“A bunch of daft punk”, ou traduzindo, um bando de punks bobos. Quando um jornalista da Melody Maker usou essas palavras para falar sobre a primeira banda de Thomas Bangalter e Guy-Manoel de Homem-Christo, chamada Darling (ou Darlin’), sem saber estava ajudando a fazer história. Porque a partir dali nada seria como antes, nem para os dois amigos e muito menos para quem ouviu música nos últimos vinte anos: nascia o Daft Punk.
Mas antes disso voltemos ainda mais no tempo, para o começo dos anos 90, quando os jovens Bangalter e Homem-Christo estudavam juntos na escola secundária e, já interessados em música, juntaram-se a outro enfant (Laurent Brancowitz, hoje mais conhecido como guitarrista do chatíssimo Phoenix) para formar uma banda de rock, a já citada Darling. Entre esse momento e aquela fatídica resenha passaram-se apenas alguns meses, poucas canções – duas delas colocadas numa compilação organizada pelo Stereolab – e pronto. A banda chegava ao fim.
De repente era 1993, e os punks bobos estavam numa rave onde encontraram Stuart Macmillan (do Slam), a quem entregaram então uma demo. No ano seguinte saia pela Soma Records – selo de Macmillan – o primeiro single da dupla, “The New Wave”, cujo lado b fechava com uma faixa chamada ‘Alive (New Wave Final Mix)’, que por sua vez evoluiria para ‘Alive’ e três anos mais tarde estaria no debute do Daft Punk, o indefectível – e preferido da casa – “Homework”.
O disco foi lançado pela gigante Virgin, mas o contrato assinado dava total liberdade criativa à dupla, que já havia recusado algumas ofertas de outras gravadoras. E se as faixas ’Alive’ e ‘Da Funk’ – lançada como single em 1995 – já eram pistas seguras sobre qual seria a trilha seguida pelos franceses, “Homework” deixava claro que o Daft Punk não era apenas mais um nome na crescente e já segmentada cena de dance music: nele o duo soube costurar de maneira única diferentes variações da já rodada house music (progressive, acid), techno, electro, disco e funk, com linhas de baixo pesadas, vocoders e beats pulsantes.
Não sem razão é considerado por muitos um dos marcos da música eletrônica, influência e referência certeiras para tudo que foi feito depois quando o assunto é música de pistas.‘Around the World’ foi provavelmente o mais saboroso hit-chiclé daquele ano, com um divertido vídeo dirigido pelo cineasta Michel Gondry; além dele, Spinke Jonze, Roman Copolla e Seb Janiak também dirigiram clipes de canções extraídas de “Homework”.
Com o sucesso, muitos esperavam que o Daft Punk aproveitasse momento e lançasse rapidamente o sucessor de “Homework”, mas 4 anos o separam de “Discovery”, seu aguardado segundo disco.
Concebido como um enorme flashback dos anos 70 e 80 e impulsionado pelo hit ‘One More Time’, “Discovery” é, por assim dizer, menos bicudo, mais divertido e pop que seu antecessor. Não espantou os antigos fãs do Daft Punk e com certeza abriu definitivamente as portas do mainstream para a dupla francesa, que pôs no mercado ainda em 2001 um álbum chamado “Alive 1997“, contendo 45 minutos de uma apresentação sua gravada na Inglaterra durante a turnê de “Homework”.
Sem o conhecido trauma do segundo álbum pesando em seus ombros e praticamente uma unanimidade, o Daft Punk sentiu pela primeira vez o tranco das críticas negativas em 2005 com “Human After All”.
Se dois anos antes os franceses ousaram ao produzir o longa de animação “Interestella 5555“, foi justamente a falta de ousadia o ponto fraco de seu terceiro disco; de qualquer forma, ‘Robot Rock’ e ‘Technologic’ mantiveram a sina de apresentá-los a novas audiências.
Sem parecer se importar muito, o Daft Punk partiu em 2010 para uma viagem completamente diferente de tudo que já havia feito, ao assinar a trilha sonora de “Tron: Legacy”. O filme é um remake sombrio de uma ficção científica de 1982, e suas canções – óbvio – seguem o mesmo caminho, afastando o duo das pistas de dança e trazendo à memória outro ótimo trabalho de Bangalter junto ao cinema, a composição da trilha do filme “Irreversible” (2003).
E agora, passados três anos – ou oito, se pensarmos em “Human After All”, o Daft Punk ressurge com um novo álbum, “Random Access Memories”, que traz entre os muitos convidados especiais o lendário Giorgio Moroder. Mas isso é história para um próximo capítulo, em breve aqui no PCP…
Via Pequenos Clássicos Perdidos
Autor: Fabio Bridges (extraído da Revista Warung #004)