Sabe aquele momento em que você pensa várias e várias vezes antes de falar? Pois é, só de imaginar que vamos conversar sobre um dos founding fathers da House Music e indiscutivelmente o criador do que hoje chamamos de Deep House, eu já fico mais que empolgado. Sendo fã de House Music ou não, acho muito difícil você nunca ter ouvido uma música feita pelo americano natural de Chicago chamado Larry Heard. Sim, aquele mesmo que no início dos anos oitenta, largou uma banda de Rock Progressivo, comprou um sintetizador, uma drum machine e como resultado fez uma das músicas mais importantes da House Music até hoje: Mistery Of Love
Mas, apesar de estarmos falando do moniker mais famoso de Larry, Mr. Fingers, o Iconic de hoje não se trata do primeiro release do projeto e sim do release subsequente a este, que é de importância e grandiosidade iguais a Mistery Of Love. Para começar, esse EP foi lançado em 1986, momento em que a House Music – que ainda era chamada de Warehouse Music – eclodia em Chicago graças a DJs como Frankie Knuckles. A Gravadora? Trax Records. Sim, aquela lendária e controversa gravadora do rótulo vermelho que viu potencial em artistas como Larry Heard e decidiu lançá-los, mesmo que até os dias de hoje, quase ninguém tenha sido pago por estes trabalhos tão importantes e, claro, best sellers.
Lembrem-se que no meio dos anos 80, a Dance Music como um todo passa por um processo de renovação. Com o fim da era Disco Music e com o avanço digital em instrumentos musicais e equipamentos de estúdio, a grande sensação do momento entre os músicos eram as sonoridades sintéticas, apesar das Divas seguirem como uma peça importante de qualquer faixa que fosse feita para as pistas de dança. Apesar do momento de transição entre tendências, ainda existiam algumas “regras” as quais músicos e produtores seguiam para obter êxito em suas faixas, e é aí que a genialidade de Mr. Fingers entra em ação, já que ele ao mesmo tempo deixa essas normativas de lado e também não as deixa.
Ficou confuso? Vou elaborar de uma forma melhor. Larry Heard é músico instrumentista e sempre fez uso de manobras rítmicas e melódicas que eram usadas pelos grupos de R&B, Soul, Funk e Disco na década anterior, assim como também sempre utilizou vocais em suas faixas, mas a grande sacada de Larry Heard foi apresentar tais conceitos com uma roupagem totalmente inovadora. Progressão melódica? Mais cadenciada. Parte Ritmica? Totalmente computadorizada e hipnotizante. Vocais? Mais falados, de certa forma baseados em outro movimento que estourava no momento, o Rap. O resultado? Sua música em praticamente todos os cases da época.
A nível de impacto, Can You Feel It recebeu diversas premiações como uma das faixas mais importantes para a Dance Music. Rolling Stone, Mixmag, Pitchfork e NME para citar algumas das mídias que reconheceram a importância desta obra de Larry Heard como seminal. Em 1988, quando lançada no Reino Unido, alcançou a posição de número 78 no chart geral de singles e claro, conforme os anos foram passando, a faixa foi ganhando versões diferentes como a com vocal mais famoso de todos os tempos, In The Beginning There Was Jack de Chuck Roberts ou então a versão feita com I Have A Dream, o discurso mais impactante que Dr. Martin Luther King fez durante sua vida.
Uma música que quebrou paradigmas em sua época de lançamento, uma música que serviu e serve de exemplo para todos os artistas que aspiram a compor faixas que tenham Deep House como temática, uma faixa que nos faz lembrar que a música eletrônica é sim uma forma de protesto e reivindicação e uma música que segue mais atual do que nunca. DJ Pierre em uma entrevista disse isso sobre Can You Feel It:
“Quando você ouve Can You Feel It, parece que você está nas nuvens. A faixa usa um órgão que é tocado como cordas – acordes longos que são segurados e não estacados. Todo mundo que ouve essa música se acalma e volta a uma época em que as coisas eram perfeitas em suas vidas.”
Can You Feel It, uma música Iconic.
https://youtu.be/1N9Wnqz8Rh8
A música conecta.