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A música conecta

“A cura de um é a cura de todos. A cura de todos é a cura de um”. Falamos com Junior_C!

Por Alan Medeiros em Entrevistas 15.12.2017

A história de Junior_C nos últimos meses é extremamente difícil de ser transmitida em palavras. Após ser diagnosticado com câncer no ano passado, Junior motivou todo o cenário nacional a uma reflexão intensa sobre a vida e a forma breve com que ela se apresenta. O DJ e produtor musical vivia um ótimo momento na carreira e trabalhava uma grande parceria com a DOC. Após o descobrimento da doença, precisou se dedicar inteiramente a um novo estilo de vida e ao tratamento intenso.

O retorno aos palcos aconteceu na Unity, festa que reuniu um line up digno de festival gigantesco em São Paulo. De Gui Boratto a Vintage Culture, todos estavam lá para celebrar a vida em uma noite de amigos em prol do tratamento do brasileiro – uma noite mágica. Pouco tempo depois, Junior foi premiado como Personalidade do Ano no prêmio RMC e por onde passou em 2017 deixou sua mensagem central: a cura de um é a cura de todos. A cura de todos é a cura de um.

Hoje, de volta aos palcos, Junior_C tem transbordado energia e alegria por onde passa. O tempo fora do estúdio e dos trabalhos não afetou seu desempenho como um exímio DJ, que transporta para a pista muito mais do que uma sequência de músicas, Junior trabalha comunicando emoção. Nessa entrevista exclusiva, a primeira após a descoberta do câncer, falamos sobre relacionamento com o público, DOC e muito mais. Confira abaixo:

1 – Olá, Junior! Impossível começar nossa entrevista sem falar do seu momento atual. Como você está se sentindo agora? Como tem sido passar por esse desafio gigantesco? Saiba que todas as pessoas torceram e rezaram muito por você.

Me sinto privilegiado por tudo que recebi e recebo todos os dias, todo esse amor e carinho, essa vibração que vem de todos os lados. Todos esses amigos que tenho, todo apoio, dedicação e transformação que vem acontecendo em tudo a minha volta, um processo maravilhoso que só se expande a cada dia que passa.

Acredito que estamos nos re-conectando com algo que não se aprende, não se encontra no mundo material ou intelectual, pois já está em você, todos nós já nascemos com esse algo que se chama amor. Minha historia foi apenas o ponto de encontro pra que todos nós pudéssemos nos reconectar a nossa natureza. Toda essa experiência vem nos trazendo dia após dia um grande aprendizado, por isso eu agradeço por tudo o que passei e a todos vocês que vem contribuindo para minha cura e crescimento.

2 – Ainda sobre esse episódio, como foi pra você retornar aos palcos? Tocar, ter um relacionamento mais próximo com o público e produzir são algumas das coisas que você mais sentiu falta?

Voltar a tocar me trouxe uma compreensão mais profunda de toda essa sintonia e troca energética que acontece entre eu e o publico. É como visitar lugares que você já conhece, só que agora com novos olhos e ouvidos. Toda essa energia que as pessoas me enviam só ajuda aumentar mais ainda a conexão daquele momento presente que estamos vivendo. Eu, eles, o club… tudo vira uma coisa só e algo inexplicável e belo acontece.

Senti falta sim, mas ao mesmo tinham tantas coisas novas para eu aprender, estudar e me dedicar que não foi algo que me incomodou muito, agora com certa moderação já estou voltando a tocar. Na produção preciso também ponderar pois muito tempo na frente do computador ainda me da muita dor de cabeça, na media de 2 horas por dia vou finalizando algumas faixas que estavam paradas, começando novas ideias, mas sempre respeitando meu limite e dando um passo de cada vez. Inclusive recentemente finalizei uma faixa que será lançada em breve pelo Warung Recordings.

3 – Como foi pra você reunir tantos amigos e pessoas apaixonadas pela música durante a Unity? Qual era o sentimento predominante naquela noite?

Foi o dia mais lindo da minha vida, fiquei uma semana para tentar entender o que foi a Unity e a conclusão que cheguei foi de que não existia nada a se entender, apenas se entregar, fechar os olhos, desplugar a mente do universo e plugar o coração. Tantas pessoas, tantos profissionais, tantos amigos de diferentes fases da minha vida, tantos outros que nunca nem sequer tive um contato, mas que por algum impulso maior estavam lá, conectados comigo pelo amor, pela compaixão, pela verdade, se doando ao máximo para uma força que era muito maior do que todos nós. Tudo isso em um harmonia perfeita, entramos todos juntos em uma conexão intensa com a nossa natureza. Não havia espaço para o medo, vergonha, ou qualquer tipo de repressão, estávamos no nosso melhor como seres, totalmente vulneráreis, livres e entregues a todos os sentimentos que coração mandava.

