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A música conecta

Alataj entrevista Morttagua

Por Alan Medeiros em Entrevistas 18.06.2018

Conteúdo powered by BURN Energy

O momento que o DJ e produtor brasileiro Danilo Morttagua aka Morttagua está vivendo é realmente especial. Além de capitanear um excelente trabalho frente a Timeless Moment, Danilo foi selecionado pela BURN como representante brasileiro no conceituado BURN Residency, evento anual que reúne parte dos talentos mais promissores do mundo da música eletrônica para uma intensa jornada de aprendizado e experiências na Europa.

A primeira etapa da edição 2018 já foi e agora Danilo se prepara para os futuros compromissos junto a BURN, ao mesmo tempo que encara com sabedoria uma intensa agenda de releases e projetos aqui no Brasil. Enquanto guia de forma determinada sua jornada de evolução dentro da música eletrônica dentro e fora do país, Danilo não se desapegou de suas origens e certamente este é um dos segredos que fazem sua música soar autêntica e verdadeira.

// Relembre a participação de Morttagua na Semana da Produção Musical do Alataj

A nosso convite, Morttagua falou com exclusividade ao Alataj sobre a importância da BURN em sua carreira, futuro da Timeless Moment, projetos para 2018 e muito mais. Confira abaixo:

Alataj: Olá, Danilo! Tudo bem? Obrigado por falar conosco. Conta pra gente como foi esse processo de seleção para o Burn Residency e o que você tirou de melhor dessa primeira etapa em Ibiza?

Morttagua: Fala Alan! Tudo bem? Primeiramente queria agradecer por esta oportunidade e por este espaço especial na Alataj. O BURN Residency passou por uma reformulação total neste ano de 2018, deixando de ser uma competição entre jovens DJs e virou uma plataforma de apoio e patrocínio para artistas com certa rodagem e que tem potencial para chegar no “next level” internacional. O processo de seleção também foi completamente diferente dos anos anteriores, onde os DJs eram julgados por sets enviados. Nesta edição tive que falar de meu passado, presente e planos futuros, artistas e selos que admiro, meu trabalho na TImeless Moment, minha história dentro da produção musical, suportes e etc. Todo o perfil inscrito foi examinado minuciosamente pelos mentores da BURN Residency (Philipp Straub, Loco Dice, Luciano) em conjunto as maiores agencias de management da Europa, agencias que cuidam de nomes Chris Liebing, Pete Tong, Hot Since 82, Marcel Dettman, Fat Boy Slim, etc. Quando soube da mudança de proposta do BURN Residency, dos critérios de seleção e do formato do programa deste ano, eu resolvi me inscrever.

Como neste ano o BURN Residency não é uma competição, pois não somos julgados pelas nossas performances nos decks, a viagem inicial de Ibiza foi algo para unir os embaixadores de todos os países, receber conhecimento de grandes artistas no IMS e uma convivência a mais com o TIME da Burn mundial para ganhar amizade e para que eles possam conhecer melhor a nossa personalidade, defeitos e acertos.

Aprendi muita coisa nesta curta passagem pela ilha, ensinamentos preciosos de caras como Loco Dice em uma conversa super intimista de mais de uma hora, obtive muito conhecimento ao assistir vários painéis da IMS e vendo de perto como funciona a engrenagem na cidade meca da musica eletrônica mundial. A cereja no bolo foi a oportunidade de tocar em uma ‘private pool party’ no Hard Rock Hotel, com uma plateia pequena, porem com gigantes da cena mundial, incluindo nomes como Nastia e o próprio Loco Dice. Foi bem diferente, novo e gratificante.

Em Julho você viaja para Itália para tocar no lendário Kappa Futur festival, certo? Como está o processo de preparação para esse evento?

