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A música conecta

Alataj entrevista Victor Ruiz

Por Alan Medeiros em Entrevistas 15.02.2019

Se nesse mesmo dia e hora de 2014, você sentasse para conversar com o maior dos fãs de Victor Ruiz e contasse tudo o que tem acontecido recentemente com a carreira do DJ e produtor brasileiro, certamente seria uma história difícil de acreditar.  Cinco anos foram mais do que suficientes para uma transformação 360 na jornada musical deste brilhante artista.

Oriundo de um movimento musical distinto com relação ao que hoje está inserido, Victor quebrou paradigmas, bateu recordes e calou muita gente que duvidava do seu potencial, para então se tornar um dos grandes nomes da história do techno no Brasil. Sua carreira segue em constante movimento e talvez passe pelo melhor período até aqui, mas ainda assim não é prematuro dizer que seu nome já está gravado na história da nossa eletrônica. Entretanto, ele quer mais.

No fim do ano passado, Victor Ruiz se mudou para Berlim a fim de explorar oportunidades que estavam se tornando cada vez mais frequentes no âmbito internacional. Com constante reconhecimento de grandes artistas da cena global e lançamentos por alguns dos principais labels da indústria, Ruiz deixou de ser uma aposta para se tornar uma realidade do techno mundial. O Brasil, gigante, ficou pequeno e com essa nova realidade cada gig por aqui tem um gostinho especial. Às vésperas de mais uma tour, falamos com ele:

Alataj: Oi, Victor! Tudo bem? Prazer falar com você novamente. Desde que você iniciou o importante processo de transição sonora em sua carreira, sempre considerei seu som com a cara da Drumcode. Bom, no fim do ano passado você alcançou um lançamento pelo desejado label do Adam Beyer. O que essa conquista representou na sua vida?

Victor Ruiz: Fala Alan, tudo bem por aqui, e o prazer é todo meu! Eu não posso negar que toquei (e ainda toco) bastante material da Drumcode, portanto nada mais natural do que soar um pouco parecido. A história desse lançamento é muito interessante. Eu estive em contato com o Adam fazia um tempo, indo e voltando com músicas e muitos “not yet’s”, e eu estava um pouco fissurado em lançar lá. Até que em um determinado momento eu desencanei de mandar coisas novas pra ele. Eis que eu tive uma conversa bem especial com o Stephan (Bodzin) na Tribaltech, e ele me disse que estava muito feliz pelo meu sucesso até então, mas que ele achava que eu deveria fazer mais músicas melódicas (tanto que a faixa minha que ele mais gosta é a Soul Seek) e que isso ia me dar uma visibilidade muito maior. Eu meditei sobre o assunto e pensei “por que não misturar os dois ‘mundos’? Porrada e melódico”. Inspirado nisso eu comecei a fazer uma sucessão de faixas nessa mistura e uma delas foi a Pulso, que entrou na compilação da DC.

Eu diria que esse lançamento foi, na verdade, o resultado de uma mudança interna e artística. Obviamente, lançar lá abriu muitas portas, e também estou mais próximo dele e estamos planejando coisas pro futuro, então significou coisas muito boas.

Através do Thursdate, você pode tocar com alguns artistas importantes do ponto de vista pessoal e profissional, tudo isso na cabine do Watergate. O que você pode nos contar sobre essas gigs até aqui?

Foram duas noites no ano passado com essa “residência” no Watergate. Ambas foram muito especiais, tocando com artistas que significam muito pra minha vida pessoal e profissional (Any Mello, Alex Stein e Thomas Schumacher). Também, por ser no Water Floor, pude fazer sets mais experimentais, especialmente na segunda noite que eu toquei desde o comecinho até o Thomas entrar, totalizando quase cinco horas de set. Foram todas bem cheias, tanto que já estamos planejando algumas noites dessas pra 2019, mas no fim de semana, já que o resultado foi tão positivo.

Ano passado você fez uma tour especial pelo Brasil em b2b com o Thomas Schumacher, um dos artistas que realmente te apoiaram ao longo de sua carreira. Como foi compartilhar momentos tão especiais com ele ao longo da tour?

O Thomas é o meu irmão alemão. Conheci ele em 2014 e desde lá ficamos muito próximos em pouquíssimo tempo. Compartilhamos incontáveis horas no estúdio, e começamos a flertar com a ideia de tocar juntos de vez em quando, já que havia muita gente pedindo por isso. Eis que surgiu a oportunidade de fazermos esse fim de semana no Brasil e foi incrível! Pude mostrar pra ele muitas coisas interessantes do nosso país, como beber água de coco diretamente da fruta e experimentar arroz, feijão e farofa, coisas que ele nunca havia experienciado. Ele é muito querido e espero repetir isso mais vezes.

