. Foi então que pela primeira vez, Tim se deparou com uma parafernalha retro-moderna, que permitia criar sons a partir de loops de baterias e samples de outras músicas prontas, e que inclusive já se popularizava entre a comunidade DJ tanto do Hip Hop, quanto do House, Techno e afins. O gatilho foi o bastante para Tim se juntar com outros dois produtores, Emilio Pasquez e Pascal Gabriel, para formar um projeto até então despretensioso com o nome de Bomb The Bass.
O projeto nascia no epicentro do contexto Old School, em meio ao lançamento de hits como Pump Up The Volume, do MARRS – também produzido por Tim Simenon -, que trazia um grande combo de samples e referências de sucessos que iam de Afrika Bambaataa a Prince, formatando uma só faixa explosiva para as pistas de danças. Então, aproveitando todo o cenário do final da década de 80, o contexto pulsante e o máximo das tecnologias à disposição, Bomb The Bass iniciava seus trabalhos com o primeiro release do projeto, intitulado Beat Dis.
Sim, já em seu primeiro lançamento Bomb The Bass entrou para o mercado fonográfico com uma voadora de dois pés na porta. O single Beat Dis foi lançado pela primeira vez em 1988 pela britânica BCM Records – Brian Carter Music. A faixa inicia-se com uma contagem regressiva para uma explosão de cenários com ampla bagagem de referências extraída de samples de Ennio Morricone – The Good, The Bad and The Ugly – Public Enemy, sons de metralhadora, e trechos de vozes de seriados antigos incluindo a inesquecível frase “Keep The Frequency Clear” – que quando proclamada no meio de qualquer faixa ou mix, já configura um atestado de homenagem à faixa.
Beat Dis assinalou o ponto de encontro do Hip Hop com a essência ácida e frenética do Acid House. A artwork do single apresentava o icônico símbolo do smiley, que começava a ser reverenciado, a partir de então, como símbolo do estilo, já que foi a primeira vez que um rostinho amarelo estamparia a capa de um disco.
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Já de cara, o lançamento de Beat Dis emplacou os principais charts britânicos, anunciando o legado que a faixa deixaria para o movimento Acid House. Posteriormente, Beat Dis foi incluída no primeiro álbum do Bomb The Bass, o lendário Into The Dragon, que também reuniu um combo de hits bombásticos como a inesquecível Megablast, Don’t Make Me Wait – que trazia os gloriosos vocais de Lauraine – e Say A Little Prayer – com a participação de Maureen Walsh – faixas essas, que merecem estampar outros episódios da Iconic aqui.
Ainda para abrilhantar o poder de Beat Dis, a nossa icônica contou com um videoclipe que não poderia ilustrar mais perfeitamente o contexto da faixa. Cuts de imagens se juntam aos cuts de sample da faixa, retratando a cultura street londrina, se misturando à vibe gângster, aos ghettos e ao movimento graffiti característico dos anos 80.
Uma verdadeira faixa mestre, que influenciou toda uma geração, Beat Dis é um dos presentes da genialidade de Tim Simenon, pai da produção de hits como Pump Up the Volume, como já citado acima, e de Theme From S’Express, qual comandou ao lado de Jamie Morgan. Como não se apaixonar por Tim, não é?
A música conecta.