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A música conecta

Sneak Peek | Sébastien Tellier

Uma das coisas admiráveis na música é a possibilidade de poder seguir por diversos caminhos e, por essa razão, engessar-se não deveria ser uma escolha. A ciência já explicou que, além de fatores culturais e subjetivos, o gosto musical se dá através da forma que seu cérebro decodifica o som e também por questões anatômicas de sua caixa craniana. Ok, o som se torna verdadeiramente particular, com mudanças sutis ou bem relevantes, mas isso não significa que você não pode testar de tudo um pouco. 

Curiosamente esse devaneio acima se encaixa muito bem com o conceito dos artistas que trazemos para esta coluna. Logo, com Sébastien Tellier, não será diferente. Cantor, compositor, produtor e multi-instrumentista, ele pode ser considerado um dos artistas franceses mais importantes da última década. Com seu estilo irreverente e enigmático, o artista entrelaça acordes como um maestro e parece ter uma fonte inesgotável de ideias. Ideias excêntricas, diga-se de passagem. Tellier flerta diretamente com a música eletrônica a la French Touch dos anos 90, mas não abre mão de um alto teor instrumental em suas faixas e apresentações, além de canções eufônicas, às vezes filtradas, inseridas no mesmo balaio. Por essa razão, rotulá-lo como ‘incógnita’ é mais plausível do que marcar um personagem tão musical como sendo “isto” ou “aquilo”.

Prova disso é a quantidade de álbuns que brevemente serão apresentados. O álbum debut nomeado de L’incroyable Vérité (2001) traz misturas interessantes entre os mundos, uma densa referência aos cabarés franceses e Eletrônica, puramente. Quase todos os instrumentos são tocados por ele – não me perguntem como. O artista fez uma turnê extensa com o Air, duo de música eletrônica influente na cena francesa nos anos 90/00. Os álbuns subsequentes – Politics (2004), Sexuality (2008) – vieram com objetivos bem claros, sendo esse último produzido por Guy-Manuel de Homem-Christo do Daft Punk e que traz uma sequência mais polida em comparação aos demais álbuns. E como fazer música parece ser algo corriqueiro para este homem, My God Is Blue veio em 2012, Confection em 2013 e L’Aventura, em 2014. Esse, por sua vez, chama a nossa atenção já que traz tonalidades do Brasil. Sons familiares, porém bem requintados – do jeito que o gringos gostam. Música pra caramba.

Em paralelo a tantos álbuns, o artista também assinou algumas trilhas para filmes franceses. O que não é nada surpreendente, visto que sua abordagem sonora orquestrada combina muito bem com a narrativa do cinema. Além disso, compôs todas as canções do álbum homônimo de Dita Von Teese, em 2018 – fatos que justificariam um jejum de álbuns autorais. Em 2020, monsieur Tellier voltou para o estúdio e trouxe Domesticated, um álbum com a decodificação de uma rotina mais tradicional vivida por ele. Caseiro sim, descansando nunca: no mesmo ano, ele lançou um álbum intitulado Simple Mind, no qual fez covers de várias faixas-destaque de seus álbuns anteriores. 

Meu encontro com Sébastien Tellier foi naquele acaso algorítmico, presenteada com uma indicação da emblemática La Ritournelle em um Daily Mix. É o tipo de música que você deixa rolando para ver no que vai dar, mas definitivamente não espera o que vem pela frente. É uma música com um desfecho incrível. Ela é crescente, intensa, progressiva e estimulante. Eu devo ter ouvido ela no repeat por um tempo considerável depois que entendi sua grandeza e sempre mostro ela para as pessoas. Mas atenção à dica que vem agora: você precisa estar totalmente presente para entender o que vai acontecer abaixo:

Mas como na vida a música tem encontros que a gente nem mesmo sabe, já havia cruzado com ele em Electroma, o filme do Daft Punk. A canção Universe é um dos destaques no filme. Outro highlight interessante é o sample da música La Ritournelle usada pelo cantor The Weeknd em Kiss Land, fatos que só vieram à tona agora, pesquisando e escrevendo sobre – vida de redator tem dessas. E para concluir essa história cheia de criatividade e ousadia, me deparei com um single recente do artista: Feels Like Summer foi lançado mês passado, após Birthday Boy e quem sabe elas sejam a deixa para você começar a explorar esse som que traz a escola francesa de música eletrônica misturada à riqueza de uma instrumentalização precisa adornada por belas canções.

A música conecta.

A MÚSICA CONECTA 2012 2024