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A música conecta

Iconic | Dee D. Jackson – Automatic Lover [Jupiter Records]

Por Ágatha Prado em Iconic 28.04.2022

Se você já acompanha a nossa coluna Iconic há algum tempo, já deve ter percebido que um dos nossos principais objetivos é também transportar o leitor a espaços temporais que elucidam o resgate de memórias, através de um ícone musical que marcou uma determinada época ou geração. E claro, sempre conectando o nossa faixa alvo ao momento de construção e relação que essa se condiciona com a história da música eletrônica, em algum aspecto. 

No caso da escolhida de hoje, a viagem caminha em direção ao auge da era de ouro da Disco Music, e sobretudo, no momento exato em que o estilo encontrou os ares futuristas e absorveu a transição entre os grooves orgânicos para as linhas melódicas sintéticas. O clima cósmico, espacial e galáctico, tomava conta das discotecas no final da década de 70, e os sintetizadores já protagonizavam as poderosas linhas de bass sequenciadas, estreladas inicialmente pelo mestre Giorgio Moroder. Foi então que a estética tomou conta das novas produções que surgiriam em 1978, e entre os destaques que brilharam na época que podemos chamar de Cosmic Disco, estava Automatic Lover, uma das faixas mais lembradas da inglesa Dee D. Jackson.

Apesar de inglesa, Dee D. Jackson escolheu a Alemanha para dar um gás em sua carreira como cantora, pois especialmente em Munique, o local era propício para receber os velhos fãs de Rock n’ Roll com intuito de criar uma sonoridade diferente da Disco Music que estava em alta em terras americanas. Jackson dizia que Munique era “uma cidade muito cosmopolita e uma grande energia futurista estava fluindo naquela época”. Como ela havia chegado por um caminho diferente de muitos dos músicos que trabalhavam lá, ela trouxe um pouco do frescor britânico com ela, e foi enquanto cantava em clubes, que conheceu Gary Unwin.

Unwin era um baixista que junto com Keith Forsey (baterista de Giorgio Moroder, que passou a produzir os primeiros LPs de Billy Idol e co-escrever “Flashdance… What a Feeling”), formou uma seção rítmica de expatriados que trabalhou com nomes como Donna Summer, Boney M., Amanda Lear, Silver Convention, além do próprio Moroder. Ou seja, bagagem e visão do movimento musical que estava acontecendo no momento, Gary tinha de sobra.

Enquanto isso, para Jackson, escrever músicas era uma forma de auto-análise, e uma maneira de exorcizar as dores do crescimento, criando um lugar secreto e seguro durante esse processo. Ela e Unwins gravaram uma música juntos, Man of a Man de 1978, e vendo que o single não teve o desempenho esperado, eles imediatamente começaram a trabalhar em outra faixa. Foi essa música, Automatic Lover, que incendiaria o conceito do LP Cosmic Curves do mesmo ano .

 Automatic Lover foi lançado pela prolífica gravadora pop de Munique, Jupiter Records, em 1978. Com seu pulsar eletrônico propulsivo, vocais dramáticos e o refrão melancólico “see me, feel me, hear me, love me, touch me“, foi um grande sucesso em todo o mundo, alcançando o #4  nas UK charts e entrando no top dez na Alemanha, Suíça, Noruega, Suécia e Itália.

A faixa foi um sucesso meteórico aqui no Brasil. Automatic Lover compunha a trilha sonora da novela Dancin Days – de Gilberto Braga -, ditando o fenômeno da Disco Music em território nacional. Inclusive, uma dançarina brasileira chamada Regina Shakti iniciou seu trabalho como cover da cantora, apresentando-se como Dee D. Jackson (Made in Brazil) nos programas de Carlos Imperial.

Automatic Lover passou nove semanas nas UK Charts e levou Dee D. a aparecer em um dos principais programas de música Pop da Grã-Bretanha, o Top of the Pops. O álbum Cosmic Curves, que Jackson chama de “rock, eletrônico, musical espacial”, foi, nas palavras da própria artista, “uma combinação dos compositores com uma paixão por contar histórias e nosso amor por vestir roupas teatrais”. Talvez tenha sido essa vontade de apostar todas as fichas no que poderia ter sido apenas uma extensão do filme Barbarella, que dá ao disco seu clima inesperadamente contagiante, e que marcou o sucesso do verdadeiro Cosmic Disco do final da década de 70.

A música conecta.

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