Sem sombra de dúvidas, foi na década de 2000 que o Brasil entrou de vez na rota internacional da clubber culture. Artistas estrangeiros de grande magnitude passaram a ser bookados de forma constante por conta dos festivais que surgiram durante esse período como o Skol Beats, que contou com apresentações de Andy C, Makoto, The Prodigy, Junkie XL e 808 State para citar uma ínfima parcela de artistas tão requisitados que passaram pelos palcos do festival que ocorreu de 2000 a 2008. Além dos festivais que ajudaram nosso país a ganhar destaque internacionalmente na música eletrônica, nossos artistas também são responsáveis por esse feito. Muitas produções dessa época alcançaram charts pelos quatro cantos do planeta e, certamente, o DJ que capitaneou toda esse frenesi que o mundo viveu pelo Brasil nos anos 2000 foi o DJ Marky.
+++ Alataj entrevista DJ Marky
Após um dia sem muito sucesso dentro do estúdio de XRS – amigo do DJ Marky e co autor de LK – Marky decidiu buscar inspiração em sua coleção de discos para tentar algo diferente. Foi quando o compacto de Que Maravilha/Carolina Carol Bela, por Toquinho e Jorge Ben, apareceu e automaticamente despertou o interesse do artista em samplear o violão que aparece logo nos primeiros segundos da música. Não demorou muito e LK – que significa Liquid Kitchen – tomou forma e foi enviada ao DJ Patife para ser testada durante uma de suas tours na Europa. Pouco tempo depois, foi a vez de DJ Marky fazer uma temporada na Europa ao lado do Stamina MC e foi durante essa tour, numa apresentação em Newcastle que a música e vocal emblemático de Stamina se encontraram pela primeira vez. O impacto que o freestyle do MC teve foi imediato, Its The Way começou ser pedida em todas apresentações do DJ, que logo abraçou a ideia e oficializou o improviso como vocal da música.
O lançamento oficial de LK ocorreu pela gravadora de Bryan Gee, V Recordings, no ano de 2002. Marky e XRS primeiramente enviaram a música para a Soul:r, que era comandada por Marcus Intalex e ST Files. Marcus acabou optando por não lançar a música em sua gravadora, porém acabou remixando ela em seu Projeto M.I.S.T junto a ST Files, também em 2002. A partir daí, LK alcançou patamares até então nunca vistos por um artista nacional: DJs como Gilles Peterson, Carl Cox e Laurent Garnier começaram a toca-la, um Drum and Bass sendo tocado por artistas que eram reconhecidos pelo seu trabalho no Techno e House.
Automaticamente, LK passou a ingressar todos os charts da época. Talvez o mais importante foi o Top of The Pops, programa de TV da emissora britânica BBC, que contava com apresentações ao vivo dos artistas que estavam no topo do chart. O Top of The Pops é o reconhecimento máximo que um artista de qualquer estilo pode ter, The Beatles, Fleetwood Mac e David Bowie são uma pequena amostra dos que passaram pelo palco do TOTP.
LK é um marco histórico dentro da música eletrônica. Alcançou patamares que nenhum outro artista brasileiro conseguiu e tudo isso sem redes sociais ou ferramentas de marketing que os dias de hoje têm. Além disso, Liquid Kitchen foi responsável por introduzir uma quantidade incalculável de pessoas na cultura clubber em nível mundial, inclusive esse que vos escreve.
Ao DJ Marky um especial agradecimento, tanto pelas informações cedidas gentilmente para esta matéria, quanto pela construção dessa faixa icônica.
A música conecta.