E para fechar, mesmo que temporariamente, a minha temporada de Iconic, decidi trazer uma música que pode não ser icônica para muitos, mas definitivamente é para mim. Sabe como é, nem sempre a tríade ritmo, melodia, harmonia precisa ser arrebatadora pelo mundo (ainda que essa seja), ela pode ser somente arrebatadora para você, pelos mais diversos motivos. Para a arte e seus artistas, isso já representa muito. E aí, que te pergunto: quais são as suas músicas icônicas? E com quem? O que você sente? Pois é, quando digo isso, falo daquelas que são capazes de despertar as suas emoções mais fortes e verdadeiras, daquelas que você não controla e passa longe do perímetro racional de seu cérebro, algo tão fluido e gigante que, por vezes, transborda pelos seus olhos.
Sim, para os mais sensíveis de plantão isso é um fato: vez ou outra vamos acabar puxando o lencinho para limpar as lágrimas bem no meio da pista e despertar todo tipo de olhar alheio, como quem diz: gente, o que está acontecendo ali? Respondo: a música cumpriu seu papel e alcançou um lugarzinho muito particular seu. Mas na falta do lenço ou sentindo uma vergonha de chorar, é bem possível que você abrace suas pessoas preferidas e dê aquela lavada na alma tão digna e maravilhosa. Pronto! Foi oficialmente criado um “momentão” para vocês. Essa narrativa é basicamente um resumo do que acontece comigo toda santa vez que Frankfurt chega. Abraço minha grande amiga e a gente há de chorar. Momentos que ficaram cristalizados já que a troca de energia é algo inexplicável, difícil verbalizar.
Dito isso e tendo contextualizado meus motivos para chegar até aqui, vamos contar essa história e o protagonista por trás dela: Eric Prydz. Um personagem quintessencial que baliza como poucos as transições entre o mainstream e o underground. Na visão de muitos um gênio de multi personalidades, ou melhor, facetas. Também conhecido como Pryda, Cirez D, Sheridan, Moo e mais alguns alteregos, é impressionante sua capacidade criativa segmentada em personas diferentes. Com suas gravadoras Pryda e Mouseville, ele foi reconhecido pelo Beatport como um dos caras que mais vendeu na história, mas além dos números, o que nos chama atenção é essa sua capacidade de nos tocar com sua música de múltiplas formas.
Por exemplo: Cirez D é um baita nome dentro da esfera Techno, Pryda é pseudônimo mais poético do Progressive House, Eric Prydz é de tudo um pouco e já foi até integrante do projeto Swedish House Mafia, faça as contas. Além disso, seu live act é absolutamente incrível e todos nós vamos querer viver isso um dia (é serio). Em outras palavras: não tem o que esse cara não faça. Aliás, até tem: voar de avião. O impeditivo que fez o artista ficar anos e anos sem grandes turnês e o que justificaria ele nunca ter vindo para cá e nem ter continuado no SHM.
Há boatos de que após muita hipnose, ele topou voar para os Estados Unidos – espero que ele tome coragem para vir para a terrinha também. Mesmo voando pouco pelo globo, sua música reverberou os quatro cantos. Alguns de seus hits emplacaram altas posições e se você quiser abrir a caixa de pandora teste essas: Call on Me, Proper Education, Pjanoo, Horizons, Teaser e claro, Frankfurt, a que para essa humilde redatora é a maior obra de arte que ele já fez.
E sabe o que é mais incrível sobre isso? Ela é linda de morrer, mas não é uma faixa composta por acontecimentos complexos, ela é bem orquestrada, isso sim. Uma música progressiva clássica (fãs de prog fazem sim com a cabeça). Uma sequência de acordes em um short loop que preparam a catarse eminente dentro dos seus quase nove minutos mágicos do qual vou me esforçar muito para narrá-los, mas nada, absolutamente nada, será como você parar tudo o que está fazendo para ouvi-la. A soma de acontecimentos aqui talvez seja um dos motivos pelo qual eu acho ela tão perfeita: ela vai crescer, desdobrar, liquefazer, mas vai fazer você sentir tudo isso junto, aí dentro. Aquelas camadas subjetivas do seu corpo que começam a vibrar quando “aquela” música toca. Inevitavelmente ali pelos três minutos de faixa você já estará em um estado de arrepios tão grande, que vai respirar fundo para o futuro. BOOM! Esse é o Eric Prydz, o cara que sabe fazer você sair do eixo.
Tais acordes tem uma energia oitentista e um teor emotivo alto o suficiente para ir mexendo com você sem você perceber. Se a subida não desalinhou seu chakras, o break, definitivamente, vai te levar lá. Esse talvez seja o motivo central que faz ela ser uma de suas melhores enquanto Pryda. Poesia pura! Seja no break, no drop, nos arpejos, você vai se entregar. Eu estarei entregue ao seu lado, chorando (pode rir, eu deixo), tremendo, sorrindo. Muita coisa.
Essa história de amor é muito especial para mim e para minha história com a música eletrônica. Desde o primeiro momento que a ouvi, algo aconteceu comigo. É realmente muito forte. Não sei como será para você, espero muito que seja forte também. Ela pode ser ouvida dentro do EP Remember (outra baita track) e no disco triplo Eric Prydz Present PRYDA (2012), uma bela aula sobre sua trajetória artística e da influência sueca no Progressive House underground britânico, que fez o estilo amplificar seu alcance e chegar em outras pistas de dança e sem sombra de dúvida, se metamorfosear. Uma coletânea cheia de estímulos e emoção, mas nada como a minha escolhida.
Fecho com o seguinte questionamento: Eric Prydz, meu filho, que magia você jogou nessa música? Enfim, pegue seu lencinho e se jogue muito.
Notas de rodapé: Dedico esse texto e essa música a minha grande amiga maravilhosa Alessandra e por tantos momentos inesquecíveis ouvindo e tocando Frankfurt juntas. Meu b2b!
A música conecta.