Sem dúvida alguma, você é um dos expoentes dessa atual geração de artistas brasileiros que tem colocado a música eletrônica nacional em posição de destaque global. Como você enxerga esse atual momento? Talvez estamos vivendo o melhor período das cenas techno/house da nossa história?

Quando eu comecei a produzir, há 13 anos atrás, eu nunca imaginei o rumo que as coisas iriam tomar. Eu era só um moleque que brincava de fazer beats (terríveis na época, por sinal) e queria atingir qualidade suficiente para poder ter minhas músicas tocadas em festas. Todo o “hard work” que eu botei nisso claramente surtiu efeito depois de alguns anos, mas mesmo assim eu ainda fico tocado em pensar que minha música tem o poder de influenciar e inspirar pessoas. Eu fico muito feliz em ver a maturidade em que encontramos na cena nacional atualmente. Festas e clubs incríveis por todo o território brasileiro que enchem o peito e dão um puta gás pra todos os artistas que lutam pela cena. Acredito que há muito espaço pra melhorar, mas estamos num “very sweet spot”. Fico muito feliz em ver a direção que as coisas estão indo.

Uma rápida olhada pelas estatísticas do Beatport nos permite afirmar que você é um verdadeiro hitmaker dentro da plataforma. Na sua opinião, quais características fazem sua música ser tão aceita por outros artistas e pelo público também?

Olha, é muito difícil para mim analisar minhas composições porque elas fazem muito sentido na minha cabeça (e nos meus ouvidos) e acabam sendo uma extensão do meu ser. Como eu me forço a estar sempre em movimento e em evolução, é normal eu achar um som meu de alguns meses atrás completamente destoante. Por outro lado, com frequência eu acabo redescobrindo sons meus que por muito tempo não tocava e eles soam muito atraentes e “fresh” para mim novamente. Essa seria minha percepção íntima sobre meu trabalho.

Agora, falando sobre as características que fazem as pessoas gostarem dos sons, eu diria que é porque eu não sou um “ordinary party boy” e sim um cara que vem do Rock e Metal e insiro essas influências bem fortes no meu som, de uma maneira que muita gente não percebe conscientemente, mas sente que tem algo a mais. Isso eu sempre me esforcei pra fazer: pensar fora da caixa. Não quero, nem pretendo, que minha música soe como de outros. Sigo na eterna busca de fazer um som especial e autoral.

Warung, Ame, Air Rooftop e Carnavibe. Quais são suas expectativas para esse retorno ao Brasil? Aliás, o que representa voltar ao Brasil desde que você foi morar em Berlim?

Frio na barriga! 🙂 O primeiro fim de semana será especial, onde eu retorno pro meu club do coração, o Warung, e também faço minha estreia no Ame, que promete ser um titã do circuito Techno no Brasil.

Obviamente também estou muito ansioso pra voltar a São Paulo e Curitiba, que são, talvez, as primeiras cidades que me abraçarem e apoiaram muito o meu trabalho. Será uma tour bem legal, tenho certeza!

Voltar ao Brasil nesse momento vai ser muito importante, principalmente pra minha vida pessoal. Sou muito próximo da minha família e amigos e morando fora, sinto muito a falta deles. Essa é uma coisa que haviam me dito, mas eu não imaginei que fosse sentir tanto: “home sickness”.

Sinto que é importante abraçar essas sensações e mudanças na vida. Tudo faz parte. Estou animado!

Nós enxergamos a música como uma forma de conexão entre as pessoas. Na sua opinião, qual o grande significado dela em nossas vidas? Obrigado por falar conosco!

A música é a mais poderosa arte, na minha opinião. É justamente o que você disse: ela conecta as pessoas. Todos os meus amigos próximos eu conheci ou através da música, ou em alguma situação que tinha música envolvida.

Com o passar dos anos eu aprendi a expandir meus horizontes e apreciar gêneros diferentes. Todos tem sua beleza. Como artista, essa é a forma que me expresso. Eu não escolhi a música, ela me escolheu e, honestamente, eu não sei o que seria da minha vida sem ela. Tudo vem e vai. Tudo passa. Menos a música.

A música conecta.

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