Uma faixa que se distancia da geração do sentimento de euforia (usual nas pistas de dança), mas que desperta a necessidade de contemplação. Tem faixas que geram uma catarse e te fazem querer pular, mas no caso de What’s a Girl to Do, de Fatima Yamaha, o convite é para uma espécie de disrupção ou para simplesmente apreciar e se deixar conduzir.
Essa é definitivamente uma das obras mais memoráveis que a música eletrônica já nos rendeu, seja por seu efeito em pista ou pelas referências que dão corpo à faixa. Fatima foi brilhante na composição que o catapultou de vez nos radares globais a partir de 2015. Embora a faixa tenha ficado muito mais conhecida quando relançada em 2015, em A Girl Between Two Worlds, EP de estreia do produtor holandês sob o alias de Fatima Yamaha, existem algumas dúvidas sobre o real ano de lançamento da faixa.
Existe um burburinho sobre a faixa já existir desde 2004, e de que à época, Fatima a lançou anonimamente — mas eu não encontrei nenhuma fonte que confirmasse a informação. No entanto, o selo holandês Magnetron Music já havia lançado What’s a Girl to Do em 2012, eeee… com download gratuito — é só conferir ali abaixo no SoundCloud.
Entre algumas das características que se destacam ao darem forma ao brilhantismo da faixa estão o teclado mágico de Yamaha que conduz a linha melancólica, além, claro, do sample do diálogo de Scarlett Johansson ao lado de Bill Murray no filme Lost In Translation (Encontros e Desencontros): “I just don’t know what I’m supposed to be, you know… I’m stuck… Does it get easier?” (em livre tradução: “eu simplesmente não sei o que devo ser, você sabe… estou presa… fica mais fácil?”). O recorte é fundamental para aumentar ainda mais o tom de comoção na faixa, que explode com a sua pegada funky.
Um dos aspectos mais importantes também é que What’s a Girl to Do furou a bolha da música eletrônica alternativa e reverberou nas mais diversas ambiências e contextos. A track além de ter embalado muita gente, virou até base de sample para Resistance, composta por Hudson Mohawke e interpretada por Jhené Aiko.
Fatima Yamaha é um produtor de herança turco-japonesa, complexo e engenhoso que escancara sua habilidade seja neste ou em seus outros projetos e pseudônimos. Sempre acompanhado de excelentes referências, ele ganha força por se destacar em um posto só seu, que se sobressai ao evocar as melodias como fonte central de inspiração — simplesmente icônico!
A música conecta.