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A música conecta

Iconic | David August – Epikur [Innervisions]

Todo entusiasta da música eletrônica (e aqui coloco os artistas e amantes no mesmo balaio) possui uma ou mais músicas que entram naquela categoria que está acima de todas as outras, como algo quase imaculado. Se você não tem uma ainda, tudo bem, hoje você passará a ter. Esses tesouros são músicas tão complexas que muitas vezes as pessoas nem as tocam. Curioso, não? Só apresentam ao mundo porque a construção para inserir algo assim precisa ser tão bem estruturada que não vai rolar em qualquer apresentação. O timing precisa ser certeiro. Não é exagero. Algumas faixas são assim, feitas para momentos tão específicos que você não vai cruzar com elas por aí como cruza com um hit atemporal, mesmo sendo incrivelmente bem feita. 

Epikur é a faixa que escolhemos para o novo capítulo da Iconic. Essa é uma daquelas que você deixa separada para mostrar ao amigos e pede para que todos ali pausem e prestem atenção a todos os detalhes. Aliás, quase sempre é sobre uma faixa longa que conta mais de uma história, combinando uma paleta de sentimentos. E quase sempre termina com você se perguntando: como foi que essa pessoa chegou nisso? Temos aqui mais um caso.

Que David August é intrigantemente virtuoso, a gente sabe. O artista, que tem apenas 30 anos, é mais uma fagulha de criatividade advinda da Alemanha. Ele deu as caras ao mundo da música eletrônica ainda muito jovem e rapidamente começou a surpreender. Músico e pianista com formação clássica desde os cinco anos de idade, sua capacidade para conceber grandes produções é realmente admirável. Seu debut álbum, Time (2013), é um bom exemplo sobre como alguém jovem pode já ser tão multifacetado. Seu live act também reforça essa habilidade precoce, já que suas improvisações e técnica são pontos altos, o que ele leva também nos projetos com a Orquestra Sinfônica Alemã de Berlim.

Mas em 2014 aconteceu algo que a física chama de salto quântico. Significa o movimento que acontece quando uma partícula que está num determinado nível energético ganha uma quantidade extrema de energia ela salta para um nível mais alto. Na época, a faixa causou muito frenesi e se passou pela chancela da Innervisions, é porque, sim, estamos lidando com algo avançado. A gente não pode afirmar com precisão, mas se o artista relacionou o nome da track ao filósofo grego que recebe este mesmo nome, então o objetivo foi um só: atingir a felicidade, como o mesmo pregava. E se você olhar de perto, fará sentido… 

Em Epikur, muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, mas a paisagem sonora permanece sublime e sempre harmônica. Uma intensa progressão de acordes se desenrola durante toda a faixa, indo e vindo para dar voz à novas melodias mais agudas e intensas. Uma linha de baixo arpejada aparece em outra camada e segue se metamorfoseando até o final. Quando chegamos nos três minutos de música a história muda para atingir o clímax, seu break faz jus ao rótulo e dá ao ouvinte uma verdadeira pausa para absorver tudo o que aconteceu nos minutos antecedentes. É realmente uma mistura de caos e paz. 

Sua entrega é sobre uma consonância tão bem harmonizada que você termina a história em uma frequência acima…feliz! Mas você pode ouvir para crer. Então pare absolutamente tudo e se mantenha no agora para entender o que eu quis transmitir nesse texto e termine se perguntando: como foi que essa pessoa chegou nisso? Guarde ela na sua pasta de músicas especiais e mostre para quem puder.

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024