Wow! Só de pensar que estarei me apresentando neste lendário e seletíssimo festival neste ano, representando a BURN junto a nomes como Eric Prydz, Solomun e Kolsch, fico até arrepiado. É um dos festivais que mais admiro e sei da dificuldade que é, até para gigantes da cena, de serem selecionados para o Kappa Futur. Jamais imaginei que realizaria esta meta da carreira ainda este ano, era algo que eu tinha como meta a muito longo prazo! Levarei muitas faixas ainda não lançadas, tanto por mim quanto pela Timeless Moment, para deixar os entusiastas do Shazam loucos! [risos]

Ainda sobre seus compromissos no exterior, em Setembro temos o The Ark, parte do Burn Residency. Pessoalmente e profissionalmente, estar envolvido em um evento como este representa o que exatamente?

Com certeza será um evento para ficar marcado para mim, tanto como DJ, quanto como amante de musica eletrônica. Nunca viajei em um cruzeiro, então ficar 5 dias embarcado em um transatlântico no mediterrâneo com 100% de musica eletrônica conceitual rolando o dia inteiro será algo épico. Este será o ultimo compromisso oficial da BURN Residency, teremos um palco só nosso e vamos ter a oportunidade de tocar um set mais longo de 3 horas. Os embaixadores mundiais da BURN, Loco Dice, Nastia, Hot Since 82 e Luciano serão as principais atrações deste palco – será uma honra tocar ao lado dessas feras. Neste cruzeiro será anunciado também um ‘sortudo’ que será agraciado com o investimento de 100 mil Euros na carreira em um contrato com uma das agencias de management que participaram da seleção dos 10 finalistas. Os critérios para a escolha do vencedor do BURN Residency 2018 mundial serão os mesmos utilizados para escolha dos representantes de cada país, ou seja, uma criteriosa avaliação feita por agências e mentores esmiuçando todo o potencial do artista como um todo.

Percebo que a Timeless Moment é, se não o mais, um dos selos brasileiros mais bem estruturados do momento. Como tem sido desenvolver esse trabalho de extrema relevância junto a gravadora e quais são os principais objetivos que você e seu time tem com o selo?

A Timeless Moment foi um projeto pessoal ambicioso desde sua concepção. Queria que ela fosse a principal referência do Brasil para o mundo no segmento Progressive House/Techno Melódico.
Porém não esperava resultados tão grandiosos em tão pouco tempo, pois sempre foi projetado para o longo prazo. Minha ideia é fazer uma espécie de Diynamic/Innervisions nacional, algo que se transformasse não apenas em um selo que lança musicas, mas em um estilo de vida, cuidando de artistas em 360, fazendo label parties, radio shows e tours internacionais.

Agora essa explicação vai ser um pouco longa, mais para entender sobre a nossa operação e nosso diferencial em termos de estrutura em comparação outros selos nacionais é preciso entender um pouco da minha historia como artista e um pouco da historia por trás da concepção do selo.

Todos que me acompanham desde o inicio de minha carreira como Morttagua sabem que sempre fui ligado intimamente aos sons progressivos desde o meu primeiro lançamento, o que muitos artistas da nova geração chamam hoje em dia de Techno Melódico. Diferente de muitos artistas que vão seguindo o trend atual e mudando o estilo, mudando de nome, eu sempre fiquei no progressive por uma razão: eu fazia musica porque amava e não me importava se o som era trend ou não, jamais abandonaria o que eu amo por um possível sucesso comercial.

Tenho muito orgulho das minha musicas antigas e algumas delas são tão atemporais que ainda as toco em meus sets. Quando comecei a lançar faixas de Progressive House em 2010/2011 sempre tive muita rejeição por parte da cena nacional, falta de compreensão ao som talvez, pois estávamos na fase onde o EDM e o “deep pon pon” dominavam a cena e a galera do underground nacional era totalmente avessa as melodias progressivas.

Em determinado momento tive até que nomear meu som de ‘Trance Europeu’ para conseguir estar em algum núcleo de DJs ou festas. Mantive-me fiel ao estilo, mesmo nomeando alguns lançamentos como Techno, Tech House, Deep house e afins, as faixas sempre foram na verdade faixas de Progressivas House em sua essência, apenas camufladas em nomenclaturas. Isto que me fez ganhar certo renome internacional com inúmeros suportes, charts do Beatport e lançamentos pelos principais selos do segmento.


