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A música conecta

Raio X | Daft Punk

Por Alan Medeiros em Notes 29.10.2025

Apesar do Daft Punk ter encerrado oficialmente suas atividades em fevereiro de 2021, o fascínio em torno de seus fundadores, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, não é algo que saiu do radar. O impacto dos robôs na música eletrônica e também na música pop do século XXI é imensurável. 

Para reacender a chama dos fãs em torno dessa lendária carreira, Thomas Bangalter, que veste o capacete prateado, proporcionou um momento nostálgico e inesperado. No último fim de semana, Bangalter fez seu retorno há muito tempo aguardado aos decks em Paris, apresentando um b2b surpresa com Fred again.. b2b Erol Alkan b2b Ed Banger durante as celebrações do 20º aniversário da Because Music, no Centro Pompidou.

O set marcou a primeira apresentação pública de Bangalter em 16 anos, um hiato que sublinha o nível de mistério e a rara discrição que a dupla sempre manteve. Desde o lançamento de Homework em 1997, a intenção de Bangalter e de Homem-Christo sempre foi manter o foco na música, e não em suas personas humanas, uma estratégia que culminou na adoção de seus icônicos visuais robóticos. 

A volta de Thomas aos decks nos convida a um novo mergulho na história de Daft Punk, buscando encontrar alguns dos pontos menos óbvios que moldaram a identidade artística da dupla. Por trás dos hits globais, parcerias icônicas e da pirâmide iluminada, encontram-se quatro histórias cruciais que, combinadas, oferecem um panorama único e aprofundado sobre como dois jovens franceses se tornaram os embaixadores mais emblemáticos da música eletrônica global.

Este é o Raio X do Alataj


A crítica destrutiva que formou uma identidade

Antes de se tornarem Daft Punk, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo formaram uma banda de punk rock inspirada nos Beach Boys, chamada Darlin’, no ensino médio, com Laurent Brancowitz (que mais tarde co-fundaria a Phoenix). O projeto Darlin’ teve vida curta e lançou apenas duas faixas.

Foi em 1993 que a revista de música britânica Melody Maker publicou uma crítica negativa sobre uma das músicas lançadas, que foi descrita como “daft punky thrash” (lixo punk idiota). Em vez de se ofenderem, a dupla abraçou o insulto, adotando a ofensa como seu novo nome e identidade, transformando uma crítica em uma marca lendária que mudaria a música eletrônica para sempre. 

Humanizando robôs através do vocoder

Embora o vocoder seja instantaneamente reconhecível como o som da voz de um robô, seu uso em Random Access Memories (2013) foi uma profunda declaração artística e um esforço para humanizar a persona robótica. Em contraste com a tendência tecnológica da época de fazer vozes humanas soarem cada vez mais robóticas (como no caso do auto-tune), a abordagem do Daft Punk foi usar sistemas de vocoder e talk boxes vintage e tentar fazê-los soar o mais humanos possível.

Thomas Bangalter revelou em uma entrevista que eles passaram semanas gravando os vocais dessa maneira, trabalhando intensamente nas entonações, vibrato, legato e etc. Essa meticulosidade fez com que a voz robótica parecesse ganhar emoção e profundidade, como se o robô estivesse se tornando mais humano, mas ainda mantendo sua qualidade mecânica distintiva. 

A rejeição à idolatria

O uso dos capacetes pelo Daft Punk é frequentemente visto como uma busca por privacidade, mas, em sua essência, era uma declaração artística e filosófica contra o culto à personalidade. Thomas e Guy-Manuel intencionalmente não queriam que o público os visse como “ídolos” no molde de um Mick Jagger. A figura robótica assegurou que o foco permanecesse na música e não em suas vidas pessoais, que eles mantiveram estritamente fora do alcance da mídia.

A dupla via-se mais como “os produtores dos robôs”, explorando a fronteira entre ficção e realidade. Essa ausência de um rosto acabou se tornando o maior ponto de diferenciação e a força da marca, permitindo que os fãs fizessem grande parte do trabalho promocional por eles através de figurinos e tatuagens. Essa estratégia de distanciamento foi tão bem-sucedida que, mesmo após a separação, a marca Daft Punk recebeu elogios como “a marca mais bem gerida do pop” e uma “lição no uso da distância”.

O inimigo do sucesso é a fórmula 

O duo sempre teve um compromisso notável com a inovação, tanto que seus membros se recusavam a repetir fórmulas de sucesso, argumentando que, por mais que as pessoas gostassem de algo que tivessem feito, eles não poderiam refazê-lo de forma que fosse tão emocionante quanto a primeira vez. Essa filosofia levou a saltos conceituais significativos, como a mudança do house minimalista de Homework (gravado no quarto de infância de Thomas) para o toque nostálgico e rico em samples de Discovery.

Tal inquietação os fez ficar descontentes não apenas com as limitações de laptops, samplers e estúdios caseiros, mas também com o estado da música eletrônica em geral, que segundo eles, carecia de profundidade e emoção. Ao encarar cada projeto como um experimento, eles buscavam contribuir para o imaginário coletivo do que viria a seguir, focando em criar música que tivesse um propósito particular e expressasse uma ideia e emoção presente em suas mentes e corpos.

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