Falar sobre a atuação de Mary Olivetti na música partindo pela ótica de seu rico legado familiar musical pode até ser o caminho mais confortável, mas não necessariamente dimensiona quão poderosa sua relação particular com a arte se desenvolveu e como esta relação a transformou em uma seletora e produtora musical de mão cheia.
Natural do Rio e atualmente morando em Amsterdam, Mary segue somando ingredientes ao caldeirão de referências que a conduzem dentro e fora dos palcos. Uma mistura inteligente e bem equilibrada de House, Soulful, Deep, Disco, Boogie, Bossa Nova e Jazz, que poder sentida, ou melhor, escutada, em seus lançamentos, como no mais recente deles, um remix para Monday, um clássico escondido, lançado em 1983 pela dupla Directory, formada apenas por Robson Jorge e Lincoln Olivetti.
Mary já esteve conosco por aqui em outras ocasiões, mas agora retorna para uma nova colaboração. A nosso convite, ela separou 10 arquivos secretos de sua pesquisa. Faixas que ocupam um lugar realmente especial quando o assunto é uma pista quente e em movimento genuíno. Aumente o volume e vem pra pista com a gente:
Paul Older – Loop Story
Paul Older é conhecido por trazer um toque nostálgico às suas produções, e Loop Story não é exceção. Esta faixa, lançada há poucos meses, foi uma descoberta recente para mim durante minha última viagem ao Brasil, em Julho. Sabe quando você dá o play e, mesmo sem saber onde a música vai te levar, já sente que precisa comprar? Foi exatamente isso que aconteceu. O timbre das teclas, o loop do baixo subindo e descendo, e o beat envolvente fazem dela uma faixa altamente hipnótica e dançante.
Jimpster & Matt Masters – Dub Come Down
Essa faixa é realmente especial; já perdi a conta de quantas vezes a toquei. Umas 30, talvez? Lembro bem da noite em que abri a pista do Caos para o Lee Foss e toquei essa no meio — foi uma loucura, no melhor sentido. Ela tem todos os elementos que adoro em uma track: ecos, reverbs, uma percussão bem trabalhada, além dos belos pads, que são marca registrada do Jimpster. E, claro, uma linha de baixo profunda que segura a faixa do início ao fim.
Ripperton, Headless Ghost – Let’s Fall (Deetron WP Remix)
Sou muito fã do Deetron; ele tem uma sensibilidade melódica infalível. Let’s Fall traz uma cor especial para os meus DJ sets. Essa faixa é perfeita para aqueles momentos em que estamos tocando tracks muito retas e sisudas, e precisamos de uma quebra com mais melodia. Confia em mim, funciona sempre!
Dyone – Only Love Can Set U Free (Bicep Remix)
Este remix tem quase 10 anos e, desde seu lançamento, não tiro da case. O piano crescente dos anos 90 é infalível, e o arranjo é simplesmente belíssimo, ótimo para a pista. Costumo usá-lo em momentos mais emocionais, como no final dos sets, por exemplo. Já vi Carl Cox, Dimitri From Paris e Joey Negro (ainda “Negro” neste episódio) tocando essa faixa.
Kroose – Free My Soul
Essa faixa tem um sabor de sol e verão. Lançada há um mês, comprei para tocar no aniversário da Cardume em São Paulo e fez sucesso. Garage House bem produzida, animada e positiva — o tipo de música que adoro.
Orlando Voorn – Be with You (Crackazat Remix)
Um golaço da dupla; estes dois nunca erram. Sou particularmente fã do Crackazat, que sempre traz uma house raiz com elementos novos e uma mistura necessária. Be with You (Crackazat Remix) é uma reinterpretação moderna e cheia de groove, com a marca registrada de Crackazat: uma fusão impecável de house e jazz.
Bizio Cool – Born Again
Born Again é uma faixa que eu gostaria de ter produzido. Tem instrumentos tocados por músicos, uma harmonia bonita e uma narrativa clara com começo, meio e fim. Quando tocada na hora certa para as pessoas certas, pode ser um estouro — e eu já vi isso acontecer 😉
Dominic Martin, Hiro – Dom in That Groove
Dom in That Groove me lembra momentos muito especiais. Sempre que preciso emocionar a pista, solto ela (mas é preciso saber o momento certo). Chorei ao tocá-la na Colours, na volta da pandemia — foi absurdamente lindo. Essa aqui é “Secret Files” mesmo, ou era 😉
Robert Owens, Photec – Mine to Give (David Morales Happy Mix)
Um clássico de 2000, com muita classe. Poucas pistas o entendem, mas são nessas que quero estar. Lembro de uma vez que a toquei na Lux Frágil em Lisboa. Havia uma menina linda bem perto de mim que me olhava, agradecia e cantava a música inteira, felicíssima. Isso não é lindo?
Marc Evans – The Way U Love Me (DJ Spen’s Killer Klub Mix)
Tenho visto muitos DJs reviverem esta masterpiece de 2009 e tenho adorado, ela definitivamente voltou. Todo o EP é fantástico, mas este remix do Spen me conquista especialmente. Foi uma época excelente para a House Music, com muitas coisas acontecendo em paralelo, e tocar essa faixa me remete a momentos muito bons.