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A música conecta

Mergulhando em Vertex, EP de estreia de Mia Lunis pela Mind Connector Records

Músicas com profundidade e significado. Essas duas características encapsulam muito bem quem é Mia Lunis como produtora musical. Isso porque, para ela, produzir apenas por diversão não faz parte do processo. Suas faixas são carregadas de emoções e nuances que expressam sua própria vivência e, ao mesmo tempo, ajudam a decifrar a dos outros. Desde os primeiros passos como produtora em 2019, com o lançamento do EP Aquaria, seguido de Animal Trainer no mesmo ano, Caterpillar em 2021, e mais recentemente o single Papillon, lançado em abril, a trajetória de Mia é marcada por uma busca constante de significado e conexão.

Apesar dessa incursão relativamente recente no trabalho de estúdio, sua presença e contribuição para a cena eletrônica é bem mais antiga. Como DJ, Mia Lunis já pavimenta seu caminho desde 2004, experiência que a impulsionou a co-fundar o coletivo Sonido Trópico, em 2014, quando produziu grandes eventos e ajudou a trazer nomes como Nicola Cruz para o Brasil. Após deixar a sociedade para se dedicar a outros projetos, passou pelo Nomade Festival, no Chile, Fusion e Katzensprung Festival, na Alemanha, e o tradicional club KaterBlau, também na Alemanha. Em 2021, ainda recebeu um convite especial para se apresentar na edição virtual do Burning Man, realizada durante a pandemia.

Nos últimos meses, parte do seu tempo tem sido dedicado para aprofundar seu conhecimento na produção musical e testar elementos e sonoridades que têm lhe atraído criativamente. Foi assim, explorando e buscando referências nos synths dos anos 80, em traços da musicalidade africana, em estilos como o Hip Hop e o Pop, e incorporando significados da astrologia e da astronomia, que o EP Vertex começou a ganhar vida.

Lançado no início de agosto pela Mind Connector Records, Vertex brilha especialmente pela construção meticulosa da ambiência na faixa-título, que se enriquece com a forte presença de instrumentos percussivos num diálogo entre o Progressive House e o Indie Dance. Há ainda dois remixes que acompanham: um de Togni, que imprime uma atmosfera mais densa e sombria, e outro de URANNIA, que carrega uma bassline potente e agressiva. Quer entender um pouco mais o significado por trás de Vertex? É só mergulhar abaixo enquanto você escuta as três faixas do EP:

A ideia

Eu fiz um curso imersivo de produção na House Mag Academy e de início eu tinha em mente testar alguns elementos que vinha carregando como referência de produção, na intenção de abrir meu leque musical. Um exemplo: eu tinha em mente trabalhar na utilização de synths no Ableton, já que eu não tenho sintetizadores analógicos e eu gostaria de replicar o mesmo efeito sonoro.

Uma das referências sonoras que eu captei nesse sentido, (mas que não faz uso do software) é o produtor Labrinth, vi na sonoridade dele um desafio para trabalhar no software e isso me motivou a querer aprender mais sobre. Indo um pouco mais a frente, gostaria de encaixar alguns elementos que são mais utilizados no Hip Hop e Pop, dentro da proposta sonora que eu já tenho que é o Progressive House, Indie Dance e afins.

Para além do uso dos synths que estão triplicados na faixa pra dar essa sensação de força, a música precisava de uma mensagem, eu estudo astrologia e astronomia, sou autodidata e nesses estudos apareceu o Vertex (ou Vértice, em português). Quem foi meu tutor em todo esse processo foi o Sisto e mesmo após a imersão seguimos com as aulas online até finalizar a música

A escolha da gravadora

Eu conheci o trabalho do Hopper (headlabel da Mind Connector) pelo Facebook. Começamos a trocar ideia sobre alguns artistas que já haviam lançado na label como a Mila Journée, Togni, Urannia e eu vi um potencial para o meu tipo de som. Enviei a Vertex pra ele, ele curtiu e resolveu lançar. Foi mais informal do que chegar em um selo grande e fazer todo o processo de enviar demo e esperar meses a fio por um feedback. Foi como falar com um amigo sobre uma possibilidade e ele abraçar a ideia.

Eu me sinto privilegiada de ter tido a oportunidade de lançar através da Mind Connector, tendo em mente que eu adoro a maioria dos artistas que lançam ali e vejo o trabalho do Hopper como algo muito necessário no cenário nacional. Ter uma label independente de música eletrônica no Brasil não é fácil e cada artista que é lançado ali tem sua obra tratada com atenção, dedicação, respeito e carinho. Eu curti muito ter lançado com o selo e espero que este seja o primeiro de muitos pela frente.

A grande influência

Inicialmente a grande influência foi e segue sendo a música em si, em seu poder total de servir ao público. Seja pra dançar, se divertir, se alegrar, sair da tristeza, se energizar e etc. Acredito que a música tem sido a melhor maneira que encontrei de expressar sentimentos e através dela entender os sentimentos de outros também.

Eu mergulhei em diversos gêneros musicais para entender o uso dos elementos, clima, ambiência, etc. Então, do Hip Hop ao Pop, chegando no eletrônico, tem muitos artistas com os quais eu me identifico. Pode soar clichê dizer que eu não quero limitar a minha música a um estilo por mais que o resultado seja um Progressive House, um Indie Dance ou um Afro House, a grande questão desse resultado é que a música eletrônica siga abrindo esse leque de experimentação onde eu possa fazer todas as minhas influências coexistirem.

O significado

Vertex é meu terceiro EP e ele vem de uma sequência de significados pessoais pra mim. O primeiro foi o ‘Aquaria’, lançado pela Hug Records, onde eu estava imersa em questões de saúde mental e estava me entendendo como artista dando os primeiros passos na produção com ajuda de amigos.

O segundo foi o Caterpillar, lançado pela Mau House Records. Nesse eu estava saindo desse processo de imersão e dando os primeiros passos rumo a uma nova perspectiva e maneira de enxergar a vida como um todo e por isso o nome Caterpillar, ou lagarta, dado esse processo de transformação que ela passa.

E o terceiro foi o Vertex que do meu ponto de vista solidifica meu encontro com esse novo universo interno e externo para além de me fazer mergulhar ainda mais fundo no processo de produção. Eu me sinto feliz por ter conseguido chegar até aqui, acredito que ainda vou aprender muito sobre produção e sobre como me expressar através da música, além de me conectar ainda mais com o público através dessas histórias compartilhadas.

A pista dos sonhos

Eu imagino essa música sendo tocada em um festival nacional ou internacional, por ter uma percussão forte eu acredito que ela caia bem com uma plateia grande onde as pessoas pudessem vibrar a energia que ela passa. Dos nacionais imagino em um Só Track Boa e até os de renome mundiais que vieram pra cá como DGTL ou Time Warp, já que estamos falando de sonhos, por que não?

Eu já toquei no Fusion Festival na Alemanha e foi um baita momento que eu adoraria repetir a dose, imagino que nesse tipo de festival onde as pessoas se conectam com a música e com um propósito maior que ela possa trazer para a população de modo geral é o local ideal para apresentar meu trabalho como produtora e como agente ativa no cenário.

A música conecta.

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