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A música conecta

“Poder viajar o mundo fazendo o que você ama é um privilégio raro”: um bate-papo com Barem

Por Alan Medeiros em Entrevistas 19.07.2017

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Maurício Barembuem é um grande expoente do que há de melhor na música eletrônica sul-americano. O DJ e produtor argentino é o cabeça da Fun Records ao lado de Alexis Cabrera. Antes disso, se tornou conhecido internacionalmente após ser apadrinhado por Richie Hawtin e se transformar em uma das grandes apostas da MINUS ao redor do globo – inclusive por aqui.

O tempo passou, Barem amadureceu e se tornou um artista mais completo e versátil. Sua história com o Brasil é curiosa e marcada por apresentações memoráveis, como as registradas na Levels em Porto Alegre e no Warung Beach Club em 2014, um closing set marcante após o live de Stimming. Relembre essa noite no vídeo abaixo: 

Tranquilo e consciente da sua posição no mercado, Maurício reagiu naturalmente ao processo de consolidação de seu nome na cena, se manteve fiel a suas referências e evoluiu musicalmente gradativamente com o tempo. Esses fatores fizeram dele um artista desejado e disposto a superar expectativas criadas em torno de seu poderoso nome. Às vésperas de mais uma passagem pelo Brasil, falamos com Barem:

1 – Aqui do Brasil a gente tem a sensação que o techno é mais parte da cultura argentina do que da brasileira. Como você vê o estilo inserido dentro da cena musical do país? Você considera positivo o saldo dessa avaliação em relação a tudo o que foi feito até aqui?

Bom, há cerca de 15 anos, o techno também era bastante underground e pequeno na Argentina. Isso foi crescendo e se tornou enorme. Acho que as cenas em todos os países tendem a mudar de direção com o tempo. A coisa com o Brasil é que ser um país tão grande e com uma cultura local tão rica, o que vem do exterior nem sempre é inserido da mesma maneira, pelo menos é assim que vejo como um estrangeiro. Mas é verdade que o techno ainda tem muito espaço para crescer ainda mais. O futuro irá dizer, mas eu já vejo isso acontecendo.

2 – Como tem sido seu trabalho junto com Alexis Cabrera na Fun até aqui? Ter seu próprio selo mudou sua visão enquanto parte do cenário da house e techno mundial?

Honestamente, não mudou muito a minha visão. Acho que a cena house e techno vem mudando constantemente desde o início da comercialização dos arquivos digitais e o boom das redes sociais. A quantidade de novos labels que apareceram foi impressionante – um pouco como está acontecendo agora com o retorno do vinil. Há toneladas de novas gravadoras de discos todos os dias. Portanto, estar do outro lado do balcão, como proprietário do label, só faz você mais consciente da dinâmica do mesmo, mas é muito semelhante com a informação que você tem quando é um DJ que também fala com os proprietários dos selos.

3 – Após passar por diversos países do mundo com sua música, certamente você está apto para responder essa pergunta: o que só o dancefloor sul-americano tem? O que há de mais especial com as pistas por aqui?

Acho que depende muito do club, e às vezes dentro de um mesmo club, uma festa específica. Você pode dizer que as pessoas na América do Sul são em geral mais enérgicas, gritam mais e coisas assim, mas você também pode encontrar isso na Itália ou até mesmo no Japão. Acho que tem mais a ver com atitude do que um comportamento particular. Quando você encontra uma boa festa na América do Sul, na maioria das vezes a multidão age como um todo, o que não acontece tanto na Europa ou em qualquer outro lugar. Eu diria que essa é, em minha opinião, a principal diferença.

4 – Você sabia que sua passagem pela pista da Levels é tratada como um março histórico pra cena de Porto Alegre? Fale um pouco sobre as expectativas para esse retorno.

Eu sei! Lembro-me quando estive lá alguns anos atrás, fui avisado que talvez as pessoas não estivessem preparadas para o tipo de música que eu toco, que elas estavam acostumadas com outro tipo de som e que poderia ser difícil. Lembro-me de estar muito nervoso, pois realmente não gosto dessas situações. Mas tudo correu tão bem, eu nunca acharia que eles não estavam acostumados com aquilo, totalmente o contrário. Isso acontece às vezes, mas se você está aberto a isso, você pode ter momentos incríveis e descobrir algo que talvez você não soubesse muito sobre. Essa é uma das melhores coisas que podem acontecer com você como DJ, ir a um lugar onde este tipo de magia acontece. Agora, é diferente porque eu sei o quão boa é essa festa, então minhas expectativas são muito maiores. Tenho certeza que será incrível e não vou ter que correr para outra gig como da última vez, estarei mais relaxado, tocarei mais e não olharei o tempo constantemente.

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5 – Como surgiu seu contato com Richie Hawtin? Quão especial foi a MINUS na consolidação internacional da sua carreira enquanto DJ?

Aconteceu por acaso. Ele já estava tocando uma das minhas faixas e tocou ela em um festival que participei em Buenos Aires. Então corri para casa e gravei um CD com algumas outras faixas para entregar-lhe no after party. Mais tarde naquela semana, ele me contatou e começamos a falar sobre eu fazer algo para o label. Por volta desse momento, foi o auge do hype da MINUS, sendo assim, era um grande empurrão para qualquer um que se juntasse. Acho que fez uma grande diferença, em primeiro lugar em consciência, porque a maioria das pessoas que seguiram aquela música sabia que eu estava há um curto período de tempo, e também aprendi muito com todos eles.

6 – Como você tem sido recebido pelas festas e clubs brasileiros? Há alguma experiência realmente inesquecível por aqui?

Sempre ótimo. Fiquei muito impressionado quando vi o D-EDGE pela primeira vez, há cerca de 10 anos atrás. Naquela época, nunca tinha visto um club como esse fora da Europa. Mas a primeira vez que fiquei surpreso foi quando fui com Richie para o Warung. Acho que até hoje continua sendo uma das noites mais incríveis em que já toquei. Realmente não sabia o que esperar e simplesmente não podia acreditar nos meus olhos. Esse lugar e a energia do seu público são totalmente únicos.

7 – Gigs, novidades, lançamentos… o que podemos esperar do Barem para o restante de 2017?

Agora estou de volta à grande turnê sul-americana, depois volto para a Europa para ficar só um pouco antes de ir para América do Norte. Então, de volta para Europa por algumas semanas antes de fazer a segunda parte da tour de inverno da América do Sul. Depois disso, estarei principalmente na Europa até dezembro. Estou tentando terminar um novo disco, mas não estou 100% convencido e esta parte do ano é um pouco difícil com todas as viagens. Espero que depois de setembro, eu consiga tirar umas semanas para me dedicar completamente a isso. Além disso, e também em setembro, lançamos um EP incrível do artista croata Mariano Mateljan como FUN005.

8 – Por fim, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Sempre amei a música. Não me lembro de uma época da minha vida sem isso, mas ela tornou-se um modo de vida, não apenas uma paixão, e também o meu trabalho. Quando isso acontece, nunca mais é a mesma coisa, para o bem e o mal. Já passei por diferentes estágios e sentimentos em relação a isso desde então, mas com certeza as partes boas sempre superaram as partes ruins e minha carreira musical foi o maior presente e fonte de descoberta que eu poderia pedir. Poder viajar o mundo fazendo o que você ama é um privilégio raro, e mesmo que você odeie o quão intenso isso pode se tornar, nunca me arrependi do caminho que escolhi.

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A música conecta as pessoas! 

+++ Barem toca quinta-feira no D-EDGE em São Paulo e Sábado na Levels em Porto Alegre.

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