Ticon – Nefertiti (Morttagua Remix) lançado em 2012 pela Baroque Records

Quando percebi que o movimento underground estava aderindo aos sons progressivos novamente, em meados de 2014, eu comecei a planejar a concepção do selo. No inicio de 2016 recebi a noticia diretamente do staff Beatport que eles finalmente estavam estudando acertar os gêneros e que até o final do ano iam expulsar os sons EDM do gênero Progressive House e ele ia voltar a ser 100% conceitual. Foi o tempo que precisava para me articular e usar todo meu know how de mais de 10 anos de consumo incessante do Progressive House para fazer algo aproveitando o novo inicio para o nosso amado velho gênero.

Acredito que por estar envolvido neste segmento especifico há tanto tempo eu tenha um ouvido e um conhecimento deste segmento que poucos têm, já que eu praticamente só consumia este gênero. Este vasto conhecimento pelo som me fez ter um olhar todo especial para cada projeto, cada demo, cada artista que queria trazer para o selo. Como meu nome já era conhecido dentro do segmento por vários produtores renomados na gringa, o meu convite para lançar no selo teve uma grande aceitação, o que me deu a possibilidade de ter grandes produtores internacionais, como Glenn Morrison e Marst no elenco da Timeless Moment logo em seus primeiros lançamentos. Todos os label managers que estão lendo esta entrevista sabem o quão difícil é conseguir nomes gringos para selos nacionais sem ter uma barganha, uma troca por datas em eventos ou algo assim, então o nome que eu construí lá fora dentro deste segmento foi um dos fatores primordiais para conseguir atrair grandes artistas para o selo em seu estagio inicial.

Em termos de estrutura, o selo tem um setor de marketing muito parecido com outros grandes selos nacionais e internacionais. Enviamos a promo para artistas A e rádios. Com sites e blogs trabalhamos com premieres e reviews. A grande diferença no resultado vem na verdade no nosso trabalho de A&R, nas escolhas das músicas, dos remixers, nas dicas que damos sobre mix, master e mudanças nas faixas. O resultado do selo está intimamente ligado ao tempo de minha vida que dediquei estudando, consumindo, produzindo e tocando este segmento. Ao fato de ser fiel ao estilo mesmo nas épocas mais difíceis.

É legal citar também a grande amizade que tenho com os donos dos principais blogs e canais do semento Progressive/Techno melódico. Como estou há muito tempo lançando estes tipos de faixas, eu tive contato com eles muito antes de ficarem grandes, cedendo minhas faixas e atenção para eles em uma época que não tinham nem mil seguidores. Por exemplo, se você pesquisar Morttagua e Progressive Astronaut vai ver que tenho faixas lá desde 2014 e desde 2012 no canal Progressive House (são do mesmo dono) . Hoje o Progressive Astronaut é o maior canal do mundo no segmento. Estávamos juntos na época de seca e estaremos juntos na época da colheita. Essa longa relação com eles também faz com que meu selo seja cuidado por eles com muito carinho, que se converte no grande suporte que eles dão a Timeless Moment.

Um dos seus próximos lançamentos conta com um remix da lenda Robert Babicz, certo? Como isso aconteceu? O que você pode compartilhar conosco sobre o processo criativo desse EP?

Sim exato, meu próximo lançamento se chama The 8th Sense, que é na verdade uma versão totalmente atualizada de uma faixa antiga minha chamada 7th Sense que foi lançada pela lendária Black Hole.
Tive a honra de ser remixado por um dos nomes que mais admiro dentro deste segmento melódico que é o Robert Babicz. Eu havia entrado em contato com ele no inicio do selo para incluir seu nome na promo list. Um dia resolvi mandar a música para ele e ele adorou a faixa. Ele já acompanhava o selo e topou remixar. Porém, disse que tinha outros projetos na frente e que iria demorar. Deixei a faixa guardada e fui tocando ela apenas nas gigs. Cerca de 7-8 meses depois, ele me mandou um e-mail pedindo as partes da faixa e dizendo que finalmente iria remixar. Ele é uma pessoa com muita humildade e bondade no coração, um artista que aprendi a admirar ainda mais após o contato profissional.