4 – “A cura de um é a cura de todos. A cura de todos é a cura de um”. Em todas as esferas da sociedade, o que essa frase representa pra você

Representa a nossa condição existencial, tudo o que pensamos, falamos e fazemos reverbera no mundo a nossa volta, não vivemos no vácuo, nossa existência se define pela forma como nos relacionamos com o ambiente e as pessoas. Ou seja, todo o universo que você percebe é uma resposta as suas próprias expectativas, e que por mais que as vezes a gente não perceba, estamos todos conectados com tudo no universo em uma espécie simbiose perfeita. Todos dependem de todos, a dor de um é a dor de todos, e portanto, a cura de um é a cura de todos. Não temos como renunciar isso, é o que nos descreve como seres humanos, é o significado de estar vivo. Todo esse fenômeno ficou muito nítido no impacto que a minha historia teve na vida das pessoas e como ela promoveu uma transformação na forma como nos relacionamos com tudo. Quando a noticia chegou foi uma espécie de conexão instantânea, sem que percebêssemos já estávamos nos ajudando, cada um na sua busca porem todos na mesmo historia.

Não estamos sozinhos nunca, é preciso compreender que juntos somos muito melhores e quando nos permitimos acessar e expressar essa nova versão de nós mesmos, tudo a nossa volta se re-organiza, retorna ao seu estado natural e assim potencializamos a probabilidade da verdadeira cura, seja ela física, mental ou espiritual. Para o universo essa organização é uma só, se chama amor e ele sempre vence. Por isso gosto de reforçar que minha historia foi apenas o ponto de encontro para que a nossa cura se revelasse, porem os verdadeiros protagonistas de toda essa transformação coletiva que estamos vivendo são vocês, estamos juntos nessa!

5 – Fale um pouco sobre o momento atual da sua carreira. Relacionamento com o DOC, futuros releases, gigs… O que você projeta para 2018?

É difícil falar de projeção nesse momento, 2018 continuará sendo um ano de muito comprometimento com minha saúde, no entanto dentro dos meus limites já tenho conseguido algumas brechas para produzir e fazer algumas gigs respeitando meus horários de sono. Mas não penso muito em projeção, estou deixando as coisas acontecerem mantendo minha percepção no presente e me dedicado no melhor que posso fazer agora. Sobre o D.O.C. continuo firme e forte, inclusive com alguns releases para finalizar, tenho 4 musicas que estão na fila para lançar, mas ainda sem previsão. Para agora tenho um EP que sai em breve pelo Warung Recordings, vai se chamar Wake.

6 – Fora do ambiente de trabalho, quais são suas atividades favoritas?

Gosto muito de caminhar na natureza, estar próximo da minha família, praticar yoga, ler, meditar e fazer alguns exercícios. Adquiri também um certo gosto por cozinhar, como tive uma série de restrições na minha dieta e não como nada que não seja orgânico, existe uma certa dificuldade em comer fora de casa. Logo, o jeito foi botar a mão na massa e fazer minha comida todos os dias.

7 – Wehbba, Propulse, Victor Ruiz e Gui Boratto são apenas alguns dos artistas que você já colaborou. Você se sente mais confortável trabalhando no estúdio com outras pessoas ou isso não faz muita diferença no seu processo criativo?

Na verdade nunca produzi ao lado do Victor, ele remixou uma música minha, a Tone of Soul que saiu pela Not For Us, mas ele é um querido amigo, tanto quanto Wehbba, Propulse e Gui Boratto. Acho que não é uma questão de se sentir confortável, é uma questão de afinidade. Já tentei fazer com outras pessoas e não saiu muita coisa, sem contar que aprendi muito trabalhando ao lado deles.

Com relação ao processo criativo, gosto de dividir ideias e ter percepções de pessoas diferentes para traduzir na musica aquilo que vem da imaginação, o resultado final é sempre inédito e surpreendente. Sozinho ou com outras pessoas meu processo criativo é o mesmo, acho que não existe uma fórmula em si, a ideia simplesmente chega e eu expresso ela de alguma forma, seja no papel, no laptop ou no que estiver na frente.

8 – Para encerrar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

Representa uma conexão profunda com nosso coração, a musica é uma espécie de linguagem universal da emoção e quando essa vibração ou energia sonora nos atinge, automaticamente em uma fração de milésimos de segundos nosso corpo reage expressando um sentimento genuíno, nao tem como mentir para musica, ela simplesmente te pega e você se entrega sem pensar. Meu papel é justamente esse, libertar e re-conectar as pessoas com a verdade delas, fazer da nossa troca de energia a experiência mais incrível da vida.

Foto Laroc por Gui Urban. Fotos Warung por Gustavo Remor. 

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