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A música conecta

Sneak Peek | Khruangbin

Volte uma casa e leia comigo: Krun-g-bin (sem pronunciar o “a”.) Não, o nome do projeto não está com erro de digitação, é isso mesmo, nessa vibe bem excêntrica. Afinal, logo mais, vocês irão perceber que a célula principal deles é justamente o diferente, o que vai além do nome esquisito, díficil de escrever e pronunciar e faz o povo do Marketing Digital chorar.

O projeto texano, que começou a jornada no final dos anos 00, encapsula um monte de referências estilísticas da World Music underground, por assim dizer. Em uma tentativa de categorizar, o que se nota é uma mistura multiétnica de gêneros como Soul, Funk, Rock Psicodélico, Dub e Reggae, Eletrônica ou, para resumir de um jeito bem caricato, “quase que uma trilha sonora de um filme do Tarantino”, como dizem. Definitivamente é um desafio rotulá-los – escute e entenderás. E por falar em entender, Khruangbin é uma palavra de origem tailandesa, que significa “avião”. O que faz sentido quando pensamos na abrangência sônica que Mark Speer (guitarra), Laura Lee (baixo) e Donald “DJ” Johnson (bateria) condensam aqui. World Music, que coloca diversos sons no mesmo balaio. 

O que torna a história ainda mais diferentona é que Speer e Johnson faziam parte da banda de uma igreja em Houston. Nessas andanças excêntricas do mundo musical, conheceram Laura Lee e assim nascia a banda. Além do apelo musical, há um composé muito interessante na apresentação. Suas roupas, suas perucas e o jeito de se portar no palco, tudo causa a impressão de que eles não pensaram em nada, mas não assim. Afiados até nisso – ao menos a galera do MKT concorda que o branding aqui é bem redondinho. 

Mas muito além do sucesso – que é inevitável, tamanha a criatividade musical presente – o trio tem uma conduta bem bacana frente ao combate à xenofobia e são reconhecidos por curar playlists de sons de países como Irã, Afeganistão, Tailândia e Turquia. Como eles mesmos se chamam, são nerds musicais focados em promover união e um mundo menos dividido por fronteiras, principalmente nos Estados Unidos, onde esse tipo de preconceito é bem comum. Por essa razão,  as sonoridades destes países comumente aparecem em suas criações. Tem até Brasil no bolo. Aliás, tem de tudo nesse bolo e aí o avião faz todo sentido, não é?

Seu primeiro álbum de estúdio, The Universe Smiles Upon You (2015), baseia-se na história da música tailandesa e é um LP leve, que enaltece cada papel do projeto. Já o segundo álbum, Con Todo el Mundo (2018), tem influências da Espanha e do Meio Leste e mostra uma versão mais rítmica deles. Mordechai, que saiu em 2020, traz fagulhas de diversas partes do mundo, com influências africanas, indianas, vietnamitas, alemãs, tchecas, mexicanas e muitas outras culturas, além da presença dos vocais. Aula de geografia que chama? Bom, ela não se limita só aos LPs, já que eles tem alguns singles e EPs no currículo como o Late Night Tales, as tracks gravadas no Spotify Studios e a collab com Leon Bridges (muito boa por sinal). 

A essa altura você deve estar pensando que temos aqui um baita projeto ou então um saladão de música. Na verdade, os dois pensamentos estão corretos, mas, paradoxalmente, acaba não sendo uma banda para todos os ouvidos, visto que a mistura de sons deixa tudo meio exótico, sem linearidade. Se você desprender tempo para ouvir, vai captar essa fuga dos padrões. É nessa vibração que eles se destacam rapidamente por onde passam, principalmente depois que seu conceito é revelado. Essa foi a sensação que reverberou quando fizeram suas passagens pelo Brasil, especialmente a última, em 2019. Iggy Pop e Jay-Z são fãs declarados, por exemplo. Mas pare para prestar atenção nos arranjos aqui. Uma viagem total que gera fãs. Você provavelmente é um.

E, ao que tudo indica, Bonobo (a.k.a Simon Green), também é. A banda cruzou seu caminho anos atrás e eles acabaram encabeçando a nobre missão de abrir o show de um dos projetos de Downtempo mais emblemáticos do mundo, o dele. Mas desde que começou o passeio, a tal banda diferente do Texas segue quebrando paradigmas. A pausa em casa não foi suficiente para desmotivá-los da importante missão de fazer música para aproximar pessoas e culturas e, como de praxe, trazer algo distinto e que escapa do óbvio – algo tão substancial para a manutenção da arte. Com o mundo dando os primeiros sinais vitais do que parece ser o começo do fim de pandemia (amém), fica o convite para renovar seus ares e mergulhar na psicodelia do Khruangbin.

A música conecta.

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