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A música conecta

Iconic | Wu-Tang Clan – C.R.E.A.M. [RCA Records]

Por Isabela Junqueira em Iconic 11.08.2022

“Cash rules everything around me / C.R.E.A.M., get the money / Dollar dollar bill, y’all…” não é exagero dizer que esse é, sem dúvidas nenhuma, um dos versos de Rap mais conhecido do mundo. E claro que isso só poderia ser mérito também de um dos maiores e melhores grupos de Hip Hop de todos os tempos: Wu-Tang Clan. Apesar de fã, esses títulos não são dados pela redatora que vos redige, mas por uma indústria musical que, gostando ou não da música do clã, se viu obrigada a respeitar os titãs da Costa Leste norte-americana.

Formado e baseado em Nova Iorque, o Wu-Tang surgiu em 1989 com Ol’ Dirty Bastard (ODB), RZA e GZA e posteriormente outros seis membros foram adicionados: Ghostface Killah, Inspectah Deck, Masta Killa, Method Man, Raekwon e U-God. É impossível não falar sobre a origem do grupo para a introdução da Iconic desta quinta, levando em consideração que C.R.E.A.M. (Cash Rules Everything Around Me) é uma exata condensação do que forma o grupo: uma mistura improvável de religião, misticismo, filmes de Kung-Fu e nove olhares atentos aos primeiros beatbox e freestyles que ecoavam pelos conjuntos habitacionais do Brooklyn e Staten Island.

A Iconic de hoje foi o single responsável por atrair os holofotes para Enter the Wu-Tang (36 Chambers), o álbum de debute do grupo e até a atualidade, um dos mais celebrados. Além de líder, o produtor RZA foi simplesmente genial ao recortar um sample de As Long as I’ve Got You, do The Charmels, explorando muito bem o piano e teclas escaladas, que por si só, já forneceram uma melodia sombria que ganhou latência com os vocais em loop e gemidos de Raekwon com o refrão. Method Man foi o responsável por polir o trabalho completo, aprofundando a narrativa sobre como o dinheiro controla tudo ao nosso redor.

Inclusive, quase três décadas depois, é possível dizer que essa faixa, além de icônica, é incompreendida. Há quem considere a faixa uma espécie de “hino capitalista” (muitos risos), mas na verdade, basta uma melhor contextualização para entender que a frase criada por Method Man ressoa muito mais como um brado de frustração do que como uma espécie de comemoração — a sensação generalizada de desconforto e melancolia é uma constante autoral no trabalho do grupo. Na verdade, é absolutamente contraditório à origem do clã que eles sejam cooptados dessa maneira.

E aí vale reiterar: apesar de liderados por RZA, ainda sim, são nove personalidades, ideias, necessidades e desejos diferentes buscando entrar em confluência em um só. Contra todas as estatísticas (literalmente), o Wu-Tang encontrou um mecanismo de funcionamento complementar e com 28 anos de atuação, segue firme apesar do falecimento de ODB. Inclusive, agora no final de agosto, o grupo se reúne à Nas para a New York State of Mind Tour 2022 e se essa não é a maior prova de que o discurso afiado do Clan segue vigente, eu não sei o que seria.

Fato é que entre desafios, a constante necessidade de aprovação e até ruídos internos entre os membros, a obra do Wu-Tang segue com uma importância inquestionável para a indústria musical mesmo depois de quase 30 anos de sua confecção — e C.R.E.A.M. é o melhor exemplo disso. Iconic!!

A música conecta.

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