Por ANNA
Quando o Alataj me convidou para participar desse projeto e escrever como criar uma rotina no estúdio, dentre tantas viagens e compromissos pessoais, eu estava em um dos meses mais intensos da minha carreira – nunca toquei tanto como em Novembro e Dezembro de 2017. Mas, aceitei na hora sem pensar muito nos compromissos que já tinha, pois acredito que muita gente tenha curiosidade sobre esse assunto, que é recorrente nas entrevistas que tenho feito e em conversas com amigos. Vejo que a experiência varia muito de artista pra artista. Mesmo no caso de artistas muito ocupados, vejo cada um lidando com essa questão de maneira muito diferente.
Comecei a escrever a matéria com um dia de atraso, no prazo de entrega, justamente pelo fato de, pela primeira vez em 4 anos, ter conseguido tirar 3 semanas de férias. Desde o dia 1º de Janeiro eu estou no estúdio terminando um projeto full time e tive que escolher atrasar só um pouquinho algumas coisas pra poder terminar e me dedicar 100% a isso. Fazia tempo que não tinha dias livres pra poder me dedicar exclusivamente ao estúdio assim, sem ter que me preocupar com viagens, deadlines, lançamentos e tudo mais.
Vejo muitos artistas se queixando do fato de ter uma rotina de viagens muito pesada, e que isso acaba matando um pouco a criatividade. Fica difícil achar tempo pro estúdio, quando você tem dois ou três dias em casa antes de voltar pra estrada – eu entendo perfeitamente. Depois de sofrer um pouco em 2016, que foi um ano que lancei bastante música, viajei o mundo todo, e passei boa parte do ano com um problema de saúde, que me deixava muito cansada e sem energia. Não conseguia chegar em casa depois de uma tour na Austrália, por exemplo, e aproveitar os 3 dias que tinha antes da próxima viagem pra ir pro estúdio. Eu tinha deadline para entrega de remixes, EPs, alem de querer poder criar coisas novas, mas eu não estava conseguindo achar o balanço ideal entre cuidar de mim e trabalhar no estúdio.
Com o tempo eu consegui achar esse equilíbrio e por enquanto isso não é mais um problema pra mim. Quando estou em casa a minha prioridade é ir para o estúdio e quando estou viajando eu faço pesquisa musical, respondo entrevistas e faço essa parte mais burocrática, que também não é pouca. Prefiro produzir no estúdio, na minha sala, com os equipamentos todos a disposição. Geralmente volto pra casa com mais inspiração e disposição para criar, depois de uma semana de gigs, especialmente se vi algum artista que me inspirou, ou se a gig teve uma energia especial, isso sempre acaba servindo como estímulo pra trabalhar em algo novo. Mas é cansativo, não vou mentir… as vezes temos que escolher entre dormir ou finalizar uma musica, e as vezes não temos escolha, pois você tem um prazo pra entregar um remix ou um EP e há um voo as 7 da manha, isso acontece muito frequentemente.
Se eu chegar ao ponto em que se tornou impossível ter alguns dias no estúdio na semana, eu provavelmente vou tirar 1 final de semana por mes, pra poder me dedicar a isso. Pode parecer pouco, mas em 2017 eu não tive um final de semana de folga. Muitos artistas planejam fazer isso, mas ai aparece uma gig muito importante e não queremos perder a oportunidade, ou uma gig que estão pagando muito além do normal e não tem como declinar… os dias off acabam sendo deixados pra depois. É o que acontece com a maioria dos artistas, principalmente os que estão em ascensão, que acabam não querendo deixar nada passar por medo de perder uma grande oportunidade.
Conversei com o Chris Liebig por exemplo e ele me disse que tira um final de semana de folga por mês pra poder passar mais tempo com os filhos. Outros me disseram que fazem a mesma coisa, pois não aceitam não ter esse tempo no estúdio, que também é uma paixão que não querem sacrificar. Pra mim, tão importante quanto achar tempo pro estúdio, é o tempo que me dedico a me conectar com você mesma, pra cuidar de mim e da minha mente. É muito importante estar no estúdio com a mente tranquila, sem problemas. Preciso ter forças para me desconectar de qualquer chateação ou preocupação e estar com a energia certa. Eu acredito que a energia que tenho no momento que estou produzindo, é a energia que a música ira transmitir. Pra isso eu medito bastante, faço yoga, cuido da minha alimentação. Me dedico muito a me conectar com Deus, com o universo, com a consciência, cada um chama de um jeito… mas é a fonte de toda criatividade, inspiração, sabedoria e amor que temos.
A gente não escolhe quando a criatividade vai aflorar, o que podemos fazer pra que ela venha cada vez melhor é a pesquisa musical, aperfeiçoar a técnica e esperar ate que aquele momento mágico venha. Isso muitas vezes acontece quando estamos em tour, num quarto de hotel, no avião… então é importante ter algumas ferramentas portáteis com que você se sinta confortável o suficiente pra conseguir reproduzir as ideais, e depois finalizar no estúdio.
É totalmente possível fazer uma musica só com um notebook e plugins nativos de um DAW, mas vou falar de alguns plugins e equipamentos pequenos, que ajudam muito e que uso muito. Pra criação, o pacote V Collection da Arturia, o synth Diva da U-He e o Reaktor da Native Instruments vão muito bem. Já para efeitos e tratamento, o pacote da Sound Toys, e também o da Eventide, além dos plugins Omega da Kush, que emulam os transformadores presentes no circuito de pre amplificadores conhecidos, como, API e Neve, são bem bons. A plataforma UAD também é relativamente portátil e pra mim são os melhores plugins de processamento. Já na parte de controllers, o Beatstep Pro da Arturia é bem portátil e pode ser conectado por USB apenas, uma ótima solução pra quem gosta ou precisa produzir on-the-road.
Meu processo de criação e workflow já passou por várias etapas. Quando comecei a produzir, em 2008, eu só tinha um notebook e usava exclusivamente plugins. Meu marido por exemplo, produziu o último EP quase todo dele, que sera lançado no Drumcode, exclusivamente on the road. Ele produz bastante quando viaja, sempre chega em casa com algo novo e só finaliza no estúdio. Hoje temos bastante coisa em hardware no nosso estúdio e acabamos usando praticamente só eles na parte da composição. Mas, isso é questão de gosto… hoje com os plugins que existem, você é capaz de atingir praticante a mesma qualidade de som tanto com plugins como em hardwares.
Eu acredito que o hardware estimula mais a criatividade, principalmente quando estou sem idéias ou travada em alguma música, acho mais divertido. Muito raramente uso samples, tudo é feito nas drum machines, synths e samplers externos. Acho importante e mágico você ter um som que é só seu, o seu diferencial, é muito bom criar um timbre novo, único, e com uma qualidade especial. Vejo isso como uma forma de respeito e de agradecimento a quem vai as gigs.
Alguns dos frutos do trabalho no estúdio do ano passado serão lançados agora no primeiro trimestre de 2018. Dia 26 de Janeiro tenho um EP saindo pela Kompakt e em Março tem mais um pela Clash Lion. É isso, equilíbrio é a chave para a longevidade!
A música conecta as pessoas!
Lembre-se:
O encerramento da SPM18 acontece sábado com um workshop exclusivo do Núcleo Atlas em parceria com o Alataj. L_cio apresenta seus conhecimentos em torno do assunto construção de live act. Saiba mais aqui.