Sobre o processo de criação da faixa: Ela foi baseada em um sample de Violino que escutei em um royalty free sample pack, o modifiquei extensamente, construí harmonias por cima dele criando acordes e atmosferas. A versão antiga da faixa era mais grooveada e introespectiva, nesta quis deixar ela com uma vibe peak time, algo épico para encerramento de sets ou para clímax emotivos.Posso afirmar que o remix do Pryda para a faixa Meridian do Henry Saiz e Guy J, que foi lançada pela Bedrock no inicio desta década, foi uma grande inspiração para a concepção desta nova versão.

Agora em Junho temos o lançamento da primeira compilação mixada da Timeless Moment. Como foi desenvolver esse trabalho que tem uma pegada um tanto quanto old school?

Esta primeira compilação é um projeto que vem sendo planejado há quase 1 ano. Para uma compilação mixada fazer sentido, na minha opinião, ela tem que ter uma construção, um inicio, meio e fim. Conseguir assinar 11 faixas unreleaseds que se encaixavam com perfeição em um set mixado para uma coletânea, foi um trabalho de A&R longo e extenso.

Cresci dentro da musica eletrônica escutando artistas como Sasha, John Digweed, Nick Warren, Hernan Cattaneo e Gui Boratto em compilações mixadas como as do Global Underground, Renaissance e Balance. Também escutava muito as compilações In Search of Sunrise e Magik na época áurea do Tiesto. Para mim este tipo de formato sempre foi um grande meio para que o publico possa conhecer intimamente o gosto e a essência do artista, não apenas como produtor musical, mas também como DJ, seletor de musicas e descobridor de novos talentos.

Nelas, eu sempre descobria novos artistas e novas facetas dos meus ídolos. Após tantos anos neste segmento achei que era a hora de lançar minha primeira compilação mixada. Este tipo de projeto é um tanto quanto old school como você citou, mais ainda tem grande aceitação entre o publico do segmento. Timeless Moment será uma compilação anual, então no ano que vem já temos o Vol.02 confirmado. Uma dica aos produtores de plantão, já estou selecionando as demos, fiquem a vontade para enviar em demos@timelessmoment.com.br .

A faixa bônus da compilação, a única não exclusiva, do Guy Gerber e Dixon tem todo um significado especial para mim. Quando eu escutei esta faixa em 2014, ano de seu lançamento eu tive um grande estalo da minha vida profissional, que foi o de perceber que os maiores nomes do underground mundial estavam começando a produzir Progressive House camuflado em outros gêneros, principalmente chamando de Techno Melódico. Isso mudou toda minha concepção e a forma que enxergava alguns artistas de Techno e ampliou o meu mundo de pesquisa a níveis altíssimos. Ou seja, ela tem todo um valor sentimental para mim de descobrimento. A cereja do bolo veio quando apresentei este o projeto para Rumors e eles toparam relançar a No Distance. A ideia é que em toda a compilação eu apresente entre 10 a 11 faixas unreleased e uma relicenciada que represente algo na história da minha construção musical.

Para finalizar, uma pergunta pessoal. O que a música representa em sua vida?

A musica representa tudo. Representa todo o sentimento bom e ruim que existe dentro de nós. Ela tem o poder de gerar emoções e descobertas internas que me libertam e me confortam. Uma boa melodia, uma linda harmonia e uma letra que faz sentido geram sentimentos imortais, que serão resgatados sempre que você ouvir novamente. Para nós ouvintes, uma boa musica é um momento atemporal – Timeless Moment.

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