Sky and Sand, pauta da Iconic. Mil vezes uau! Bom, se você está lendo esse texto, significa que, antes de mais nada, concorda que essa é uma grande música. Mas antes de discorrer sobre ela, peço licença para fazer um breve desvio da rota original e contar uma historinha sobre sincronicidade. Receber essa pauta no dia do meu aniversário (yay), significa revisitar uma música que vi e ouvi Paul Kalkbrenner tocar ao vivo, há três anos. Lá estava eu, sozinha, rodeada por estranhos em um festival gigante, bem longe de casa, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto porque, afinal, essa música simplesmente te convida a isso e eu tinha bons motivos para sentir toda aquela emoção.
A editoria do Alataj sabia disso ao me dar essa pauta justo hoje? Não. Nem sequer que era no dia do niver, já que ela está marcada há semanas, randomicamente. Infelizmente, não tenho registros. Ou eu gravava ou vivia o momento e a segunda opção é sempre melhor. Eu só quis contar isso porque não existem mesmo coincidências e eu espero muito que a vida te presenteie com uma sincronicidade como essa que rolou comigo. É como um abraço.
Mas ok, se fosse só eu curtindo o momento, já teria sido uma bela recordação. O live act do artista é um verdadeiro chafariz de energia que sai dele enquanto mexe em tantos botões e instrumentos. Talvez toda essa paixão seja um dos motivos para tanto sucesso e podemos dizer que essa música foi o empurrão para que tudo rolasse. Criada em 2008, ela foi feita por Paul e pelo seu irmão, que também é produtor, Fritz Kalkbrenner. Fritz é a voz perfeita que você ouve neste hino.
A canção foi originalmente produzida para o filme Berlin Calling, escrito e dirigido por Hannes Stöhr. O filme em questão é uma parada obrigatoria para os fãs de Techno de todas as gerações. É a história de um DJ e produtor musical no auge de sua carreira carreira e prestes a lançar seu maior álbum, mas que acaba na ala psiquiátrica de um hospital. É tragicômica e ácida, mas não é só por isso que fez sucesso. Mostra a beleza e o caos da cabeça artística. E, claro, se passa em Berlin e mostra a devoção de um artista pelo Techno, algo que tem representatividade, já explicarei por quê. Junto com essa faixa, Paul, que também atua no filme, produziu o resto da trilha sonora do filme ao lado de Sascha Funke, seu amigo de infância.
Porém, quando surgiu, Sky and Sand meio que roubou a cena. A faixa entrou nas paradas em vários países onde permaneceu por semanas. Na Alemanha foi considerada a música mais longa nas paradas de todos os tempos, passando 129 semanas como um single de destaque. Gente! Uma profunda melodia Techno que encapsula perfeitamente o som da cidade, mas com um teor emocional cheio de história.
Isso porque os irmãos Kalkbrenner são frutos artísticos do lado oriental da cidade e que brotaram com a queda do muro de Berlin. Um momento histórico com imensurável importância para a cidade que hoje é uma das referências culturais do mundo. Foi na adolescência que eles viram o movimento político perfurar a música por uma necessidade de pertencimento das pessoas que por muito tempo estiveram oprimidas. Com isso, o Techno, recém-chegado de Detroit, se transformou em uma forma de expressão e resistência com raízes sólidas. Estamos falando de um dos lugares mais fortes para a música eletrônica. Lembra da representatividade mencionada acima? Paul tocou para 500 mil pessoas no Portão de Brandenbrug para marcar o 25º aniversário da queda do muro.
Já o hit mundial que voltou para minhas mãos, através dos movimentos cósmicos, transformou o artista em um fenômeno. Um ticket-seller, diga-se de passagem. Muita gente foi atrás dele para ouvir esse track e voilà: conheceu o Techno. Um efeito viral que uma faixa bem orquestrada causou. Ela é composta por synths emotivos e edificantes que sobrevoam a batida mais seca e coloca o ouvinte em um modo muito particular de sentir. Tem quem chore, tem quem dê risada, mas ela claramente toca as pessoas em camadas mais profundas. É uma música que fala sobre amor, festas, companheirismo.
No ano seguinte do filme, foi lançada como single com distribuição pela BPitch Control, de Ellen Allien, onde foi apresentada em versão estendida de oito minutos. Esta versão mais longa enaltece as sutilezas da identidade sonora do produtor: a construção lenta, a tensão, a calma, o clímax. Sem muito, mas de maneira visceral. Tão verdade que marcou completamente uma vida. A minha. Talvez milhares de vidas. Quem sabe até mesmo a sua.
O contexto histórico somado à paixão pela música, uma colaboração entre irmãos, o potencial de alcance dessa música que levou o Techno a novos lugares e se transformou em um hino que fica marcado na história e se renova a cada ciclo: indiscutivelmente Iconic.
A música conecta.