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A música conecta

Traumer e a consolidação de um som híbrido que orbita entre minimal, house e techno

Por Marllon Eduardo Gauche em Notes 22.12.2025

Existe uma sonoridade específica que hoje circula nas principais pistas do mundo, um estilo de som que não é exatamente minimal, nem puramente house, nem mesmo pode ser definido como techno. É um som que fica ali entre esses três territórios e que tem espaço justamente por funcionar bem em diferentes contextos de pista. E se tem alguém que sabe como aproveitar e traduzir muito bem essa sonoridade nos sets, esse alguém é Traumer.

O projeto assinado por Romain Reynaud se consolidou ao longo da última década como uma excelente referência desse “meio termo”. Sua música não depende de grandes melodias ou momentos óbvios de impacto. Ela se apoia no ritmo, na repetição, nas pequenas variações e numa atenção minuciosa ao groove. É um tipo de som que cresce aos poucos e que, num primeiro momento, para algum clubber mais iniciante, pode até ser “difícil” de absorver; é necessário um pouco mais de tempo de pista para compreender exatamente a proposta.

E isso é algo que Traumer também construiu com o tempo, ao longo de muitos anos, não foi de uma hora pra outra. Ele começou sua trajetória em 2011, com lançamentos mais retos e obscuros de techno, especialmente pelo selo francês Skryptöm… é algo que muitos que o conhecem hoje provavelmente nem imaginavam. Mas essa fase inicial foi importante para construir uma base técnica sólida, muito ligada à eficiência de pista. 

Por volta de 2015 e 2016, no entanto, sua música passou a mudar de direção, absorvendo influências claras da cena minimal romena, com nomes como Rhadoo, Raresh e Petre Inspirescu. A transição não significou abandonar o techno, mas adaptar sua lógica. O que Traumer fez foi manter a estrutura forte e funcional do techno, aplicando isso a uma estética mais sutil, focada em microgrooves, percussões limpas e linhas de baixo bem definidas. Faixas como Hoodlum, Ijah, Lucea e Whisky Roll são bons exemplos desse equilíbrio: música hipnótica, mas que segue sendo direta e eficaz na pista.

Esse pensamento também se reflete na criação do selo Gettraum, lançado em 2016. A gravadora se tornou a plataforma perfeita para ele apresentar esse tipo de som com mais liberdade — minimal, elegante, funcional e com forte apelo para outros DJs. Com o tempo, o Gettraum ajudou a consolidar uma estética que hoje aparece com mais frequência em clubs e festivais, naturalmente influenciando muitos artistas ao longo dos últimos anos.

Outro ponto importante da trajetória de Traumer é a forma como ele organiza suas diferentes ideias musicais. Ao assinar trabalhos com pseudônimos variados, como Romain Poncet, Sergie Rezza (em parceria com DJ Deep) e Amine Laje, ele separa linguagens sem confundir o público. Cada projeto tem um foco específico, mas todos compartilham a mesma base rítmica e a mesma atenção à construção sonora. Nos sets, essa lógica fica ainda mais clara. Traumer é conhecido por apresentações longas, cheias de faixas próprias, edits não lançados e uma leitura precisa da pista.

A vinda de Traumer ao Brasil, com apresentações no D-EDGE (Rio, dia 26, e São Paulo, dia 27), no AYA em Jericoacoara, dia 29, e no Surreal Park, no Réveillon, dia 31, ajuda a contextualizar essa influência dentro da cena. São pistas diferentes, com públicos distintos, mas que dialogam bem com esse tipo de sonoridade híbrida. Nem purista, nem comercial, mas profundamente conectada à lógica clubber. 

Mais do que um nome de referência na cena mundial, Traumer representa uma forma de pensar música eletrônica hoje: menos preocupação com o que os outros vão pensar ou dizer, e mais atenção à funcionalidade, ao ritmo e à experiência coletiva que sentimos na pista. 

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