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A música conecta

Iconic | The Prodigy – Voodoo People (1994) [XL Recordings]

Salve, salve, clubbers da velha guarda e da nova geração. Hoje, a Iconic resgata uma música que evoca fielmente a energia frenética de uma das bandas mais disruptivas e meteóricas da Dance Music, o Prodigy. Mas, para falar de Voodoo People e como ela leva o punk para a pista, é necessário voltar algumas casas e contextualizar o cenário da época. A faixa em questão ganhou vida no miolo da famigerada década de 90, um eixo musical emblemático cheio de pioneirismo e aventuras musicais até então impensáveis e que simplesmente resultaram em alguns dos maiores e mais renomados projetos que temos conhecimento, incluindo os prodígios de Essex.

O projeto homônimo de um famoso sintetizador (alô synth-heads) ganhou vida dentro do epicentro da cena rave underground no Reino Unido e isso já diz muita coisa. Naquele momento, o Techno já cruzava o oceano e penetrava nas mentes de jovens criativos e intransigentes que buscavam algum tipo de via revolucionária, e para muitos, desaguar tudo isso na música fez todo sentido, como ainda faz. Aliás, a virada anos 80/90 é cheia destas histórias em todos os cantos do mundo e realmente soa como um fenômeno sociológico entre comportamento, música, quebra de paradigmas e manifestos que merece um estudo de caso e editorial aqui no Alataj. 

Pois bem, alguns destes jovens inquietos – Liam Howlett, Keith Flint, Leeroy Thornhill, MC Maxim e Sharky – se cruzaram nas raves da vida e decidiram unir forças para criar uma banda que se definiria como a tal gangue punk eletrônica, com a missão de fazer barulho, inflamar almas e explodir sistemas de som pelo mundo, como eles mesmos contam. Mais tarde, seriam considerados pioneiros no Big Beat com suas músicas que misturavam Techno, Rock, Breakbeat e, sim, uma atitude bem Punk. Resumindo: a contracultura na roupagem noventista em seu clímax. Sendo assim, ao ouvir Voodoo People pela primeira vez ou reencontrá-la no caminho, será rápido perceber a intenção desses caras, especialmente se o leitor/leitora for do Rock. 

Lançada dentro do segundo e poderoso álbum, Music for the Jilted Generation (1994), o compilado nascia em resposta ao preconceito e punições à cena rave local e manifestou esse protesto através de uma inegável agressividade ao bom estilo “para exorcizar seus demônios”. Foi este mesmo álbum que os levou para o topo das chats e maximizou alcances em tempos bem diferentes de propagação, gerando notoriedade internacional ao projeto. A faixa chancela, junto às demais, as más intenções musicais destes garotos-enxaqueca, que tinham o poder de transformar o show de música eletrônica em rodas de punk e hardcore. E faço um parênteses pessoal: viver esse show realmente foi uma experiência catatônica. 

Mesmo em meio às polêmicas da banda, suas letras e seus clipes que incomodaram a ala conservadora, Voodoo People se faz presente como um hino musical para os ravers, mas que conversa diretamente com a esfera rocker, algo que eles abraçaram fortemente nesse álbum. Já nos primeiros segundos, um riff de guitarra famoso se apresenta, sampleado de Very Ape, do Nirvana, em uma abordagem mais metalizada. Na sequência, a batida agressiva – assinatura da banda – ganha espaço e gradativamente se fragmenta, cercada por sirenes, synths e uma inesperada e bem pensada flauta. A faixa se desdobra em tensão pura e recupera o fôlego em breves pausas com o vocal “magic people, voodoo people”.

Essa ideia de misticismo não é por acaso e se reafirma no clipe, que segue a palavra de ordem da banda: criar polêmica. O dançarino prodígio, Leeroy Thornhill, interpreta um padre vodu e dizem por aí que a versão original mostrava feiticeiros reais em ação, mas foi totalmente censurada. Fica a reflexão de como isso seria recebido nos dias de hoje. Entre os remixes, o big beat ganhou um tom diferente quando ninguém mais ninguém menos que Chemical Brothers, assinou o primeiro rework, desacelerando a jornada e ganhando os traços deste outro gigante. Aquele remix despretensioso de amigos musicais que estavam em total ascensão, já pensou? Além deles, a música foi repaginada na versão Pendulum Remix, releitura que apareceu mais vezes nas pistas, assim como a versão de Eskimo, que também abraçou essa estética roqueira no Trance, durante os anos 2000.

É preciso ouvir com os ouvidos bem atentos e tudo fará sentido: uma sagacidade genial, que faz a gente pensar que os anos 90 foram a centelha divina na história da música eletrônica.

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