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Papo de Estúdio | Agrabah traz cinco dicas para a criação de um bom Edit

Por Ágatha Prado em Papo de Estúdio 21.04.2021

Você já deve ter escutado uma música que não foi feita para a pista de dança, e acabou imaginando como ela poderia se encaixar perfeitamente no dancefloor, se fosse possível realizar alguns ajustes em seu arranjo. Ou até mesmo, uma faixa produzida originalmente em determinado estilo que se tornaria ainda mais interessante se vestisse uma roupagem trabalhada em uma outra estética. 

Pois então, o Edit – ou Re-edit, Rework, Regroove, ou Bootleg -, é uma técnica já velha conhecida dos DJs e produtores musicais, utilizada para remodelar o arranjo de uma faixa pronta, acrescentando alguns elementos, recortando outros pré-existentes e reconstruindo um desenho novo e personalizado conforme a criatividade mandar. Os Edits se tornaram ainda mais populares dentro do universo do Funk, Boogie e Disco Music, resgatando pérolas perdidas em décadas passadas – muitas vezes com bases 100% orgânicas -, e remodelando para estéticas das pistas contemporâneas. 

Embora o processo de edição seja relativamente simples, existem algumas técnicas essenciais – que muitas vezes passam despercebidas -, e que fazem toda a diferença na hora de construir de um edit. Muitos alunos vieram me perguntar sobre esses “segredinhos” que fazem um edit parecer de fato uma faixa original, e tendo em vista a ausência de dicas centralizadas sobre esse processo de produção específico, decidi selecionar algumas das técnicas que utilizo tanto no meu alias Agrabah, quanto para os edits lançados através do meu outro projeto, Caju.

1. Análise do contexto estético

Acredito que esse é um dos primeiros pontos a observar em uma faixa que você pretende editar. Pergunte-se: qual estilo ela pertence? É uma faixa atual? É uma faixa antiga? Possui um loop de repetição? Qual parte da faixa te chamou mais a atenção? Qual parte da faixa você deseja cortar? Qual o padrão rítmico da faixa original?

Essas respostas vão te ajudar a encontrar um caminho inicial para a construção do processo criativo complementar. Muitas vezes o produtor tem um resultado em mente que a estética original da faixa não comporta, trazendo dificuldades para o desenvolvimento do Edit ou, até mesmo, gerando aquele resultado “artificial” ou “forçado” para a faixa.

Por exemplo, um samba geralmente possui um padrão rítmico (compasso) de 2/4, um blues normalmente se encaixa no padrão 12/8 e uma valsa no padrão 3/4 . Para transcrevê-los em um compasso padrão de música eletrônica, que tem base no 4/4, é necessário encontrar um denominador comum para essa transição, para preservar o groove original da faixa sem perder o flow. Aqui tem um passo a passo legal para você entender um pouco mais sobre esta transição, caso queira fazer um Edit de uma faixa com esses padrões.

No caso de uma faixa que possui um vocal extenso, sem padrão de repetição ou refrão, analise se os cortes que você pretende realizar não vão perder sentido dentro do seu trabalho.

2. Limpeza da track base

Esse segundo ponto, está diretamente relacionado com as respostas daquelas perguntas iniciais. Se a faixa que você pretende trabalhar for uma faixa mais antiga, ou sampleada de um disco de vinil, por exemplo, é interessante realizar uma equalização para uma limpeza prévia desta faixa ou amostra.

Se a faixa estiver um pouco abafada, é necessário dar uma atenção nas zonas frequenciais de presença da amostra (2500 Hz ~ 6000 Hz) para dar um equilíbrio ao resultado, e uma limpeza cirúrgica nas frequências ressonantes da faixa, utilizando um equalizador de fase linear. Outra ferramenta bem interessante é o Izotope RX. Ela possui algumas funções como atenuação de ruído, que ajudam a dar uma limpeza legal na faixa antes de você começar a trabalhar criativamente com ela.

3. Acapella Extractor

Extrair o acapella de uma faixa sempre foi um drama para os produtores. Muitas vezes era necessário uma longa cadeia de equalizadores e inversores de fase para, ainda assim, não obter um resultado satisfatório. 
O Acapella Extractor, assim como o Moises, permite remover os vocais, ou o instrumental da faixa (ou até mesmo parte dele), conferindo um resultado interessante. Claro que não vai ser aquela acapella perfeita, como uma faixa de estúdio, mas com alguns equalizadores, D-esser e compressores, você vai conseguir alcançar uma qualidade legal para trabalhar.  

4. Warp

Alguns produtores passam um pouco batido neste ponto, que quase que de forma unânime é considerada uma das partes mais cansativas do processo. Apesar do trabalho exaustivo de conferir se a faixa está encaixando no Grid, essa é uma etapa crucial especialmente se você deseja prolongar um loop do arranjo, ou recortá-lo e reordená-lo. 

Antes de começar o processo criativo, gaste um tempinho warpando a faixa base, independente do que você pretende fazer com ela, já que após ter feito este trabalho você pode alinhá-la ao BPM atual do seu projeto sem medo do “samba” ou de um possível looping fora de tempo. 

5. Preservação e Inserção de elementos

Feito todos os processos acima, é hora de colocar a criatividade para funcionar! É interessante entender a estética original da faixa para escolher o timbre dos elementos que você vai acrescentar, seja uma linha de bateria, ou um sintetizador. Se a faixa for mais antiga, da década de 70 ou 80, inserir uma linha de bateria muito moderna ou plástica pode soar um pouco artificial. Mas lembre -se, não existe um jeito certo ou errado, é uma questão de preferência ou ponto de vista.

Bônus

6. Finalização: Mix e Pré Master

Esta etapa ajuda a dar uma “cola” no resultado final do seu edit, deixando aquele ar de faixa original.  Para isso, é legal utilizar uma cadeia de processamento comum em todos os canais do projeto, conferindo assim uma unidade. No meu caso, gosto de utilizar um equalizador analógico que traga um pouco de coloração em todos os canais (claro que personalizando os parâmetros para cada um dos instrumentos), e um Tape Filter (gosto muito do Virtual Tape da Slate Digital, mas pode ser o Kramer Master Tape, ou J-37 da Waves também), para dar aquela nuance vintage no resultado.

No canal do master é interessante incluir um Glue Compressor para conferir uma “cola final”. Também gosto de acrescentar, um saturador com ajustes finos para “levantar” a presença da faixa (no caso, não desgrudo do Saturn da Fab Filter), além de dois tipos de equalizadores: um equalizador linear para um equilíbrio geral e um equalizador de coloração para leves ajustes.

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