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Papo de Estúdio | Gabriel Evoke compartilha dicas para produtores de Minimal House

Há pouco mais de dois anos, o DJ e produtor paulista Gabriel Evoke, atualmente também headlabel da Namata Records, colaborava pela primeira vez na coluna Papo de Estúdio, falando sobre produções mono compatíveis. O artista tem mais de 15 anos de experiência de pista e como produtor já experimentou produzir diferentes estilos. Hoje, porém, se encontrou mais do que nunca dentro do Minimal House, vertente que ganhou popularidade principalmente nos últimos anos e onde ele aposta todas as suas fichas, mantendo o ritmo de  lançamentos que já passaram por Purveyor Underground, Slightly Sizzled White e NOPRESET Limited.

A nosso convite, ele fala um pouco sobre as transformações que o Minimal passou e comenta algumas características de como trabalhar cada elemento na hora de produzir uma faixa do gênero:

Gabriel Evoke

Quem acompanha o mercado da música eletrônica de perto já deve ter percebido que, de tempos em tempos, os gêneros musicais vão passando por certas transformações. Basicamente, as características de uma linha de som se unem às de outra e dão origem a um subgênero. Esse subgênero, com o passar do tempo, também vai se misturando com outras influências até que se transforma por completo e dá origem a um novo subgênero. Confuso? Talvez. Porém, acredito ser um processo natural, importante e que mantém a cena criativa e interessante. Até porque é sempre bom ouvir algo novo para os nossos ouvidos. 

Acho fundamental que qualquer produtor estude as raízes musicais do gênero que pretende explorar. Aliás, como já deu para perceber, o presente nada mais é do que as heranças do passado “modernizadas”. Assim, vale apontar que lá no começo dos anos 90, na Alemanha, surgiu uma proposta musical chamada Microhouse, oriunda do Minimal Techno e do House, um som carregado de groove, samples recortados e elementos de glitch. Entre os precursores desse movimento temos Ricardo Villalobos e Michael Mayer. Com o passar dos anos, e algumas adaptações, o Minimal House surgiu. 

É importante observar que o Minimal House lá de trás é bem diferente do que temos acompanhado no mercado atual, um som menos purista e com misturas mais abrangentes de influências. Se você acessar o Beatport e analisar a sessão Minimal/Deep Tech vai perceber uma variedade de estéticas para uma mesma proposta musical, aliás, muitas vezes pode-se até confundir com o Tech House ou Deep House. 

Porém, têm algumas características que, particularmente, acho válido de levar em consideração – de faixas mais direcionadas a um warm up ou um momento de peaktime, e de tracks mais clean e polidas às mais raws e conceituais. Vamos lá!

Groove

Deve-se dar uma atenção especial no desenvolvimento do groove geral da sua faixa. Os diferentes grupos: bassline, drums, synths e vocais, devem estar em sintonia e trabalhando em conjunto. A técnica do “pergunta e resposta” pode ser uma ideia prática para trazer coesão a sua obra.   

Drums

Quando estiver criando as drums explore o swing e posicione os elementos fora do grid, isso vai humanizar o seu trabalho. Baterias quadradas, robotizadas, ou como queiram chamar, podem deixar o seu som com uma pegada artificial. 

Uma boa dica é buscar influência nas drums do Jackin House. Um exemplo? Ouça as tracks do Sidney Charles e veja o papel que esse grupo tem em suas criações. Ele mesmo cita que é o grupo com maior importância nas suas faixas e onde ele dedica o maior tempo desenvolvendo.  

Repararam que falamos de mais um subgênero buscando influência em outro subgênero?

Outra ideia é explorar os timbres da Roland Tr-909, drum machine da década de 80 com grande importância no desenvolvimento da House Music — olha aí o passado e o presente caminhando juntos novamente. Para quem não tem o hardware eu indico o pack de plugins Roland Cloud, da Roland, que inclusive inclui uma emulação da Tr-808 também. 

Trabalhar com saturação nas peças da bateria é interessante para os elementos soarem menos digitais. Combinar efeitos como Phaser, Auto Filter e Pan nos seus grooves de Hi Hat ou Shaker podem trazer um pira bem legal e interessante. Experimente!

Bassline

O bassline tem um papel fundamental nos meus trabalhos. Aqui a ideia é sair do convencional. Crie melodias que passeiam pela escala musical e não sejam monótonas. Descole as notas dos grids e explore os velocities. Humanize! 

Para produção dos meus baixos eu gosto bastante dos plugins Roland SH-101 e Rob Papen SubBoomBass. Já para hardware, o Moog Minitaur é muito bom. 

Synths

O grupo dos SY talvez seja o mais temido pelos produtores iniciantes pois, para se criar algo original, exige-se um certo conhecimento de teoria musical e sound design. Aqui a House Music se faz bastante presente. Instrumentos como Stabs, Chords, Pads e Strings trabalham em perfeita harmonia e dão aquele toque refinado às suas composições. Muito característico na maioria das faixas atuais do gênero. 

Uma dica valiosa é explorar as automações de parâmetros dos instrumentos – filtro, ADSR, LFO, entre outros. Os plugins de FXs como Delay, Pan e Reverb também são efeitos que devem ser bastante trabalhados e quando combinados na medida certa criam ambiências bem interessantes. 

O Minimal, como o próprio nome sugere, exige poucos elementos na sua construção, mas nem por isso as faixas deixam de ter movimento e dinâmica. Aqui os meus plugins preferidos são o Sonic Academy A.N.A, u-he Diva e Juno-106, da Roland.

Modulares

Os sintetizadores modulares também tem bastante destaque na estética do Minimal. Para quem não tem um Eurorack, que não é um equipamento barato e simples de se trabalhar, pode adquirir samples com essas timbragens pré gravadas. 

Samples

Não vejo problema algum em usá-los, desde que o artista os trabalhe de forma criativa – seja picotando, mudando tonalidade, BPM ou fazendo edições para que não soem exatamente como foram entregues no pack. É muito comum passearmos pelos charts do Beatport e ouvirmos diversas faixas exatamente com o mesmo sample. 

Lembre-se, originalidade e autenticidade nesse mercado contam muito. 

Textura / Background

É super interessante compor um background com texturas e toques de glitchs. Particularmente, não gosto de uma mix muito clean e esses elementos ajudam a dar aquela “sujadinha” boa. Inclusive são ruídos marcantes em faixas do Minimal raíz e acho importante conservá-los na estética do Minimal House atual.

Vocais

Vocais eu acho que fica a critério de cada produtor. Não use ou abuse. Mas, se usar, busque algo original, não acapelas de faixas famosas e hits dos anos 90. Isso é muito batido e nada criativo. 

FX

Particularmente, quando uso efeitos de transições, sweeps e noises, eles são bem pontuais e sutis.   

Para finalizar, acredito que o mais importante de tudo isso é o artista pôr a mão na massa, experimentar ideias e técnicas diferentes e, claro, se divertir. Tudo que fazemos com amor é real e prazeroso, então, bora produzir! 

A música conecta.

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