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A música conecta

Sneak Peek | Thundercat

Uma das coisas que mais sinto saudade sobre ir a um festival é a possibilidade de fluir livremente e desbravar novos territórios sonoros. Afinal, você é motivado a ir por conta daqueles nomes especiais que estampam o flyer, pode ser um, dois ou vários, mas se você é um geek nesse lifestyle sabe que sair do programado e cair “por acaso” naquele palco ou pista pode ser uma mina de ouro. 

Tá, eu sei, fácil não é, mas foi exatamente numa dessas que eu trombei com o Thundercat. Foi movida por essa energia misteriosa que nos guia em festivais, que decidi dar uma banda e cai no palco chamado Mojave. Era um fim de tarde no deserto e eu praticamente fui atraída pela melodia. Não era bem um Jazz. Mas pensando bem, era algo novo sobre o Jazz, como algo contemporâneo, já que era perceptível o uso de recursos eletrônicos também. Como o foco era viver o presente, eu fiquei lá para curtir. E adivinhem só? Um baita show.

Hoje, a Sneak Peek, em um tom super nostálgico, vai falar de Stephen Lee Brune, mais conhecido pelo nome que consta no título dessa coluna, mas podemos dizer que no meio musical ele é bem conhecido pelo seu talento. Baixista, cantor e compositor de Los Angeles já fez algumas parcerias potentes em sua trajetória como Flying Lotus, Erykah Badu, Kamasi Washington e Kendrick Lamar. Esses são só alguns bons exemplos e para chegar até isso.

Nascido em uma família de músicos, o artista começou a tocar baixo aos 15 e rapidamente deu passos interessantes. Seu pai, Ronald Bruner, Sr., tocou bateria com Diana Ross e os Temptations, então, pode saber, a música está em seu DNA. Fez um breve sucesso na banda No Curfew e logo após, se juntou a seu irmão na banda Punk de Los Angeles Suicidal Tendencies (off topic: o outro irmão faz parte da banda The Internet) e aí, começaram as collabs com músicos renomados. Lançou seu primeiro álbum solo em 2011, The Golden Age of Apocalypse e o segundo em 2013, intitulado Apocalypse. O terceiro veio em 2017, Drunk.

Após um breve hiato em estúdio para lançar um álbum, o artista começou a trabalhar na divulgação  de seu novo álbum. Um dos singles que abalou as estruturas foi Black Qualls com Steve Lacy, Steve Arrington e Childish Gambino. Em 2020, o último single Dragonball Durag e seu clipe emblemático vinham ao mundo para anunciar a finalização do projeto It is What It is. Um álbum impecável para quem já o devorou e uma mistura equalizada entre passado e presente. 

Um dos fatos mais vivos na minha memória era justamente essa sensação dual que senti em seu show. De um lado eu tinha aquela paisagem clássica do Jazz com arranjos elegantes e uma vibração leve de Soul e Funk – como o artista diz, vindas das suas inspirações e samples de Miles Davis, Mary Lou Williams e Ron Carter -, e constantemente relacionado ao baixista Jaco Pastorius. Do outro lado, essa camada fresh muito sutil que mistura referências e elementos diversos, se desprendendo de rótulos e não seguindo cartilhas. É um mestre no baixo e sua voz tem um efeito certamente calmante em quem o escuta.

Sabe a história do talento? Não é opinião pessoal. Em 2016, ele ganhou um Grammy de Melhor Performance Rap por seu trabalho com Lamar e em 2020 voltou a ganhar um Grammy, desta vez, como Melhor Álbum de R&B Progressivo.

Ainda no famigerado ano, seu single Fair Chance, tributo ao amigo Mac Miller, com Ty Dolla $ing, Lil B, chamou bastante atenção pela versatilidade que ressoou em outras praças, tendo um remix feito por Floating Points com um resultado bem interessante.

Aliás, a versatilidade não está só no teor criativo musical, mas nele em geral. O artista tem um jeito excêntrico e até meio lúdico de se vestir, mas se você deu uma conferida nos vídeos, então sabe do que estou falando.

Foto por Carlos G/The1point8

Thundercat claramente está na linha de frente da nova guarda musical que mantém a essência do Jazz viva, reverencia grandes mestres, mas que não se permite engessar-se ou viver de saudosismo. O mundo muda, evidentemente, a música muda também. Então, se você curte um som jazzístico elegante, se fascina ao ouvir Soul, adora o groove do Funk, mas prefere sonoridades modernistas, esse definitivamente é um nome para você.

A música conecta.

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